Infectado - Cinco anos atrás

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Tracie andava nervosa de um lado para outro, com os braços cruzados enquanto rói as unhas da mão. Ela faz muito isso quando esta nervosa ou pensativa, um hábito que ela adquiriu quando ainda era criança. Sarah tentou fazer com que ela perdesse esse costume, mas tudo o que tentava dava errado, por fim ela tentou se convencer que mais velha, Tracie iria parar de roer as unhas. Ela estava errada.
Já fazia uma hora e meia que estavam presos ali na sala, quando os zumbis estavam prontos para deixar o local, o cão no colo de April late, chamando a atenção deles. Foi ai que tudo deu errado, eles tentaram todas as entradas e quase derrubaram o armário, foi então que Adam, Jace, Luke e Sean começaram uma brigar contra eles, para manter a porta fechada.
O cachorro latiu de novo, deixando eles mais atiçados e foi então que um deles tentou entrar, Joel o empurrou com a ajuda de Sean.
– Joel! – Tracie grita o puxando para trás. Ele sentiu o arranhão no braço, Tracie olha espantada e percebe que o único que viu além deles, foi Luke. Joel cobre o braço sentindo a dor ardida, o sangue já começava a escorrer.
Ele fica preocupado e olha para os lados desesperado que mais alguém tenha visto, mas nessa hora o mesmo zumbi pega no braço de Sean. A mordida foi dolorosa, ele sentiu o vírus queimando sua pele e se instalando pelo sangue, o grito virou um uivo choroso e desesperado, e o sangue se espalhou por toda a entrada.
Sean viu Luke o olhar receoso pronto para empurra-lo para fora. Para sua sorte Tracie viu a mesma coisa e sem pensar duas vezes, puxou tão forte a cabeça do zumbi que ela se desprendeu do corpo e o peso da porta a decepou, liberando o braço de Sean.
– Coisa nojenta! – Jace chuta a cabeça podre e ensanguentada para longe. Os olhos esbranquiçados se fecham e ele para de se mexer.
Tracie olha para Joel, ele abaixa a cabeça e cobre o arranhão escondendo o braço para trás. Ele assente lentamente com a cabeça para ela, afirmando que está bem. Joel sabe que agora precisa tomar cuidado e com sorte, talvez Luke não tenha visto o arranhão, ou não conseguiu entender em meio à confusão.
– Você tá bem cara? – Luke pergunta e Sean ergue o braço mostrando a mordida. O sinal por onde o vírus passou debaixo da pele já deixava marca escuras por suas veias. Era apenas questão de horas até ele chegar ao celebro de Sean.
Agora já tinha se passado quinze minutos e Sean estava sentado no chão com o corpo encostado na parede, tentando não morrer enquanto gemia de dor ao parar o sangramento. Ele se pergunta porque isso foi acontecer com ele, e porque nenhum de seus amigos o ajudou. Ele pensa nas pessoas que perdeu e no que ele se tornou, poderia ter sido uma pessoa melhor, mas não. Todas suas escolhas e decisões o levaram para esse dia e agora.
Todos encaravam Sean, com medo dele se transformar a qualquer momento, eles sabiam que estava condenado, não teria salvação ou cura. Mesmo se tirassem metade do seu braço, já estava por todo seu sangue e circulação. Ele ouvia os sussurros de Keyden e Elliot, e quando estavam decidindo se o matava ou não.
Sean sente mais um tremor, ele percebeu que a cada sete minutos seu corpo começa a ter espasmos. Ele não gosta do que esta sentindo, seu corpo inteiro doía, cada músculos, ossos e órgãos, era como se cada pedacinho seu fosse esmagado. Ele fecha os olhos encostando a cabeça contra a parede, em sua mente vem uma única lembrança, do dia em que conheceu a praia com sua mãe. Ela era linda, seus cabelos longos oscilavam com o vento, o vestido florido tinha cheiro de lavanda. Ele lembra de segurar a mão dela enquanto entrava na água fria e sentia as ondas na altura dos joelhos.
Sean ri e abre os olhos, ele treme sentindo frio, resultado da febre. Ele tosse e sente o gosto de cobre e enxofre na boca, tosse mais uma vez cuspindo sangue escuro e espesso.
– O que nos vamos fazer? – Troy pergunta para o irmão enquanto puxa seus cachos para baixo, ele coça a barba por fazer.
– Em relação a que? Sair daqui?
– Não, cara. Sean. – responde apontando para o companheiro. Os minutos passavam cada vez mais e sua aparência não estava nada boa, Sean estava pálido e o suor escorria pelos cabelos até a testa.
– Por que acha que vamos fazer alguma coisa? – Luke questiona o irmão. Sean havia sido mordido era um fato, e não tinha nada que eles pudessem fazer, não a essa altura.
– Ele está se transformando. Não quero estar aqui quando ele virar uma daquelas coisas. – Tracie observa os dois, a semelhança é nítida exceto pelos cabelos, e por um não querer matar o amigo deles, e o outro estar desesperado em saber que pode morrer, se o jovem se transformar.
– A porta é bem ali. – Tracie responde estreitando os olhos. Ela não devia se meter no assunto, tinha acabado de conhecer todos eles e já estava com vontade de atirar em todos.
Mas uma coisa era certa que ela notou, dos seis amigos do rapaz apenas um não o queria morto, e principalmente, nenhum deles o ajudou ou tentou demonstrar apoio. Isso para ela era errado, não se abandona seus amigos.
– Qual é garota? Você nem conhece a gente! E se não fosse por vocês e esse cachorro idiota, nada disso teria acontecido.
– Troy! – Luke o repreende segurando seu braço. Ele estava cheio das estupidezes do irmão só desse dia.
– A gente tem que resolver isso! – ele encara o irmão esperando por uma resposta. Troy sempre foi conhecido por fazer coisas estúpidas e agir por impulso, mas ele estava com medo dessa vez e não faria nada sem a permissão de Luke.
– Deixa comigo! – Louis diz sacando a Colt 4.5 mm. Ele aponta o cano da arma na direção da cabeça de Sean, mesmo com a mão tremendo ele consegue mirar no meio da testa do amigo.
– Ninguém vai atirar em ninguém, aqui! – Tracie diz entredentes ficando na frente da arma e bloqueando o rapaz que acabou de conhecer. Seu semblante carregado e os olhos furiosos.
– Você ia atirar em mim agora a pouco. – retruca Elliot apavorado tentando se defender. Para um homem de vinte e tantos anos, ele parecia assustado com a ideia de uma jovem atirar em sua cabeça.
– É e ainda vou se não calar a porra da boca. – Tracie ameaça dando um passo em sua direção. Elliot recua na mesma hora, ele dá um passo para trás de Luke, na esperança que ele o ajudasse.
– Tracie! – todos protestam ao mesmo tempo tentando acalmar a jovem que segurava a arma com tanta força, que seus dedos ficavam roxos.
Louis por outro lado, olhava a situação como um problema. Era evidente para ele que o rapaz caído no chão estava morrendo, e a única coisa que ainda o mantinha naquele estado era Tracie.
Sean tosse novamente o sangue, deixando os lábios pretos e ele começa a ouvir seus amigos rindo dele naquela situação. Ele sabia que era degradante, Sean não havia sobrevivido por quatro anos para morrer assim. Ele tinha passado por muita coisa antes de conhecer Troy e os rapazes, ele se deu bem com todos, Miles, Elliot, Louis e principalmente Keyden, que tinha se tornando seu melhor amigo.
– Parem! – ele diz com a voz fraca, não estava gostando das risadas debochadas e nem das piadinhas que Keyden fazia com a situação dele. Keyden sempre estava fazendo piada com tudo, mas agora rir por ele estar sangrando, não tinha nenhuma graça.
– Se você não der um jeito eu dou. – Louis diz dando um passo na direção de Adam, ele levanta ficando na frente de Sean que olha para todos com os olhos tristes e o rosto apático.
Louis destrava a arma com o polegar e antes mesmo que chegue ate um deles, Tracie o encara com o olhar cheio de ódio.
– Se aproxima dele e vai estar morto antes de cair no chão. – Louis recua amedrontado, não sabendo o porquê. Se era o fato de Tracie segurar o cabo da faca com força, ou o sangue seco em suas mãos.
– Psicopata – Miles sussurra baixinho. Seus olhos arregalados percorrem as mãos de Tracie mais uma vez. Tracie tinha acabado de salvar um cara que acabou de conhecer, que foi mordido, decapitando um zumbi com as mãos.
– O que foi que você disse? – Tracie pergunta andando rápido na direção de Miles. Adam a segura pelo braço, impedindo que Tracie cometa mais um erro, enquanto Miles se esquiva para trás de Luke.
Eles começam a discutir, Louis e os meninos acham que precisam dar um jeito em Sean antes que se transforme. Tracie não acha ser uma boa ideia mata-lo, pelo menos não ainda, e Adam é claro que concorda com ela. Ela só não acha que atirar em Sean vai resolver as coisas, eles ainda estão trancados e vão continuar por causa do som da arma.
– Olha eu sei que ele é amigo de vocês, mas não adianta atirar nele agora. Não vai mudar nada. – Tracie encara Sean, ele olha para baixo piscando devagar. Sean não está se sentindo bem e agora parece que seu estômago está vazio.
– Ela tem razão, o mais importante agora é sairmos daqui. – Luke concorda com ela, afinal ele nunca quis isso e não quer matar um amigo próximo. Ele não é o único, Keyden também decidiu que não queria isso.
Ela e Adam procuram por uma saída ou solução para aquilo, mas cada metro quadrado da locação está cercada por mortos-vivos infectados. Cada maldita entrada, cada fresta não tem por onde eles saírem, pelo menos não com vida.
– Eii, amigão! Tudo bem? – Keyden pergunta para Sean, ele se abaixa próximo de Sean e encara sua boca escura de sangue, seus olhos também estão ficando vermelhos, na parte branca do globo ocular.
– Eu estou... – Sean tenta dizer, mas um acesso de tosse toma conta de seu pulmão que agora já está sujo com a toxina do vírus. Sean tosse tanto que vomita. Uma pasta branca e amarela, com pedaços da sua última refeição.
Troy dá um passo para trás, Miles e Elliot finamente decidem ficar junto do amigo. Sean tenta dar um sorriso fraco e sente o vazio no estômago aumentar, ele estava começando a ficar com fome. Seus amigos tentam abraçar e conforta-lo e pela primeira vez que foi mordido, Sean não está se sentindo sozinho, ou com medo.
– Eu estou faminto. – Sean finalmente consegue dizer, ele poderia e comeria facilmente um x-burguer. Ele sente todos os pares de olhos o encarando. Troy dá um sorriso triste e se aproxima dele. Eles sabiam que estava no final, o vírus já tinha passado pela fase intoxicação alimentar digerindo tudo o que encontrou e agora são questões de minutos até ele chegar ao celebro.
– Lamento! – ele consegue dizer enquanto segura sua mão. Sean não queria morrer, ele estava se sentindo seguro e amado pelos companheiros.
A porta de entrada oscila, os zumbis ainda insistem invadir o local, Jace e Adam tentam segurar o armário, com a ajuda de alguns do outro grupo. Sean não quer morrer, mas ele entende que não quer morrer assim, sentando e debilitado. Não quer morrer como uma daquelas coisas até levar um tiro. Sean queria morrer lutando, queria que seus amigos se sentissem seguros e protegidos, como ele se sente.
– Eu tiro eles daqui. – Sean se levanta com ajuda de Keyden. Ele olha para Tracie, seus olhos já estavam vermelhos na órbita. Ele não sabe o nome da garota que o tentou ajudar, que impediu que o matassem, que lhe deu mais alguns minutos de vida. Sean se sentia grato e queria retribuir.
– Sean, não.
– Troy, tire eles daqui. Todos. – ele agradece Tracie com um olhar. Não queria saber seu nome, isso o prenderia aqui e seu momento heroico e corajoso iria acabar. Mas o pior, é que ele nunca saberia que Tracie tentou ajuda-lo, para ninguém reparar no braço machucado de Joel.
Eles tentam protestam, tentam impedir. Mas Sean finalmente está pronto para se sacrificar por seus amigos. Está pronto para partir.

Dias SombriosWhere stories live. Discover now