Os trilhos - Dias atuais

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Tracie limpa discretamente a lágrima que escapou. Ela cruza os braços, tentando esconder o sorriso.


- Tá chorando por mim? - Adam pergunta depois de um longo gole da água. Ela balança a cabeça negando e franze os lábios, tentando esconder o sorriso.


- Vai a merda. - Tracie estava contente. Mais do que o normal, nesses dias. Pela primeira vez não sentia tanta dor no machucado que finamente começava a se fechar, e depois de um dia e meio, Adam finalmente estava consciente.


- Admiti que me ama e isso acaba! - ele brinca puxando a ponta do cobertor que caiu do ombro. Sua aparência estava horrível, seu olho esquerdo vermelho e roxo, não abria de tão inchado que estava. No lábio o corte profundo deixava maior do que o normal e na sobrancelha, pontos improvisados que já não precisava mais.


Adam havia se recuperado bem, ainda doía quando se mexia ou tentava andar, uma das suas costelas estava quebrada, o que explica os hematomas roxos. Joel e Tracie improvisaram uma cama em um dos carros abandonados da oficina, deixaram o mais confortável que podiam e até cobertor encontraram para Adam.


- Vai ficar bem? Porque se disser que não...


- Eu já falei. Estou bem, acredite em mim. - Adam insiste enquanto toma o resto da água pelo canudo plástico.


- Só me prometa que vai ficar aqui e não tentar nada estúpido?! - ela diz se aproximando de Adam.


- Não vou! Dou duas horas para vocês. - ele diz segurando a mão de Tracie e a puxando para mais perto. - Agora vem e me de um beijo!


Ela torce os lábios tentando não sorrir. Tracie puxa os cabelos curtos de Adam para trás, fazendo ele rir. Ela encosta seus lábios no topo da cabeça de Adam, tentando demorar o máximo que pode. Adam envolve sua cintura com os braços e a aperta para si.


- Duas horas Tracie! - ele repete contra sua barriga e finalmente a solta.


- Eca! Não vai pedir isso pra mim né?! - Joel diz atrás de Tracie chamando atenção, Adam ri. Ele descruza os braços e entrega a automática para Adam.


- Vem aqui. - Adam brinca tentando puxar Joel para perto.


- Você quer me traumatizar? - ele responde sério e se afasta. Tracie lembra Adam mais uma vez, iriam trancar as portas e voltar em duas horas com suprimentos e remédio, depois disso iriam pensar para onde seguir.


Mesmo relutante com a ideia de deixar Adam sozinho, ela não podia mandar Joel para fora sozinho, não depois do que quase aconteceu. Ela poderia ter ido sozinha, mas confessa para si que não queria deixa-los.


Eles saem da loja e descem a rua sentindo contrario ao que vieram quando chegaram a cidade, isso a três ou dois dias atrás. O vento forte deixa o tempo nublado, sem sol e frio. Joel anda alguns passos atrás de Tracie segurando sua arma para baixo, enquanto a outra mão vai no bolso.


Assim que entram na antiga avenida da cidade, eles ouvem ruídos e batidas, Tracie ergue a espingarda na altura dos olhos. Eles se aproximam de uma loja onde um dos zumbis está preso se debatendo contra o vidro. Seu corpo podre expele vermes pela boca e da barriga, seus olhos estão brancos e seu corpo extremamente magro.


- Não vai mata-lo? - Joel pergunta encarando os vermes se mexerem contra o vidro, tentando sair sem sucesso.


- Não vale a pena.


- Por que não tem quase zumbis nessa cidade? - Joel pergunta curioso, ele corre ate alcançar Tracie.


- Cidades pequenas como essa foram evacuadas, e nas grandes tentaram controlar bombardeando. Aparentemente nenhuma opção resolveu. Ate porque muitos voltaram para se refugiar em cidades como essa ou Harrisburg.


Joel meneia com a cabeça, sabia muito bem que cidades pequenas tinham zumbis. Ele segue Tracie ate uma loja que um dia foi uma farmácia, já não é mais tão fácil achar suprimentos, tudo o que havia já tinha sido pego por outras pessoas.


Joel passeia pela loja pegando tudo o que acha ser útil, ele vê Tracie indo para outras e pegando roupas quentes, garrafas de água e armamento. Seu coração dispara quase saindo pela boca, uma ânsia sobe por seu estômago e um medo irracional o domina, Joel tem se sentindo assim nos últimos dias. Ele a espera do lado de fora e tenta se distrair lendo os muros pichados dos prédios, ajuda quando a sensação de medo vai embora. Ele a segue pelos escombros de prédios que não resistiram ao tempo e acabaram desmoronando.


Enquanto Tracie entra e sai das lojas quase sem nada nas mãos, Joel para em frente a um muro pichado de igreja. O caminho os libertara, siga os trilhos da salvação. Ele solta uma risada achando aquilo engraçado, só podia ser um culto.


- O que é isso? - Tracie pergunta parando atrás dele e lê a frase pichada por cima de seu ombro.


- Acho que é algum tipo de culto, ou sei lá um grupo esquisitão. - Tracie encara a frase tentando lembrar onde ouviu falar sobre seguir os trilhos. Ela estreia os olhos e Joel segue em frente, havia alguma coisa naquela frase que não deixava seu pensamento. E não era só Walker contando sobre a comunidade.


"A gente só queria encontrar um lugar para ficar. Dizem que tem uma comunidade perto das cidades, estávamos indo para lá não queríamos confusão"...."Pegando os trilhos é só seguir para o norte... Só nos disseram que aceitam forasteiros".


- Joel! Vem. - Tracie o chama dando a volta pela igreja.


- Para onde? O que está acontecendo? - ele pergunta desesperado e a segue sem nenhuma resposta. - Quer pelo amor de Deus me contar, Tracie? -ele insiste obrigando Tracie a se virar para ele.


- Ajude a encontrar uma dessas paradas obrigatórias de trem! - ela grita por cima do ombro e Joel assente. Mesmo não entendendo ou sabendo porquê, ele se separa dela e vai na direção contrario correndo lentamente.


Joel passa por prédios abandonados e quebrados, a maioria está tomado por vegetação alta e ele se distrai vendo alguns dos infectados presos nos lugares, andando de um lado pro outro. Ele corre mais um pouco ate ver trilhos de trem perto da rua.


- AQUI! - ele grita.


Tracie para de andar na hora. Ela se vira e começar a correr na direção contrária. Tracie sabe que Joel encontrou porque passa por um muro com a frase: "Você será bem recebido, se saber o caminho certo".


Na sua cabeça passa uma coisa, havia outra comunidade pelas cidades, e se sua teoria de seguir os trilhos estava certa, esses trilhos passavam por Harrisburg. Tracie chega até Joel que chuta as pedrinhas dos trilhos, ele observa Tracie passar e subir ate o ponto, ela encara o mapa e procura os outros pontos de paradas.


- Aí, o que você quer tanto com os trilhos? - ele pergunta atrás de Tracie que o ignora. Depois de duas cidades, chegava até uma estação final de trem, na cidade de Eugene, em Oregon.


Tracie desce com o indicador pelos trilhos até ver que passa por Harrisburg, pelo menos seis linhas de trem passam por perto do antigo hotel. Seu coração dispara, ela sente como se ele fosse saltar. Pela primeira vez, Tracie sentia esperança. As mesmas linhas que passavam por lá tinham o mesmo destino final, em Eugene.

Dias SombriosWhere stories live. Discover now