— Jay? O que está fazendo aqui tão cedo? — disse Will ao irmão assim que notou o detetive.

— Eu vim verificar o cara do beco. Ele ainda é uma peça importante — Jay respondeu, olhando para Lissie ainda concentrada no caso.

Will nota onde está o olhar do irmão no trabalho da nova médica.
— Está tudo sob controle.

— Estou vendo — respondeu Jay, ainda observando a médica com atenção. — Raramente se encontra alguém que mantenha esse ritmo sem perder a calma.

— Ela não precisa de elogios — disse Will, quase sem querer sorrir. — Apenas funciona.

Quando o paciente foi encaminhado para cirurgia, Jay se aproximou, cuidadoso.

— Doutora Carter.

Ela virou o rosto para ele, sem perder o ritmo de checar materiais deixados sobre a bancada.

— Sim?

— Impressionante o que fez ali. Não é comum ver alguém manter o controle assim.

Ela ergueu uma sobrancelha, quase divertida.

— Experiência em outros lugares ajuda. E, sinceramente, não tenho opção de perder tempo com hesitação.

Jay assentiu, aceitando a resposta. O tom dela não tinha falsa modéstia, mas também não era arrogante. Apenas um dado de realidade. Ele ficou com a impressão de que havia muito mais sob aquela superfície, mas não insistiu.

As horas seguintes correram em um ritmo constante. Um acidente de carro trouxe múltiplas vítimas à emergência, e Lissie se mostrou novamente o centro da organização. Coordenava com eficiência, designava tarefas, supervisionava cada detalhe. O ambiente caótico não parecia atingi-la; cada comando era dado na medida certa, sem necessidade de elevar a voz.

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Quando a última vítima foi encaminhada para exames, Lissie se permitiu um instante de pausa. Durante seu intervalo, Lissie se dirigiu à sala de descanso, onde Maggie já a aguardava com duas canecas de café.

— Parece que você sobreviveu à primeira metade do turno — disse Maggie, estendendo uma das canecas.

— Ainda falta a segunda metade, e essa cidade adora testar limites — respondeu Lissie, aceitando o café.

Maggie sorriu, compreendendo o tom sério e o pequeno lampejo de humor que ela permitia. Elas conversaram brevemente sobre protocolos, atualizações de casos e ajustes da equipe, sem que nenhum outro soubesse da conexão familiar de Lissie. Esse segredo era respeitado com cuidado absoluto.

Enquanto isso, Will passou pelo corredor, acenando discretamente. Lissie o reconheceu e respondeu com um breve sorriso, suficiente para demonstrar cordialidade, sem quebrar a seriedade de seu trabalho. Entre eles, começava a se formar uma parceria natural: confiança mútua, respeito profissional e compreensão tácita do ritmo do outro.

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À tarde, outro chamado crítico mobilizou a equipe: acidente de carro com múltiplas vítimas. Lissie assumiu o comando da triagem, organizando rapidamente o fluxo de pacientes, designando tarefas e supervisionando cada passo com precisão.

— Trazer a vítima com fratura exposta primeiro. Analgesia, monitoramento cardíaco e respiração constante — orientou, mantendo a voz firme, mas sem elevar o tom.

April estava ao lado, pronta para executar, e Maggie observava satisfeita, garantindo que a equipe seguisse os protocolos. Lissie não precisava falar mais do que o necessário; a autoridade vinha de cada gesto, de cada decisão tomada com clareza.

Quando o último paciente foi encaminhado para exames, Lissie finalmente respirou fundo. O plantão ainda não havia terminado, mas a sensação de controle e organização dava uma rara tranquilidade.

Jay, novamente observando de fora, notou a diferença. Não havia exageros, nem tentativas de chamar atenção; apenas competência e foco. E, mesmo assim, algo sobre ela o fez sentir uma estranha familiaridade — como se ela estivesse, de fato, no lugar que sempre deveria estar.

Depois disso, Jay retorna ao Distrito com os relatórios do dia. O ambiente parecia mais calmo que o hospital: café frio nas canecas, papéis empilhados, teclados batendo rápido. Atwater revisava depoimentos, Hailey digitava no computador, e Ruzek se esticava na cadeira, entediado.

— E aí, Halstead? — perguntou Ruzek, levantando a cabeça. — O cara do beco?

— Está melhor. Estável na UTI. A médica de ontem cuidou bem dele — respondeu Jay, largando a jaqueta na cadeira.

Atwater ergueu os olhos dos depoimentos.

— Médica nova?

— Doutora Carter. Primeiro dia ontem, hoje já segurando emergência pesada. É boa no que faz.

Ruzek abriu um sorriso malicioso.

— Boa no que faz… ou boa de ver também?

Antes que Jay respondesse, Kim Burgess, que acabava de chegar, bateu no ombro de Ruzek.

— Sério, Adam? A mulher parece ser nova aqui e é só nisso que você consegue pensar?

Ruzek ergueu as mãos, defensivo.

— Calma, só uma observação.

Jay balançou a cabeça, meio constrangido, mas não negou. A imagem dela, firme e segura, ainda rondava seus pensamentos. Ele preferiu voltar ao relatório, mas a conversa não passou despercebida pela equipe.

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Já pela noite, o hospital começava a acalmar. Lissie estava sozinha na sala de descanso, revisando prontuários. A luz fraca iluminava o cansaço em seus olhos, mas não apagava a determinação. Chicago ainda carregava ecos de seu passado, mas agora, no presente, ela podia trabalhar em paz e formar laços que, aos poucos, surgiam sem depender de sobrenomes.

O segredo sobre sua volta, mantido apenas entre Maggie e Sharon, proporcionava segurança, mas também um peso silencioso: precisava equilibrar sua vida profissional, os relacionamentos que começava a construir e a distância que mantinha do pai e do mundo policial.

Uma mensagem de Will no celular trouxe um breve sorriso:

“Sobrevivemos ao turno de hoje. Café amanhã cedo?”

Lissie digitou rapidamente a resposta:

“Confirmado. Mas não chegue atrasado. Café frio não perdoo.”

Ela guardou o telefone e olhou pela janela, vendo a cidade que havia mudado, mas ainda assim familiar. Chicago podia ser imprevisível e intensa, mas pelo menos naquele momento, ela estava exatamente onde precisava estar. E, silenciosamente, ela sabia que a cidade ainda tinha muito a oferecer — e muito a testar — antes que qualquer segredo viesse à tona.

Invisible StringWhere stories live. Discover now