Enquanto coordenava a equipe, o detetive mais próximo, Jay Halstead, observava em silêncio. Ele já esteve naquela emergência muitas vezes, mas raramente notava os outros médicos. Dessa vez, notou. Não sabia se era o jeito como ela coordenava tudo com uma precisão surpreendente ou talvez como aqueles fios dourados semi-presos emolduravam aqueles olhos verdes tão atentos. Havia segurança no jeito de segurar os instrumentos, uma certa calma em meio a esse caos.

Jay pensou em quantas vezes tinha visto pessoas hesitando em situações assim. Aquela mulher, não. Parecia estar totalmente preparada, como se já estivesse ali há anos.  O nome que ouviu Maggie usar indicando que aquele era o primeiro dia — Carter — ainda ecoava em sua mente. Mesmo no primeiro dia, aquela médica já imprimia um estilo próprio. E algo nele dizia que a mulher por trás daquele uniforme era maior do que parecia.

Pouco depois, quando o paciente estava sendo encaminhado para cirurgia, Halstead se aproximou.
— Doutora Carter?

Ela se virou para ele, os olhos ainda atentos ao corredor.
— Sim?

— Jay Halstead. Detetive. Obrigado pela resposta rápida. A gente precisa muito que esse cara sobreviva.

— Vamos fazer o possível — respondeu ela, lançando um olhar rápido na direção do paciente — e ainda acrescentou com um leve sorriso de canto: — Mas não dá pra fazer propaganda antes da hora. Chicago adora estragar surpresas.

Jay arqueou a sobrancelha, surpreso com o comentário. Estava acostumado a médicos sérios, defensivos. Aquela mulher, mesmo sob pressão, ainda tinha espaço para humor.

— Primeiro dia e já no meio de um tiroteio. Chicago é intensa.

— Mas nunca entediante — retrucou ela, antes de seguir com a equipe.

Halstead ficou por um momento a observá-la, como se tentasse decifrar algo que ainda não havia sido dito. Não havia frieza, apenas limites claros. Mas também havia uma energia que ele reconhecia: a de quem já carregava histórias, mesmo sem contá-las. Já tinha visto nos olhos de colegas, de vítimas, de pessoas que tentavam recomeçar em Chicago sem carregar o passado.

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Algumas horas depois, a cirurgia terminou. O paciente estava estável na UTI, embora ainda em risco. Lissie aproveitou a sala de descanso dos médicos para atualizar o prontuário digital.

Will Halstead entrou discretamente, segurando uma caneca de café.
— Você foi bem lá fora. Para o primeiro dia, já entrou com o pé na porta.

Lissie ergueu os olhos e sorriu, cansada, mas leve.
— Melhor assim. Se eu sobreviver a essa semana, o resto do ano vai ser tranquilo.

Will riu.
— Essa é a filosofia correta para trabalhar aqui. — então ele se aproximou — Sou Will Halstead. Vamos nos ver bastante por aqui.

— Halstead? Então você é irmão do detetive que me abordou mais cedo? — Lissie perguntou, arqueando a sobrancelha.

— Sim — Will respondeu, balançando a cabeça. — Mas não me culpe por isso. A teimosia dele não tem nada haver comigo.

Lissie riu, o primeiro riso genuíno desde que pisara no Med. Então ela esticou o braço, pegando o café da mão dele sem pedir.
— É o que vamos ver.

Will também sorriu, e pela primeira vez naquele dia, Lissie sentiu que o hospital podia ser mais do que um trabalho: podia ser um lugar onde ela realmente se encaixaria.

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Um tempo depois, do lado de fora, Jay Halstead passava pelo corredor. Ele tinha ficado para acompanhar o estado da vítima, e, sem perceber, seus passos o levaram até a porta onde ela estava. Parou por um segundo, apoiando-se na moldura, os braços cruzados.

Invisible StringWhere stories live. Discover now