56. este é o meu dever.

Começar do início
                                    

Grávida? Que porra...?

— Eu nem sabia que você estava saindo com alguém.

— É porque eu não estou.

Olhei para Gwen, esperando que ela começasse a rir e as duas me dissessem que era uma piada de muito mau gosto. Um teste. Sei lá. Gravidez era uma realidade muito distante, muito paralela, algo que eu não ponderava muito nem mesmo com Gwen nesse momento das nossas vidas. Alyssa não estava vendo ninguém, embora ela e Caden estivessem suspeitosamente próximos. Mas nunca tive motivos para desconfiar dele. Eu não...

— É dele — declarou ela, verbalizando o que eu não queria acreditar. — Você sabe que é dele.

Meneei a cabeça, sentindo um sorriso levianamente insano torcer meus lábios. Havia uma resolução nos traços de seu rosto. O tipo de resolução de alguém que sabia estar com um problema enorme, e não havia nenhuma opção além de encará-lo. Meu olhar caiu na direção de sua barriga, mas não havia nada visível ali. Esquadrinhei seu rosto, reconhecendo que ela havia melhorado fisicamente nos últimos tempos. No entanto, depois de definhar enquanto esperava por St. John, julguei que ela estava seguindo em frente.

O silêncio era palpável. Cutucões não amistosos do destino, que zombava das três pessoas nessa sala.

— Eu não percebi — prosseguiu —, com todo o estresse, os medicamentos, a correria que tudo se tornou... Não percebi. Agora eu vejo que tive sinais. Enjoo, tontura, cansaço. Mas isso até você sente, pelas razões que eu pensei que sentia.

Gwen encolheu os ombros em um singelo pedido de desculpas por ter compartilhado com Alyssa meus maus momentos. Todo mundo estava lidando com a merda de algum jeito. Hunter se afundou em trabalho, Caden nas mulheres e na fotografia. Os pais de St. John começaram a participar de uma comunidade para viciados e viajavam todo final de semana. Eu tenho tentado deixar para lá. Alyssa continua esperando. Todos nós nos matamos lentamente.

Mas isso... Isso é pior.

— São três meses, então?

Ela assentiu, comprimindo os lábios.

— E vocês... — eu sacudi a cabeça, desconfortável, enjoado. — Vocês não se cuidavam? Quer dizer, vocês mal passavam um dia sem estar na cara um do outro. Por que pareceu uma ideia genial foder sem se proteger?

Alyssa estremeceu levemente com meu palavreado, porque ele não era típico e denunciava minha mais honesta reação. Descrença. Raiva. Preocupação.

— Aconteceu — sua voz era mais hesitante agora. — Você sabe que às vezes... Às vezes tudo é demais e... acontece. Não estou me justificando, Ethan, mas cometi esse erro. Esqueci da pílula em alguns dias e não percebi, porque tudo estava acontecendo tão rápido.

— Existe camisinha, Alyssa — acusei. — Você costumava ser inteligente para usá-las.

— Ethan... — Gwen tentou intervir.

— Não, tudo bem, Gwen — Alyssa acenou, calma. — Ele tem razão. Eu acho que... acho que foi no último dia. Antes nunca foi... — ela engoliu em seco, as bochechas assumindo um tom vermelho de constrangimento. — Nunca foi dentro, ou foi protegido... mas não importa agora.

Eu cedi, descruzando os braços e arrastando as mãos pelos cabelos. Jesus Cristo. Isso tinha que ser um sonho — um pesadelo, na verdade. O pior de todos que poderia acontecer agora. Minha meia irmã grávida, só com vinte anos, do homem que a deixou para morrer há três meses. O mesmo homem que jurou olhando nos meus olhos que a amava. O mesmo que estava desaparecido há três meses.

As pessoas estavam falando em fazer uma homenagem para ele. Ouvi dizer que era no cemitério.

Isso não podia estar acontecendo. Mudava tudo, em proporções incontroláveis.

Our Way HomeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora