56. este é o meu dever.

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Mas Alyssa ainda usava. Alyssa ainda acreditava em alguma coisa.

Já a minha fonte secava mais a cada dia. Eu ainda o queria de volta, desesperadamente, mas esse ressentimento vinha crescendo e eu não podia mais controlá-lo.

— Oi, Ethan — Alyssa cumprimentou, polida, como uma parceira de negócios. — Gwen disse que eu poderia te encontrar aqui, hoje.

Dei de ombros. — Essa é a nossa casa.

Sua casa, — Gwen corrigiu, tímida.

— Ela ainda não entendeu que agora os meus investimentos pessoais também incluem ela — disse para Alyssa, em um tom blasé.

— Ela sempre se fez de difícil, não é? — Alyssa zombou de volta, encolhendo os ombros.

Mascarando a alegria que ameaçou erguer sua cabeça em meu peito por termos começado com uma interação tão normal, caminhei até a cozinha e larguei minha mochila e pastas de estudo. Gwen dizia que eu trabalhava demais, mas nunca reclamava, porque ela sabia onde eu queria chegar, e era tão longe quanto ela também pretendia chegar. E também, nunca gostei de ter tempo sobrando para que minha cabeça fosse infestada por todos aqueles pensamentos ruins. Todos aqueles traumas que eu precisava deixar para trás todos os dias.

— Ethan — a voz de Gwen chamou minha atenção —, precisamos falar com você.

Não me orgulhava do fato de ter que tomar remédios para conseguir dormir como consequência dos últimos acontecimentos. Quero dizer, sempre tive dificuldade para dormir depois de morar na rua, mas hoje em dia, era um tipo diferente de tormento. A terapia ajudava, e eu sempre seria grato por Gwen ter me feito perceber que essa era uma opção. A família ajudava. Gwen sempre tinha um novo chá natural para minhas dores de cabeça ou mal estares, ou pela manhã, quando o sol ainda nem tinha nascido e eu não conseguia mais fechar os olhos.

Eu tenho traumas. É verdade. Consigo admiti-los agora, e isso me fazia mais forte.

Estou me tornando, dia após dia, o homem que acredito que devo ser.

Foi por isso que muito calmamente, eu me virei na direção das duas meninas em minha vida e cruzei os braços, oferecendo-lhes um aceno conciso para demonstrar que estava simplesmente ouvindo. Não repentinamente preocupado ou desconfiado; apenas ouvindo. Calum gostava quando eu agia assim, e isso o fazia se sentir confortável.

Pelo olhar no rosto de Alyssa, eu sentia que ela deveria precisar do mesmo agora.

— Estou com um problema — Alyssa disse, após trocar um olhar com Gwen. — Vou resolver. Mas... depois de tudo, acho que não é justo esconder isso de você.

Considerando que não pôde sequer me ver em três semanas por causa da minha origem?

Enquanto ela ponderava suas palavras, fiquei pensando se ela estava vendo Malorie em meu rosto enquanto falava. Fiquei pensando no quão difícil poderia estar sendo para fingir que não.

Tinha dias que era difícil encarar um espelho também.

— Vá em frente — pedi.

Alyssa ergueu o queixo, apenas um pouquinho, nivelando seu olhar com o meu.

Se não fosse pelo tremor em seu lábio inferior, eu diria que ela era muito destemida.

— Fiz um exame de sangue hoje — anunciou. — Estou grávida.

Demorei vergonhosos segundos para processar suas palavras, arqueando minhas sobrancelhas.

— Grávida — repeti, testando a palavra esquisita em minha língua.

Our Way HomeWhere stories live. Discover now