Fundo do poço - Dois anos atrás

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Tracie encara a vegetação ao longe do hotel. Ela tenta se distrair, mas quanto mais encara as árvores, mais a imagem de Joel na porta olhando para ela quando baixou a arma, vem a sua mente. Ela odiava aquilo, não era para Joel estar lá, muito menos vê-la daquele jeito.
Joel a olhou assustado, ele engoliu seco e tentou ignorar a expressão assassina no rosto de Tracie. Foi a primeira vez que ele realmente ficou com medo dela, e isso matava Tracie.
- Tá pensando em quê? – Adam pergunta assim que entra no terraço, Tracie pisca algumas vezes se recuperando. Eles se olham quando Adam se apoia na haste de segurança e sorri para ela.
- Joel. – ela responde depois de um tempo e uma suspirada. Adam ergue as sobrancelhas, não era novidade nenhuma, Tracie passava a maior parte do tempo se preocupando mais com ele do que com outra pessoa.
- Tracie não é o fim do mundo ele ter visto aquilo.
- Mas não era para ele tá lá. Não era pra me ver assim, ele me olhou de um jeito... – ela fecha a cara. Tracie se sentia envergonhada como se tivesse feito o maior pecado, e não sabia como reagir.
- Ele só esta com raiva de todos. Garanto que isso passa. – Adam não entendia, não tinha como, para ele o pior era o isolamento de Joel, mas ele não viu como ele à olhou, como se Tracie fosse um monstro. – Aí, vamos descer?
Ele chama e ela concorda, mas espera Adam descer antes. Tracie já se sentia a pior pessoa, ficar ao lado de Adam fazia ela piorar. Tracie sente que pode vomitar, ela desce do terraço e encara os olhares amedrontados na sua direção, todos a julgando. Era o fundo do poço.
Tracie sente seu coração parar aos poucos, uma sensação de remorso sobe pela garganta e ela se pergunta se finalmente a culpa a consumiria, se todos os seus pecados viriam a tona e assombraria até pedir perdão. Tracie paralisa, não conseguiria encarar todas aquelas pessoas, o peso nas suas costas aumenta então ela se vira e corre para fora.
Para Tracie o fundo do poço era novidade, agora para Jace, não. Quando levou o tiro no dia anterior, foi levado ate a ala medica do hotel, Troy não o abandonou por um minuto e quando Jace estava quase fugindo dali para beber, Eileen o impediu.
Não foi um grande ato, ela não foi compreensiva e não sentiu pena pela sua perda. Pelo contrário, Eileen foi dura, ela gritou com ele e espantou todos que estavam na sala, Eileen não sentia pena por Jace, sentia que ele era um idiota por não tentar sair do estado que estava. Eileen o encarou, Jace estava se sentindo um lixo e com raiva da humilhação, mas ele sentiu algo mais que aquilo.
Quanto mais Jace a olhava mais seu coração batia e uma sensação se formava no estômago. Jace fechou a cara, Eileen não se moveu, ele deu passo em sua direção e puxou seu rosto para si. Os lábios se encontraram e mesmo Eileen tentado resistir, se entregou por completo. Foi aquele momento que trouxe Eileen diversas vezes ao quarto de Jace.
Ela sai de cima de Jace e deita ao seu lado puxando a coberta para si, tentando esconder o corpo nu. Ambos estavam suados e ofegantes, Jace pousa o braço bom sobre a cabeça dela e sorri.
- Isso é com certeza melhor que encher a cara. – ele diz sorrindo e pressiona os dedos contra o nariz. Eileen sorri, o brilho da testa suada escorre pelo seu pescoço, dando vontade de Jace beija-la.
- Você tinha que estar em repouso, se recuperando do ombro. – ela diz sentando na cama.
- E estou! Nada melhor que ficar deitado com você em cima de mim. E estou usando meu braço bom. – Eileen ri. Ela levanta e coloca a calcinha e o sutiã. – Espera, porque não fica?
- Por que você dorme com Troy. – Eileen termina de se vestir enquanto Jace alcança sua blusa. – E isso foi um erro. De novo. – ela joga os cabelos para trás com a mão e pega a camiseta.
- A gente podia continuar errando?! – ele sugere e Eileen o encara como um idiota, e é como se sente com a cantada ridícula. – Eu sou um idiota, não aprendo com meus erros.
Eileen tenta não sorrir mas não consegue, ela termina de se vestir e antes de fechar a porta do quarto ela o encara. Ela odiava admitir mas gostava do que eles estavam fazendo, e gostava de conhecer Jace e seu lado que a fazia sorrir com piadas ruins.
- As onze no meu quarto e não se atrase! – Jace sorri e levanta indo ate o banheiro jogar a camisinha no lixo. Ele anda pelado pelo quarto quando Troy abre a porta.
- Jesus Cristo! – ele tampa seus olhos enquanto xinga Jace. – Cara de odeio. Pra que isso? Já não tá satisfeito que deixo vocês a vontade, filho da puta? – Jace coloca a calça e o encara.
- O que você quer idiota?
- Tracie sumiu. Vamos atrás dela, você vem? – o sorriso de Jace desaparece. Ele pensa um minuto e nega com a cabeça.
Ele não podia ajudar Tracie naquele momento, não tinha como se Jace ainda estava lutando contra seus próprios demônios. Ele ainda estava no fundo do poço e tentava não assimilar Eileen a sua salvação. Jace sabia que não podia depender de outra pessoa para isso, e não seria ele ajudar Tracie.
Alguns dias se passaram do sumiço de Tracie, muitos haviam desistido da sua procura. Era como se não quisesse ser encontrada, Tracie havia sumido da história do Hotel Rosarito, ela não levou nada, não deixou bilhete e passou despercebida por todos, sem se despedir.
A única coisa que ela deixou para trás foi um rastro de morte, ela caçou quem estava ao lado de Phillip. Eles perceberam pela explosão em uma sala de satélite, mais de oito corpo carbonizados, e também as pessoas decapitadas com um machado perto do rio. Ela andou pela cidade inteira matando pessoas até desaparecer.
Adam e Joel eram os únicos que ainda procuraram por ela ou por respostas. Troy tentou e fingiu ate um certo ponto, mas acabou desistindo assim como Trina, Noah, Nick e Haymitch. Adam espera por Joel ao lado do portão, ele solta a fumaça pelo nariz e joga o cigarro no chão.
- Voltou a fumar?
- Ajuda com o nervosismo – Adam responde abrindo os portões de ferro, Joel passa por ele e pergunta se ele sempre se sente nervoso. Adam dá ombros.
- Quando isso começou?
- Quando entrei no exército. Era como se visse meu pai em tudo o que fazia, então meio que usei à meu favor e me tornei major. – Joel o encara esperando o resto da história. – Agora sinto quando Tracie não esta comigo.
- Nos vamos encontra-la. Tô sentindo isso. – Joel diz esperançoso sorrindo. Eles seguem pelas ruas contrária ao hotel, enquanto eles vasculham cada canto de Harrisburg, Adam treina Joel como pode.  Ele estava ficando cada vez mais forte, rápido, alto e com bons reflexos.
Ele já sabia caçar, ou derrubar alguém que é o dobro do seu tamanho, e sua mira melhorava cada vez mais. Adam como major estava treinando um bom soldado. Joel encara o zumbi ele cambaleia andando na direção do antigo bar, perto da ponte de ferro, Adam lhe dá um toque e ele ergue o rifle na altura dos olhos, Joel aperta o gatilho e a bala atravessa no meio da sua testa.
O zumbi cai desaparecendo perto do bar, Joel vai atrás dele com Adam. Os dois encaram a porta do bar e entram sem hesitar, aquele maldito bar que tudo acontecia. Adam para perto da porta e estende o braço parando Joel. Os dois encaram o corpo deitado no chão e paralisam.
Joel estremece e sente um medo crescendo em seu peito e pela expressão de Adam, ele se pergunta se Adam também sentiu. Joel fica ofegante, ele reconheceu os cabelos mesmos completamente curtos, a jaqueta verde e as botas pretas gastas. Adam a encara com o rosto cheio de dor, ele sente seu queixo estremecer e os olhos se encherem de água.
- Tracie? – Joel a chama com a voz tremula, um sussurro que ela ouve. Tracie abre os olhos e encara os meninos.
Os dois soltam uma respiração aliviada e correm na direção da garota, a abraçando de todos os jeitos.
- A quanto tempo está aqui? – Adam pergunta, eles haviam passado no bar os primeiros dias que ela sumiu. Tracie os observar calada, suas pupilas dilatadas e as olheiras roxas, ela estava se controlando a dias para não dormir e morrer em paz.
- O que estão fazendo aqui? – ela pergunta com a expressão vazia e confusa. Finalmente ela havia se entregado a loucura da sua consciência pesada. Tracie sentiu novamente aquela coisa em seu peito se quebrando. Era como se tivesse um abismo grande escuro e vazio, em seu coração e ela não sabia como lidar com aquilo. Tracie estava quebrada.
- Caçando. – Adam responde confuso, não entendia porque ela não havia ficado feliz em vê-los. Ele não enxergava o sofrimento de Tracie e talvez por isso haviam se distanciado.
- Vão – ela sussurra e Adam se levanta afastando. – Vão embora daqui. – ela não queria as pessoas que mais amava vendo seu sofrimento e as levando com ela. Tracie não queria que Joel a visse assim. – VÃO!
Joel olha assustado. Ele não entendia aquilo, não sabia porquê Adam havia obedecido e tentava tira-lo de lá. Joel se desvencilha e não se levanta. Ele encara Tracie, estava cansado daquilo. Cansado de não ter recebido ajuda enquanto sofria, cansando de ser ignorado por Tracie e a distancia do grupo inteiro.
- Não! Não vou há lugar nenhum Tracie. – eles o encaram. Joel não havia percebido que não era o único que sofria, e não percebeu que o sofrimento dela vinha muito antes de Phillip.
- Não preciso de vocês. Não quero na verdade.
- Não estou nem ai. – Joel da de ombros. – Não vou te abandonar. – Tracie pisca tentando não chorar. Mas não consegue ela nega com a cabeça recusando o toque de Joel e Adam. Eles foram egoístas suficientes para não ver que os anos haviam pesado sobre ela.
- Tá tudo bem Trie. A gente esta aqui. – Adam a abraça tentando acalma-la. Tracie tenta explicar, dizer que não consegue mais sair dali que só queria acabar com toda aquela dor que sentia.
- Eu não sei mais o que fazer.
- Só prometa que não vai mais matar ninguém. Pelo menos que não seja necessário. Tracie encontre sua paz, nós sempre vamos estar com você.
Tracie estava perdida, ou pelo menos achou. Talvez a esperança de Joel a ajudasse, talvez ela saísse do fundo do poço. Ela só precisava saber que ainda era amada mesmo com seus crimes e que eles ai da estariam ao seu lado.

Dias SombriosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz