Não, por favor, não venha, não venha!

Seu olhar estava desesperado, e assustado ao mesmo tempo. Era o mesmo olhar da noite do quase acidente, era o mesmo olhar da noite que eu caí na piscina. Mas ainda mais voraz, e ainda mais cheio de confusão.

— Sarah, o que houve?! — Insistia — O que aconteceu?!

Abaixei o rosto. Ver em seus olhos só me fazia sentir o coração mais pesado, enrolado em um grande e angustiante laço vermelho, cheio de voltas, sem começo, nem final.

Senti seus braços em volta de mim. Eu parecia uma criança chorando de medo em uma noite escura depois de um pesadelo, uma adolescente sobre a cama em uma de suas mais profundas crises existenciais.

Mas de alguma maneira aquele abraço me consolou. Meu coração se acalmou, e de maneira tão suave, as lágrimas foram gradualmente cessando.

— Calma. Calma. Eu estou aqui. — Sua voz saiu enrouquecida.

Então eu levantei o rosto, e pude ver seu rosto preocupado, só que cheio de afeto. Ele ainda me abraçava, mas mantinha seus olhos fechados.

Mantivemos o silêncio. Nem eu e nem ele fomos capazes de falar alguma coisa. Ele só se manteve me abraçando, ali, naquele beco sem saída, e eu, mantive-me dentro de seu abraço.

Era como o abraço da minha mãe, era como o abraço do meu pai e isso ao mesmo tempo que foi surpreendente, foi reconfortante, foi consolador.

Então ele se afastou e olhou nos meus olhos, depois apenas se sentou ao meu lado, apoiado nos seus braços que estavam atrás de si.

Hora ou outra nos olhávamos, e ficamos por muitos minutos apenas assim.

— Obrigada, Edan.

sorriu, afetuoso, compreensivo.

— Eu preciso ir. — Tentei pôr um sorriso no rosto.

Ele se levantou antes de mim, e me deu a mão para que eu pudesse levantar.

— Talvez ainda não esteja bem para ir. Venha, eu te levarei para um lugar que sempre me fez sentir melhor, se não sair correndo de mim outra vez. — Edan sorriu de maneira gentil, e passou-me confiança.

Peguei em sua mão e me levantei.

Ele abriu a porta do carro e eu entrei.

Logo após, colocou o cinto de segurança em mim, e várias vezes se certificou se estavam bem colocados.

— Eu sou um pouco traumatizado com carros. Então não se assuste, é apenas por questão de segurança.

Suas palavras tristemente me tocaram, mas eu apenas mantive-me em silêncio.

Edan levantou-se, e antes que ele pudesse vir e abrir o meu lado da porta, eu mesma abri.

Ele sorriu de maneira muito gentil e apontou para o meio da floresta.

— Aqui tem uma trilha secreta, que leva para um lugar especial. Edan estendeu suas mãos, até que entendi que era para eu segurá-las.

Ele ligou uma lanterna com a outra mão e foi me guiando por uma trilha bem aberta e cheia de vagalumes.

— São vagalumes. — Sussurrei.

— Quando pequenos, normalmente eu e meus amigos pegávamos em um pote, mas logo soltávamos na natureza novamente.

Eu não sabia o que era mais brilhante, se eram os vagalumes ou o sorriso do Sr. Edan, sorriso esse que esvanecia qualquer perturbante aflição.

Deixei-me levar por aquele sorriso tão lindo, e sorri também, mesmo que de maneira pacata e um tanto reprimida.

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora