53. é o único jeito, querida.

Começar do início
                                    

Era um pouco doloroso ver o quanto Ethan e Alyssa se esforçaram para agir como se estivessem tão felizes quanto ele, apenas para que ele pudesse ter uma boa memória sobre as primeiras festividades ao lado dos dois. E ao mesmo tempo, era extremamente gratificante e admirável notar o quão determinados todos estavam a continuar preservando as coisas boas que foram conquistadas no último ano, para que se multiplicassem nesse, através de toda a dor e o "luto".

Ainda não existiam informações concretas sobre Leon Reed St. John. Ele se foi, como se nada sobre sua vida tivesse existido até então. Deixou seus pais, seus amigos, a namorada... tudo. Ele fugiu. Eu não queria imaginar seu corpo frio e pálido sem vida, mas sabia que isso assombrava as noites de Ethan e Alyssa. Ele ainda acordava de pesadelos envolvendo o melhor amigo, e Alyssa continuava esperando por algo. A fé dela, de certa forma, parecia inabálavel, e não tínhamos certeza de que isso era muito saudável.

Mas a vida continuou, e eles não fraquejaram.

Alyssa estava feliz em seu emprego e grata pelal terapeuta indicada por Caden. Ela parecia animada, quase ansiosa demais para devorar essa oportunidade até a última gota de aprendizado que poderia ter, e sem a presença constante de Malorie Young ao redor dela, Ethan dizia que ela finalmente se parecia com a irmã mais nova que ele teve por toda vida.

Mas ainda havia aquela questão.

— Gwen? — meu pai chamou, soando impaciente.

Eu pisquei, acordando de meu devaneio ao encontrar seus olhos escuros.

— Sim. Desculpa, o que você disse?

— No seu aniversário — ele repetiu lentamente —, o que você vai querer fazer?

Abri minha boca antes de pensar na resposta, porque ainda não tinha planejado. Meu último aniversário foi um abraço caloroso da mamãe e uma jaqueta de couro que eu queria muito, bolo de morango e chá, somados a um "meio abraço" de papai e um almoço silencioso, com várias palavras que jamais foram ditas. Passei o resto do dia no quarto, amarga e triste.

Esse ano era diferente, no entanto.

Eu não fui feita para ser amarga, triste e solitária. Eu adorava estar perto das pessoas de quem gostava, adorava comemorar e adorava ambientes acolhedores e cheios de companheirismo. E, obviamente, adorava falar. Levava algum tempo para que eu me sentisse à vontade o suficiente para desenrolar minha língua, mas uma vez que acontecia, ela nunca voltava ao seu lugar. A essa altura, as piadas sujas e ridículas dos rapazes não me envergonhava mais, assim como estar ao redor de muitas pessoas não fazia com que eu me sentisse desconfortável. Bom, pelo menos não de uma maneira insuportável.

E esse ano, apesar de tudo, simbolizava novos começos para todos nós.

Mas talvez, papai ainda não estivesse tão avançado quanto eu. Quer dizer, ele tratava Ethan e sua família muito bem, mas...

— Podemos ficar em casa — eu disse, hesitante. — Você, a mamãe e eu.

Ele balançou a cabeça e franziu a testa profusamente.

— Não é isso — começou, apoiando a mão na superfície da minha penteadeira. — Só quero saber se você vai passar com seus amigos e Ethan, ou...

Uh, eu não pretendo escolher um ou outro. Posso ficar com eles no outro dia, mas não tem problema sermos apenas nós três. Para compensar o ano passado, eu acho.

Me arrependi pelas palavras no segundo em que elas saíram da minha boca, porque a culpa tornou o olhar de papai intenso demais para que eu pudesse retribuir. Eu o perdoei por tudo, porque sabia que nada do que ele fez havia sido mal intencionado, para me machucar. Tinha sido a sua maneira de me proteger, e conseguimos parar antes que ela se tornasse o oposto, e eu não guardava ressentimento por nada exceto o tempo que perdemos afastados. Talvez eu devesse ser uma pessoa mais rancorosa, mais agressiva, mas pela primeira vez em algum tempo, eu gostava de quem eu era.

Our Way HomeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora