Adeus, Seattle

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Era inacreditável que eles tinham achado uma palavra que definisse toda aquela merda. Para Adam era impossível de acreditar que uma doença pudesse transformar as pessoas nisso, era mais complexo, como uma transmissão talvez, ele não sabia.
Sua cabeça estava cheia, era muita informação nesses últimos dias. Ele segura os calcanhares do cadáver e arrasta o corpo até a porta, Adam estava cagando para muitas coisas e uma delas era onde descartar um cara sem cabeça, então simplesmente o jogou no meio da rua.
Ele observa alguns dos mortos-vivos caminhando a algumas ruas abaixo, sem notar sua presença. O que realmente chama a atenção é o som de turbinas do F22 e o alarme de evacuação pela cidade. Ele tinha ouvido esse som nos últimos dias, não tão perto e nem alto.
Ele volta correndo para dentro, sabe muito bem o que é, esse alarme era diferente da sirene, não era só mais alguns bombardeios. Ele ouviu muito nos países em guerra onde acabavam explodindo a cidade inteira. Tracie está sentada no sofá encarando a mancha de sangue do carpete. Seus olhos perdidos e cheios de lágrimas.
- Onde posso tirar isso? – ele pergunta apontando para o sangue do rosto e da camiseta branca. Adam se recusaria ficar com aquele cheiro de sangue na roupa.
- Lá em cima. Terceira porta à direita. – ela volta a encarar a mancha e Adam sobe as escadas em direção do banheiro. Essa parte da casa ficou inteira, o banheiro e um dos quartos, cozinha e outros dois quartos estavam pela metade.
Ele joga a camiseta no chão e observa seu próprio corpo, marcas roxas da surra e arranhões das explosões. Ele tira o máximo do sangue que consegue e encontra uma camiseta preta lisa para vestir, sentindo a casa tremer enquanto outro caça do exército passa por eles.
Ele desce as escadas correndo enquanto a casa estremece, se os bombardeios da noite passada foram horrível mal sabiam o que esperariam agora.
- Temos que sair daqui. Agora. – Adam diz à Tracie que permanece sentada no sofá. Ela dá de ombros.
- Vão bombardear de novo? Porque não me importo de morrer aqui.
- Na verdade estou achando que vão explodir a cidade para valer
- Tanto faz, não vou a lugar nenhum sem minha família. – ela responde dando de ombros, Adam concorda. Ele não tinha muita paciência e se Tracie queria morrer, não seria um peso para ele.
Adam pega uma mochila e coloca toda comida que encontra, remédios e água, ele vê quantas balas ainda tem e guarda na mala. Ele tenta ignorar o som do alarme e Tracie sentada, mas assim que chega na porta ele hesita em sair. Ela o tinha salvado mais cedo, mas estavam quites já que Adam a salvou do tiro e bombardeio, porem ele ainda sentia que devia mais alguma coisa. Esse era o preço por atirar em alguém.
- Eles não vão voltar. – ele diz com os braços abertos. O alívio foi substituindo por preocupação e culpa.
- Você não sabe. – ela responde o encarando com a voz barganhada.
- E você não sabe se estão vivos ou mortos – ele retruca e bufa. Antes que Tracie falasse sobre morrer, Adam continua. – E se estiverem vivo?
- O que você quer dizer com isso? – ela pergunta levantando do sofá. 
- Que tem a possibilidade deles estarem em algum lugar por ai. – ele responde e Tracie abre a boca para responder, mas a fecha, por que sabe que Adam pode estar certo. Provavelmente se voltaram para casa pensaram que Tracie havia morrido ou saído de casa. Então ela tinha que procurá-los.
Adam a encara com esperança e Tracie concorda com um tudo bem. Ela arruma uma mochila rápido e troca de roupa, a explosão faz a casa estremecer. Ela não vai resistir por muito tempo.
Os dois saem às pressas subindo a rua até o buraco pelo qual passaram e descem pela esquerda, cortando direto para a rodovia. Eles andam apressadamente e Tracie tampa a boca ao passar pelo hospital em chama e pela escola cercada de mortos-vivos. Não havia nada que ela pudesse fazer e talvez tivesse que conviver com isso e com a esperança de que eles estavam vivos em algum lugar.
Derrotada, ela suspira com força e enxuga às lágrimas que escorre por suas bochechas. Adam à guia pela mata atrás da escola, eles passam tão depressa que Tracie não percebe a ausência do carro de Jack no estacionamento. Não demora muito para subirem a colina que dá para a floresta. As sirenes param de tocar e tudo fica num completo silêncio, eles param de andar e se viram na hora em que uma bomba clareia no céu, são tantas uma atrás da outra que não fará sobrar mais nada da grande Seattle.

Dias SombriosWhere stories live. Discover now