Desperta

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Tracie abre os olhos rápido demais.
Ela pisca algumas vezes até que seus olhos se acostumem com a claridade, fazia muito tempo que eles não viam luz. Ela sente uma pontada na cabeça e solta um gemido, todo o seu corpo dói e se pergunta o que havia feito para estar assim.
Então ela desperta, não só do sono em que dormia, mas de tudo, alguém agarrando sua perna, o bombardeio, o soldado, o tiro. Ela se levanta rápido demais e seus dedos procuram por alguma coisa em sua perna nua. Mas ela se distrai percebendo que está em um quarto, deitada em uma cama de criança com desenho de bolas e carros.
Puta merda. O que havia acontecido? Será que tudo era um sonho?
Ela tira a coberta azul e se levanta da cama, sua perna direita falha sem força alguma e Tracie cede, caindo no chão. O baque é alto e a dor da coxa é grande, ela morde os lábios tentando não gritar e leva os dedos até o ferimento. O líquido quente e pegajoso escorre de seus dedos até o chão frio, e Tracie teria ouvido alguém se aproximando, se não estivesse sentindo a testa e o braço arderem profundamente.
Ela sente duas mãos a envolverem na cintura e nas costas, com muita facilidade, Tracie fica de pé até ser pega no colo e carregada do quarto azul de criança. Se ela não estivesse sentindo tanta dor, provavelmente estaria se importando com isso.
- Aiii. – ela geme enquanto é posta sentada em um mármore fria e baixa. Ela encara o soldado de pé desembrulhando gazes cirúrgicos, sua camiseta branca está suja e as calças camufladas toda amassada. – Quem é você?
Ela pergunta chamando a atenção do fuzileiro que tem o dobro do seu tamanho. Ele se abaixa na altura do vaso sanitário e encara Tracie nos olhos. Ela repara nos cortes da sobrancelha e nos lábios, seu cabelo despenteado e o rosto sujo de poeira.
- Precisa trocar. Vai infeccionar e acho que os pontos abriram. – ela concorda em silêncio, os dedos do fuzileiro tocam sua coxa lentamente e Tracie sente um arrepio, contraindo a perna.
Ele estica a mão com cautela e a encara nos olhos quando seus dedos tocam novamente a pele exposta.
- Quem é você? – ela pergunta mais uma vez. Ele parecia muito concentrado no que fazia, tirando a bandana e limpando o ferimento de bala.
- Adam Donovan. – ele responde enquanto segura a ferida com uma das mãos e a outra passa a agulha com linha, fechando novamente do buraco de bala. Ele sabia que precisava pelo menos uma semana até tirar os pontos.
- Você é do exército? – ele balança a cabeça concordando.
- Sargento, na verdade. – Tracie não tinha o que responder ou perguntar. É claro que ele não veio resgatar ninguém, não sozinho pelo menos. Ela observa Adam colocar as gazes estancando os pontos e enrolando sua coxa mais uma vez, com outra bandana improvisada.
Os dedos de Adam passeiam mais devagar do que o normal pela pele de Tracie, ela sente um arrepio crescer pela coluna e descer lentamente. Adam nota o olhar fixo de Tracie e pigarreia sem jeito, ele se levanta tonto e pela primeira vez, lembra que Tracie está só com a camiseta e de calcinha.
- Se tiver com fome, o café está na cozinha. – ele diz saindo desajeitado do banheiro pequeno e gelado. Tracie suspira.
Ela olha em volta do banheiro branco e pequeno, até sente vontade de tomar um banho quente, mas isso logo passa quanto vê seu reflexo no espelho. O rosto machucado com um corte na testa e nos lábios, o braço esquerdo ralado no vivo e a poeira por todo o rosto e cabelo.
Tracie manca até chegar na cozinha também pequena, Adam está sentado em um dos cantos da mesa quadrada com uma xícara de café e torradas mal feitas. Não era nenhum banquete, mas havia tempo desde a última refeição de Tracie. Adam empurra uma xícara com café.
- Obrigada – ela toma um gole e o gosto é horrível, o pior café que já havia tomado. Forte demais e sem açúcar. Ela come a torrada sentindo seu estômago se contorcer até ficar enjoada. – Então.. major...o que aconteceu? É o fim do mundo? – Adam dá uma risadinha sem jeito. Errada Tracie não estava.
- É pode se dizer que sim. – ele dá de ombros. – Para resumir eu atirei em você e começaram a bombardear tudo. Então nos escondemos em uma das casas que desmoronou. Achei que estava morta.
- Então o que aconteceu depois?
- Acordei em cima de você depois do bombardeio e se não tivesse visto você respirar, ia ter te deixado lá. – ele dá de ombros como se não fosse nada. – Então te trouxe para cá e depois de dois dias os bombardeios cessaram.
- Espera... quanto tempo eu estava inconsciente?
- Três dias. – ele responde dando um último gole no café. Adam cruza os braços enquanto Tracie tenta processar tudo em sua cabeça. Ela larga a comida e pisca algumas vezes.
Ela ficou apagada por três dias enquanto o mundo explodia, sem notícias de Sarah ou Jack, ou de Trina na escola. Sem noticia nenhuma do que havia acontecido. Apenas que jogaram bombas em Seattle por quatro dias.
- Eu.. eu preciso ir. – Tracie diz jogando tudo de lado e se levantando.
- Wow, wow. Espera. – Adam se levanta junto e tenta impedi-a enquanto ela vai para o quarto. – Você não pode sair assim, seus pontos não se curaram e honestamente não sabe para onde ir.
- Escuta Adam, eu preciso encontrar minha família. Eles não moram longe daqui. – Tracie argumenta enquanto veste a sua parte de baixo e os calçados. Nada faria ela mudar de ideia.
- Mas lá fora tá um caos. Você por acaso sabe acabar com um desses ou qual caminho tomar? – Adam perguntar ansioso demais, não gostava da ideia de ver ninguém enfrentando aquelas coisas lá fora.
- Então vem comigo? – ele balança a cabeça e coloca os dedos entre o nariz. Tracie para na sua frente esperando ele abrir passagem, mesmo manca ela conseguia andar rápido o suficiente para chegar em trinta minutos.
- Se eu for.. você tem que me prometer que vai fazer tudo o que eu mandar. – não era uma pergunta nem afirmação. Adam estava mandando nela e Tracie não discutiria com um cara que já atirou nela.
Tracie o espera na cozinha, Adam veste a jaqueta camuflada militar e as botas pretas, coloca a arma na cintura e hesita ao abrir a porta da cozinha. Antes deles chegarem até essa casa, Adam matou muitas dessas criaturas e só de pensar em enfrentá-las, ele estremece.
- Preparada garota? – ele pergunta franzindo a testa, não sabia de onde tinha tirado isso. Era ridículo, mas não sabia como chama-la.
- É Tracie.

Dias SombriosHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin