Phillip - Dois anos atrás

9 2 0
                                    

Eles sentiam a mesma coisa, eram como um único sistema, o que um sentia o outro também. E naquele momento quando olhavam para Phillip, todos sentiam raiva. Jace havia prometido que Phillip seria dele, ele teria o prazer de mata-lo olhando em seus olhos, como ele fez com April. Mas a bala o parou, o tiro acertou no ombro e ele caiu, por sorte Eileen o puxou para longe.
- Deixa eu ver. – ela diz ofegante em meio aos disparos, Troy aparece sobre o muro com o rifle dando cobertura.
- Como que você tá? – ele bate no ombro ferido de Jace, fazendo ele gritar. Troy veio atrás deles depois do olhar preocupado de Tracie.
Jace se debate impedindo Eileen de ajuda-lo. Enquanto ela estapeia suas mãos na tentativa de tirar a sua velha jaqueta vermelha de couro.
- Deixa eu ver porra! – ela o segura e ergue a camisa, Eileen não consegue deixar de notar a cicatriz abaixo da costela, a mesma que atravessa a suas costas. – Não pegou em nada, consegue andar?
Jace acena com a cabeça, o suor escorria do seu rosto e a dor ardia enquanto o liquido espesso escorria pelo ombro. Ele levanta e tenta sair dali, Troy coloca seu braço sobre o ombro na tentativa de ajuda-lo a andar.
- Cara! – Jace se afasta assustado. – Eu levei um tiro no ombro, não no pé.
- Só tava tentando ajudar. Ingrato!
- Eu tô bem! – ele olha para Eileen e se arrepende. – Quer dizer, tá doendo pra caralho, mas ainda consigo andar. – os três tentam sair dali ilesos, eles sabem que quem estiver na casa iria se virar muito bem.
- JOEL?! – Troy chama pelo garoto que segura um rifle perto de um dos carros que deixaram estacionados atrás da cerca, d que um dia foi uma casa.
O garoto de quinze anos sai do veículo e corre ao encontro deles. Joel relutou bastante para que Tracie e Adam deixassem ele ir junto, o jovem queria provar parar eles que já não era mais uma criança indefesa e podia ajudar.
- Dá cobertura! – Troy diz se virando para disparar contra os tiros da casa. Joel encara o sangue escorrer do ombro de Jace, ele dá a volta pela cerca se escondendo atrás da placa de metal.
Ele respira fundo, enquanto seus dedos tremem ao destravar o rifle. Ele aponta em direção a janela e começa os disparos, liberando a passagem de Jace, Eileen e Troy.
Os três seguem para longe dos muros onde a caminhonete de Haymitch estava estacionada, não havia sinal dele ou de Noah, muito menos Tracie e Adam. O grupo havia se separado há muito tempo.
Tracie assim que viu Phillip entrando na casa o seguiu, ela atirou uma faca pequena na sua direção e por azar ela cravou na palma da mão dele. Phillip segurou a mão dolorida e correu escada acima, ela o seguiu tão determinada que não notou um dos caras de Phillip correndo atrás de si.
Tracie escutou os corpos se chocando no chão, Adam tinha finalmente conseguido derrubar Roney e Bob quando viu Herb correndo atrás de Tracie. Ele correu contra ele e os dois caíram longe da sala. Adam subiu nele o impedindo de se mexer enquanto eles brigavam.
Quando finalmente Adam se levantou, ele encarou Herb. Seu corpo imóvel, não sabia se estava respirando mas o rosto estava inchado. Ele andou mancando pela casa destruída e quase vazia, pensou em subir as escadas e procurar por Tracie e Phillip, quando ouviu passos do fundo do cômodo.
- Mãe? – era Noah. Ele andava procurando Sussanah cômodo, por cômodo. – Mãe? – ele chamou novamente e desapareceu. Adam tentou chegar o mais rápido nele, mas sua perna machucada não ajudava.
Os tiros finalmente pararam. Ele tinha visto Eileen e Troy carregando Jace para fora. Sabia que poucos do seu grupo ainda estavam ali, e isso incluía Noah.
- Noah? – ele chamou da porta e parou.
Noah estava paralisado encarando Sussanah. Ela estava sentada, com a cabeça pendendo de um lado e com as mãos amarradas. O garoto correu até sua mãe, implorando para que ela acordasse. Mas o que chamou a atenção de Adam foi outra coisa, um infectado morto, caído no canto da sala.
- Adam, me ajuda. – ele foi até eles e enquanto Noah desamarrava os pés de Sussanah, Adam constatou o pior. Havia uma mordida no ombro dela, o sangue escuro tinha escorrido pelo braço e ela estava desacordada, ou pior.
Adam se aproximou tentando ouvir ou sentir a respiração de Sussanah. Nada.
- Noah – ele chamou fazendo o garoto parar. Adam estava mais perto, prestando muita atenção quando foi pego de surpresa.
Os grunhidos o fizeram dar um passo falso para trás, ele se desequilibrou e caiu. Noah se levantou em um pulo e encarou assustado a mãe. Seu olhos já estava esbranquiçados e sem vida, ela tentava se mexer, mas as mãos continuava presas. Por fim ela olhou para o filho, abriu a boca e fechou, em uma tentativa sem sucesso de morde-lo.
- Eu sinto muito. – Adam diz levantando. Noah assente e não se mexe. Talvez ele estivesse em choque, sem acreditar ou entender como ela havia se transformado.
Mas não. Noah estava apenas com raiva e triste. Aquela história que passa um filme pela cabeça da pessoa após ela ter um encontro com a morte, era verdadeira. Na cabeça de Noah passou todos seus momentos com sua mãe, das vezes em que ela o levava para a escola, nas férias quando viajavam ou quando só simplesmente assistiam a um filme qualquer.
A sensação de tremor o invadiu ao perceber que havia ficado sozinho no mundo, como boa parte das pessoas que conhecia. Noah estremeceu mais quando percebeu que nunca mais veria sua mãe, seu sorriso, ouviria sua voz ou seus conselhos. E ele se odiava por lembrar da última vez que se viram, e que pensou como foi inútil desabafar com sua mãe.
Ele remoeria aquilo até o fim de seus dias.
- Noah? – alguém chama por ele. Noah não desvia o olhar e a atenção de Sussanah. Ele estava tendo uma lembrança especifica de quando saiu do acampamento com Nick.
Sussanah o abraçou tão forte e disse que o amava, acho que foi a última vez que ele ouviu aquilo, e não teve a decência de responder direito.
- Noah, eu sei que é sua mãe. Mas se quiser enterra-la temos que ir agora. – Adam diz com cautela se aproximando de Noah. – Os infectados ouviram os tiros, eles vão vir a qualquer momento. – Adam engole a seco e pousa a mão no ar quando Noah ergue a arma na direção da cabeça do que um dia foi Sussanah.
Sua mão treme, ele engole o choro ignorando os olhos lacrimejarem. Noah respira e aperta o gatilho, a bala atravessa a testa de Sussanah e sua cabeça é jogada para trás. O sangue escorre pelo rosto fazendo o infectado parar de grunhir.
- Isso não é minha mãe. – ele diz saindo da sala.
Adam olha para o chão. Ele segue o rapaz para fora, ele sabe que precisaria procurar por Tracie, mas não consegue deixar Noah em um momento difícil. Adam tem certeza que Tracie entenderia e daria conta.
Tracie seguiu Phillip ate o segundo andar ela havia perdido as facas, armas e até seu arco, estava só com uma flecha e mesmo assim não parou quando Phillip ergueu a walther 99 na sua direção.
- Achou mesmo que uma garota ia acabar comigo?
- Corajoso apontar uma arma para mim. Com medo Phillip? – ela pergunta entrando no mesmo cômodo que ele.
- Você não sabe com quem tá se metendo. – ele diz rindo enquanto seu rosto suado e os olhos apavorados demostram a loucura tomando conta do seu ser. Era fácil, era só Phillip destravar a arma e atirar, um tiro na cabeça de Tracie acabaria com tudo.
Eles podiam ficar enrolando, ambos tentando ganhar tempo. Se fosse com qualquer outra pessoa talvez, mas não com Tracie. Ela sentia raiva, sentiu medo e dor, e sentia que April não teve tempo. Tracie corre em sua direção segura o cano da arma com a mão e a joga longe, ele a chuta, Tracie segura sua perna e chuta com força, quebrando os ossos da perna.
- Você é fraco Phillip. É movido pelo medo. – Tracie tira a flecha de sua costas e apunhala no peito de Phillip.
Ele abre a boca e da um passo para trás batendo as costas na parede. Tracie gira a flecha e afunda mais um pouco, Phillip senta no chão e o sangue começa a escorrer do seu peito.
- E vai pagar por tudo o que fez. Pelo que fez com April, e todos os outros. – Tracie tira a flecha e Phillip começa a tremer, ele sente medo e aos pouco fraqueza, alguma coisa se esvaindo dele.
- Eu precisava sobreviver. Acha que não tentaram acabar comigo? Com o meu povo. – Tracie o encara semicerrando os olhos, ela pega a walther e destrava – Você acha mesmo menina que sou o único vilão por ai? Eu sou a ponta do iceberg que você vai encontrar. Eles são uma colmeia, uma grande colmeia que vão destrui-los mais rápido do que pensa.
- Do que esta falando?
- Eu fiz de tudo para sobreviver, assim como você. - Phillip tosse com força, tanto que seus pulmões parecem explodir. - Não somos tão diferentes assim, Tracie. - ele sorri com os dentes ensanguentados, o sangue da perfuração começava a subir para a boca. - E se eles... nos encontraram... vão encontrar vocês... também.
Tracie aperta o gatilho, dois disparos na testa. Phillip a encara com os olhos abertos. Tudo o que ela encontrasse de Phillip, daria um fim. Ela joga a arma nos pés dele e encara suas mãos sujas de sangue.
Isso não era nada bom.
Ela se vira lentamente para a porta e se detêm. Joel esta parado na porta, segurando a alça do rifle no ombro enquanto encara boquiaberto Phillip. Ele engole em seco e pisca algumas vezes até conseguir encarar Tracie.
Tracie não sabe o que dizer, a cara assustada de Joel impedia que ela conseguisse se defender ou explicar. Ele sabia como Tracie era, mas não esperava que fosse tão cruel e fria. Os dois se olham.
- É melhor nos irmos. – ela diz por fim. Joel dá um passo para trás, dando passagem a ela e isso a machuca profundamente.

Dias SombriosWhere stories live. Discover now