As coisas não são o que parecem - Cinco anos atrás

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Luciana vem ao encontro de Tracie, ela larga sua ferramenta em meio à terra e segura o copo que ela oferece. Luciana joga sua trança para trás, sua camisa xadrez oscila com a brisa do amanhecer e o filhote que está nos pés de Tracie, pula nas pernas de Luciana para chamar sua atenção por carinho.
- Café! – anuncia sua nova amiga tomando um longo gole. Tracie seca a testa de suor e bebe o liquido quente, em baixo do sol das primeiras horas da manhã.
O tempo em Washington estava agradável. Nos primeiros meses desde que teve o surto, a Terra estava mais quente do que normal, os bombardeios ajudou um pouco para isso, mas então o planeta começou a esfriar e teve meses de chuvas. Depois de alguns anos, o clima voltava ao normal e agora no verão, o sol não era tão forte e os ventos ajudavam a refrescar.
- É a primeira vez que experimento algo que plantei. – Tracie comenta. Luciana faz uma careta, tentando não rir.
- Na verdade são os grãos da colheita passada. – Tracie fecha os olhos rindo do seu errado. É claro que não seria os grãos que ela semeou a duas semanas. – Mas logo você experimenta.
Luciana chama o cão para perto, fazendo carinho em sua cabeça. O cachorro que ainda não tinha um nome, não saia de perto de Tracie, enquanto estavam em meio à terra e ela gostava da companhia do pastor-belga.
As duas se distraem observando Gerald sair do curral conversando com Joel. Ele ri de algo que Joel diz e se despede, vindo com Hank na direção das plantações.
- O que acha que ele quer? – Tracie pergunta estreitando os olhos por causa do sol. Luciana dá de ombros. Em dois meses que estavam no rancho Tracie se aproximou muito dela.
Elas passavam a maior parte do tempo trabalhando juntas e conversando, nas refeições Tracie deixava seu grupo e sentava com ela e outras mulheres do rancho e as vezes, elas ficavam na cabana de Luciana apenas rindo de suas histórias e bebendo vinho. Com Adam ao lado de Troy, Tracie precisava de outro melhor amigo ao seu lado.
Luciana era responsável pelos trabalhos rurais, ela não se intrometia na segurança ou qualquer outro setor. No começo em que Tracie começou com suas tarefas, ela não cansava de reclamar ou odiar sentindo inveja de Adam sair todos os dias para fora dos portões. Mas no decorrer dos dias, Luciana a ajudava mais e acabaram se aproximando, Tracie havia se tornado seu braço direito e isso lhe dava acesso a casa de Gerald.
- Bom dia meninas. Como estão as coisas? – Gerald pergunta colocando sua mão sobre a testa, para poder enxergar contra o sol.
- Bom dia, chefe! – Luciana coloca uma das mãos no bolso da frente da calça e ergue um pouco mais o copo. – Bem, sem nenhum problema por aqui hoje.
- Tracie. – Gerald cumprimenta Tracie que assente em um movimento leve com a cabeça. Gerald segura as mudas recém crescidas enquanto conversa com Luciana sobre a safra. Eles andam pelos corredores de terra até se depararem com o estrago da cerca. – Isso eu já pedi para arrumarem Lucy, não se preocupe.
- E já sabe o que foi? Um animal que fugiu do curral?
- É isso que perguntei agora para Susan. – Tracie solta sem querer uma risadinha. Era hilário Gerald não saber o que acontecia no seu próprio rancho. – Tem algo que queira falar Tracie?
Ele a encara com os olhos estreitos. Os dois já estavam se entendendo melhor, desde que Tracie passava tempo com Luciana e consequentemente com Gerald, ele aceitava muito bem as opiniões e ideias dela. Só não as colocava em prática.
- Quero. Sabe que não precisaria se preocupar com isso se reforçasse a segurança, né?
- Eu já expliquei que cuidar daquela cerca é diferente dessa.
- Só estou falando, Gerald, que se colocasse alguém que realmente preste atenção, iria fazer o serviço muito melhor.
- O que quer dizer?
- Você por acaso sabe o que os rapazes fazem lá em cima? Ou nos postos de vigia? – Gerald presta mais atenção. Tracie observa que pela sua cara, ele não tinha a menor ideia por quê era Luke que cuidava de tudo. – O único que realmente é bom, é Jace. E não estou falando porque o conheço, se visse a mira dele à um ano atrás nunca daria uma arma à ele.
Tracie diz fingindo despreocupação. Ela dá as costas para Gerald que a segue a passos lentos. Os dois caminham pelas plantações e o cão corre na frente, sem perder de vista sua dona.
- O que quero dizer é, que você não faz ideia de como andam as coisas por aqui. – Tracie fala o mais suave que consegue. Ela queria contar tudo o que pensa de Luke, mas não iria.
- Eu não preciso, Luke toma conta de tudo para mim. Desde a segurança das pessoas...
- Esse é o ponto. – ela o interrompe. Os dois andam lado a lado, sem Hank ou Luciana. – Luke. Ele repassa tudo o que acontece, ou as mudanças que faz? – Gerald não responde. Ele não admitiria que desde que Luke assumiu algumas funções do rancho, Gerald está por fora.
- Tracie tenha cuidado com o que você diz. Não esqueça que Luke os salvou e os trouxe para minha casa. Pense bem, antes de falar contra meu filho.
As palavras duras não eram uma ameaça, era mais um alerta para si mesmo. Tracie dá de ombros parando de andar junto com Gerald.
- E já perguntou à ele o que aconteceu no dia em que Sean morreu? – Gerald não responde. Ela sabia que eles nunca falaram sobre isso com detalhes, Luke deve ter falado que ficaram encurralados e que os tirou de lá, e para Gerald isso já bastava. – Foi o que pensei.
Tracie assente e continua andando, ela chama pelo cão que corre na sua direção. Na sua cabeça muitas coisas passavam, ela desconfiava de Luke desde que o conheceu, sua postura de bom garoto que tenta manter a paz e segurança não a convencia.
Ela passou muito tempo ao lado de Luciana e Gerald, ouviu histórias que ele queria aumentar o rancho e a muito tempo tinha deixado o mais velho dos filhos no comando. Para ela, Luke conquistou cada pessoa que mora nas redondezas, tomou conta da segurança e do armamento, colocou cada um na função que queria e principalmente, mandou o irmão mais novo para o outro lado da cera.
Para ele era perfeito, Troy ser um rebelde que não ligava para o rancho. E se tivesse do lado de fora seria mais fácil ter uma morte mais rápida e sem explicação. Tracie não sentiu segurança nenhuma com Luke, sabia disso quando viu seu olhar para Sean. Os dois tinham visto muitas coisas naquele dia, o arranhão de Joel, o olhar medroso e assassino para Sean, a maneira como gostou de ver Troy sendo derrubado por Adam. Para Tracie, Luke não era o que parecia ser.

Dias SombriosWhere stories live. Discover now