38. A Sabia Louca

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Aquela senhora diante dos meus olhos era uma lenda, uma das magas mais poderosas que já existiu, possivelmente equiparando-se a Ethan, o fundador de Ettore e Ethel.

— Eu jurava que a senhora já havia partido! — falei impulsivamente, tentando corrigir meu deslize, - Perdão, não é que eu deseje a sua partida, mas... é que a senhora... é bem avançada em idade... — continuei, piorando o que já estava ruim.

Após soltar essas palavras inadvertidas, optei por permanecer em silêncio e baixar a cabeça, tomada pela vergonha.

— Hahahahahaha! Você é muito sincera! Eu admiro isso! HAHAHA - ela ria alto. - É verdade, já estou velha. Apesar de viver mais do que a maioria, meus dias estão contados, e passarei cada um deles nesta cabana.

Aquela mulher celebrava o término de seus dias com alegria. Não guardava ressentimentos nem pendências; havia conquistado e experimentado tudo que desejava. Sua jornada fora plena, livre de arrependimentos.

— Por que a senhora desapareceu sem avisar ninguém? - indaguei, curiosa, enquanto saboreava a última batata.

— As pessoas me buscavam apenas por interesse. Com o passar dos anos, percebi que quanto mais forte você se torna, mais solitário fica. Decidi me isolar nesta colina. Cercada pela natureza, encontrei tudo de que precisava para focar em minhas pesquisas. 

— Pesquisas sobre o quê?

— Haha, você é muito curiosa! Mas tudo bem, vou lhe contar. Eu pesquiso sobre a vida, sobre o início de tudo, sobre as transformações das energias que nós, humanos, costumamos chamar de "mana".

Surpresa, meus olhos se abriram como pétalas ao amanhecer, ao ouvir um humano denominar a mana como energia. Percebi, então, que aquela senhora detinha conhecimentos que transcendiam qualquer mortal que eu já encontrara.

Minha curiosidade, como brasa acesa, desejava permanecer naquele lugar, ansiando por desvendar os mistérios que ela guardava.

— Seria possível, nobre dama, que aceitasse ser minha mentora? - inquiri, contagiada pela empolgação.Ela ficou surpresa diante da minha proposta. 

— Querida, quantos anos você tem? 

— Comemorei meus onze anos recentemente. 

— E ainda não escolheu uma profissão? Onde você esteve no último ano? 

— É uma narrativa extensa! — abaixei a cabeça, sentindo-me um tanto melancólica. 

— Como pretende ter um mentor sem definir sua profissão? 

— Desejo apenas aprender, independentemente da profissão que venha a ter. O conhecimento é valioso em todas as áreas. 

Com uma expressão surpresa e um olhar satisfeito, Sara dirigiu-me um sorriso. 

— Em qual nível você se encontra? 

— Zero! 

— Hahaha! Você é mais audaciosa do que imaginava. Sem ter subido nenhum nível, sem ter uma profissão definida, ainda assim pediu que eu fosse sua professora! Hahaha, gostei disso. Amanhã, bem cedo, iniciaremos nossas lições!

Após desfrutar de uma deliciosa refeição e uma conversa agradável, entreguei-me ao sono. Estava tão animada e exausta que mal me questionei sobre o motivo pelo qual a Sábia Sara me aceitou tão prontamente.

Na manhã seguinte, despertei cedo e apressei-me para a sala, onde a Senhora Sara já estava sentada, desfrutando de um chá quente feito com as ervas silvestres colhidas no dia anterior.

Antes de começarmos o treinamento, Sara solicitou que eu permanecesse na colina até a conclusão de seus ensinamentos. Concordei prontamente, afinal, não havia para onde ir.

O dia se iniciou com um delicioso café da manhã. Em seguida, Sara se aproximou de mim, entregando-me um imenso livro, com mais de mil páginas escritas cuidadosamente à mão, exibindo uma caligrafia invejável.

Cada palavra registrada naquele livro carregava consigo uma mistura intrigante de sabedoria e ousadia, aguçando ainda mais minha sede por conhecimento. Mergulhei profundamente na leitura, e as horas se esvaíram, de modo que, sem perceber, já era hora do jantar.

— Você se assemelha a mim. Não se importa em investir horas para compreender uma única página. Busca extrair o máximo de cada experiência. Estou feliz por tê-la como minha discípula!

— Discípula? - indaguei, surpreendida com tal declaração, afinal, Sara não havia confirmado com palavras ao meu pedido anterior.

— Sim! Nunca fui mentora ou professora de ninguém, mas sempre sonhei em ter um discípulo. No entanto, nunca encontrei alguém que verdadeiramente valesse a pena ensinar. Meus dias estão se aproximando do fim, e antes que isso aconteça, desejo transmitir meus conhecimentos.

— Foi por isso que a senhora me aceitou tão rapidamente?

— Não, querida! Aceitei você rapidamente porque estava curiosa. Aliás, já concluí as Runas para tentar desvendar o selo que guarda as memórias de como veio parar aqui.

— Quando podemos reaver minhas memórias? 

— Agora mesmo se quiser!

Cheia de entusiasmo, fechei o livro e me levantei rapidamente da mesa. Segui a Senhora Sara até um pequeno porão. O lugar era repleto de antiguidades e curiosidades. Um belo uniforme estava elegantemente emoldurado na parede, ao lado de um cajado que parecia esculpido a partir de uma árvore ancestral. O cajado exibia um entalhe meticuloso e ostentava um cristal em sua ponta, que brilhava com diversas cores. Ao contemplá-lo, uma onda de lembranças do grande Ancião inundou minha mente, meu corpo se arrepiou completamente, enquanto uma sensação de tristeza e nostalgia pairava sobre mim.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora