Um novo começo

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– Nós precisamos ir para lá?
– E se for uma emboscada? E se eles pegaram Jace e os demais?
– Milton? – Tracie pergunta interrompendo Trina, Eileen e Troy. Todos estavam na cozinha da casa de Tracie, agora o cômodo parecia pequeno demais para onze pessoas.
– Bom... – ele dá de ombros. – Eles sempre foram receptivos, Rick e os demais sempre mantiveram a paz entre as comunidades. Mas não sei dizer se isso acabou depois do que aconteceu.
– Não sei se vocês ouviram, mas eles estavam pedindo ajuda. – Trina protesta tentando ajuda de todos daquela cozinha.
– Não. Alexandria estava, Jace deixou claro. – Tracie diz com tom serio, eles a encaram não acreditam no que ela dizia.
– Qual é, Tracie! – Trina bufa pedindo ajuda à Adam. – É o Noah, o Jace e o Nick e Peter. Temos que ajuda-los!
Tracie encara todos. Ela sabia que era voto perdido, mas ela não queria deixar que o grupo se arriscasse mais do que tudo nos últimos dias. Tracie não podia arriscar mais do que aqueles quatro que mandou pra fora.
– Eu e Adam vamos. – ela diz por fim e todos reclamam juntos. Não seria justo aquilo, ainda mais se precisassem de ajuda e só duas pessoas fossem. – Tá bom, tá bom. – ela diz tentando acabar com o alvoroço.
Tracie encara Adam. Ele estava parado atrás dela encostado na pia com os braços cruzados. Ela pede ajuda para ele, que dá de ombros com um sorriso encantador.
– Aí? Haymitch acha que conseguimos mais um carro além da caminhonete?
– Posso tentar achar um. – ele responde com a voz um pouco rouca. Haymitch e Milton comemoravam todas as noites a parceria dos dois, com garrafas de vinho escondidos da adega de Pamela. Se continuassem assim iriam ter que procurar outro lugar as bebidas.
– Tudo bem, Milton você vem porque conhece o caminho e Troy. – Adam diz apontando para os dois, e então que as reclamações começam.
– Eu quero ir também. – Tracie e Adam encaram Joel, sem acreditar. Antes que os dois dissessem não ele continua. – Estou cansado de ficar em segurança, vocês sabem que posso ser útil igual Troy.
– Tudo bem. – Adam responde sem encarar Tracie, sabia que ela estava o fuzilando. Ele sabia que Joel estava preparado para o mundo, que ele não era mais o garoto ingênuo e indefeso, Adam sabia que estava na hora de Joel crescer.
– Se ele vai eu vou também.
– Não mesmo. – Tracie diz seca. Ela aponta o dedo para Trina e o ergue em sinal de ordem
– É o Noah, porra.
– Isso é injusto não acha que eu também deveria? – Eileen questiona sem precisar ressaltar que é a esposa de Jace. – E vocês sabem que tenho a melhor mira.
– Se for assim é o meu filho que esta lá! – Madison protesta. Tracie estava arrependida de mandar justo aqueles quatro, ele fecha os olhos pressionando a testa.
– Pessoal? – Haymitch tenta chamar a atenção deles. Quando os protestam aumentam, Adam assobia ensurdecendo o grupo. – Obrigado Adam. Vamos ser práticos, é óbvio que não podemos mandar tantas pessoas, precisamos de alguns aqui.
Ele diz gesticulando com as mãos, Haymitch os encara até todos concordarem. Ele dá uma piscadinha para Adam e Tracie.
– Adam, Tracie e Joel vão com a caminhonete. Troy leva Milton e John em outro carro, os demais ficam aqui. – o grupo volta a protestar fazendo tumulto, Haymitch ergue os indicadores ordenando silêncio. – Eu disse, os demais ficam aqui. Partiram hoje!
Haymitch dá as costas saindo da casa, ele não falaria mais nada mas impediria de mais alguém sair que não fosse do grupo. Haymitch não precisava arriscar mais pessoas, precisava da ajuda delas para reerguer a comunidade se quisessem viver ali, e ele sabia que escolheu os mais fortes pra caso precisassem de ajuda.
Eles se dispersam insatisfeitos, Troy e Adam vão com Haymitch encontrar um carro que esteja funcionando. Milton pede licença e sai ate seus aposentos arrumar uma pequena mala e carregar sua arma, ele não sabia se iria ser bem vindo em Alexandria ou Hilltop depois de todo esse tempo. Tracie manda John e Joel arrumar suas coisas, enquanto ela faria a mala dela e Adam, ela decide ser generosa e arrumar as coisas de Troy. Quando desce com as três mochilas para a cozinha, percebe que Adam já carregou os carros com armas e seu arco e flecha.
Adam e Troy entram na cozinha, Tracie faz carinho se despedindo do pastor-belga, o cão estava grande já tinha chegado aos cinco anos e ela temia em levar à esses lugares.
– Tudo certo, Troy pode levar nossas coisas? – Adam pede à Troy que segura as três mochilas juntas, ele encontra John perto dos carros e esperam por Haymitch e Miles com o combustível.
– Trina de vez não vai falar comigo. – Tracie diz encostada na pia da cozinha enquanto observa os meninos colocando combustível nos carros. Trina estava sentada na escada de cara fechada, enquanto Madison e Eileen conversavam.
– Boa parte delas não vai. – ele dá de ombros dando um risadinha. Tracie sorri, Adam se aproxima ficando de frente para ela. – Trie? – ele a chama, Adam pensou muito em como começar essa conversa, era um assunto delicado do qual ele evitou tocar nos últimos dias. Mas sabia que estava na hora. – O que aconteceu naquele hospital?
Tracie o encara, ela morde o interior da bochecha, sabia que Adam perguntaria. Ela tentou fugir o máximo que conseguiu para não ter essa conversa, porque sabia que para ele não ia conseguir mentir. Tracie balança a cabeça dando de ombros.
– Sabe que pode confiar em mim, né?! – ele pergunta e Tracie concorda. Mesmo depois de anos juntos, Adam tinha que perguntar da sua lealdade.
– Elijah iria mata-lo. – ela responde tentando não lembrar ou chorar. Adam suspira com força e entreabre a boca. – Ele é imune.
Adam pisca algumas vezes, ele assim como Tracie sabia, tinha desconfianças, mas nunca ouviu de certeza aquilo. Talvez não quisessem acreditar ou que isso fosse tornar Joel especial, e consequentemente ficaria ameaçado. Adam franze o cenho, o semblante carregado quando pergunta como aquilo era possível.
– Joel recebeu sangue infectado quando mais novo, e parece que sofreu uma anomalia. Elijah acreditava que se tirasse da medula dele, faria um antídoto, sei lá.
– Seria possível? – Tracie dá de ombros, não sabia mais no que acreditar e pensar.
– Acredito que não, Joel era doente quando recebeu o sangue. Ele tinha anemia falciforme. Na minha opinião, talvez outra pessoa doente conseguiria ser salva com o sangue dele. – os dois se encaram, aquilo era a confirmação que os dois andavam com a cura à sete anos ao lado.
Adam sabia que Tracie tinha matado Elijah sem ela precisar confirmar, ele conhecia ela bem demais para saber que só o fato do próprio pai querer mata-lo seria um motivo. Tracie não queria que isso se espalhasse, que ninguém soubesse, e particularmente Adam também não. Ele não queria que todos soubessem que Joel era especial e que isso o tornaria um alvo, tornaria o garoto valioso.
– Ninguém pode saber disso, além de nós dois. – ele diz fazendo Tracie sorrir aliviada, enquanto segura o choro. Adam se aproxima pousando suas mãos nos ombros de Tracie. Ele desce as mãos para os braços e Tracie sente seu corpo relaxar, era bom poder compartilhar aquilo com alguém que confiava.
Tracie o encara, tudo passa por sua cabeça. A primeira vez que se viram, que se tocaram, que dormiram um ao lado do outro, que riam, que um salvou o outro. Das vezes em que Tracie desejou seu melhor amigo, ou quando ele disse alguma coisa que a derretia por dentro. Tracie consegue ter boas lembranças, e ela sente falta de quando era mais humana ao lado dele.
– Adam? – ela chama fazendo ele se concentrar nela. Seus olhos castanhos escuros a encaram, as pupilas dilatadas e um olhar cheio de esperança e amor. – Me promete que nunca vai me abandonar?
Ele sorri com ternura, era esses os momentos de paz que fazia valer a pena lutar um pelo outro. O reconforto de ter um porto seguro, Adam e Tracie se mantinham vivos um pelo outro.
– Eu não vou a lugar nenhum, linda. – ele diz com um sorriso malicioso. Tracie cora e tenta não sorrir, ela balança a cabeça alongando o pescoço.
– Quanto tudo isso terminar vou precisar de férias.
– É acho que merecemos. Eu e você em um lago o que acha? – Tracie sorri sem jeito mas pela primeira vez um sorriso de verdade, de felicidade.
– Sargento Donovan, está tentando tomar banho comigo? – ela provoca e Adam se aproxima, pousando suas mãos na pia ao lado do corpo de Tracie, impedindo que ela saia.
Era como se eles tivessem voltado no tempo, há uns sete anos atrás quando se provocavam e tentavam arrancar sorrisos, um do outros. Mas sempre com uma pontada de verdade.
– Ah pode ter certeza, é uma desculpa para te ver molhada. – ele dá um sorriso malicioso, Tracie sussurra seu nome. – Só estou flertando com você.
Ele diz baixinho, Tracie sente o hálito quente de Adam, eles se olham com desejo tão intenso que sabem que querem um ao outro mais do que tudo. Os dois se encaram tempo suficiente de Joel entrar na cozinha.
– Eca! Vocês me dão nojo. – eles se afastam rápidos de mais. Adam pigarreia e encara o adolescente. – Por que não ficam de uma vez e acabam com isso? – Adam e Tracie se encaram, ela sai da cozinha envergonhada enquanto Adam a segue para fora.
Joel fica parado ali na cozinha segurando sua mochila. Ele suspira e coloca a mão no bolso da jaqueta marrom, Joel segura mais uma vez o pedaço de papel que Elijah tinha lhe dado. Joel estava mais perto de descobrir sobre a morte do seu pai, depois que viu o corpo de Pamela caído na sala da frente do hospital, sem mordida nenhuma e não ter visto nenhum infectados ate o estacionamento do hospital, ele pensava muito nos acontecimentos daquele dia.
Joel tinha certeza que Tracie havia matado Pamela, e algo dizia que ela fez muito mais. Por isso Joel pediu para ir junto, foi por isso que ele ficou escondido na escada ouvindo a conversa dela com Adam. Os dois só não imaginavam que o jovem tinha acabado de ouvir que era imune e que Elijah queria mata-lo. Motivo suficiente para Joel não ver o corpo do pai naquele dia.
Joel iria descobri, custe o que fosse.
Ele se despede do cachorro e sai da cozinha, deixando a porta de tela bater. Joel vê Trina se recusar se despedir de Tracie, ela acena para todos e abre a porta da picape azul, Adam veste seu colete sobre a blusa vermelha e vai para o lado do motorista. Joel se despede de Haymitch e Madison, antes de entrar na caminhonete ele vê Troy de óculos de sol escuro e um sorriso largo no rosto, ele da a partida e sai pelo portão, junto com Milton e John.
Os três partem em seguida, seguindo o Jeep preto. Joel vê pelo retrovisor os portões fecharem e sorri, era como uma aventura, mas ele tinha um propósito. Ao longo do caminho que os dois carros seguem, o sol estava fraco e indicando o começo do inverno. Adam dirigia com os cabelos ao vento e o braço de fora e Tracie relaxava no banco ao lado de Joel, que trocou de lugar e estava sentado entre os dois. Entediado ele mexe sem parar no rádio que Trina instalou para Adam. Os ruídos e chiados não param um minuto, ele não teria a mesma sorte que ela de sintonizar alguma coisa.
– “Ron... eles...” – os três se entreolham, Adam troca a mão do volante e tenta ajudar Joel a sintonizar o rádio.
– Não acredito que essa velharia funciona – ele diz orgulho de si mesmo por fazer o radio transmitir alguma coisa.
Ele volta a mexer, quando Adam solta o botão.
– “Sussurradores... vindo para Alexandria”. – Era uma voz masculina ele tentava chamar alguém por Ron, e deixou bem claro o aviso pelo rádio. Tracie encara o aparelho e vê o semblante de Adam, enquanto gira o botão de um lado para outro.
Então o mais estranho acontece, um ritmo toma conta do alto falante e a letra da música que toca diz: “eu estou pegando a estrada com melhor amigo, eu espero ele nunca me deixar cair novamente, nunca quero cair”.
– É Never Let Me Down Again. – Adam diz antes de pisar no acelerador.

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