9. Memórias de Xion

24 7 5
                                    

Os dias transcorreram, e Elena escolheu prolongar sua estadia na imponente mansão dos Cleones, atendendo aos apelos insistentes do jovem Xion.

Embora ainda nutrisse dúvidas quanto à verdadeira personalidade e intenções de Xion, ela consentiu. Afinal, encontrava-se fragilizada diante de todos os eventos recentes.

Gradualmente, os dois jovens compartilhavam vivências, narrando as histórias que haviam atravessado. 

Em uma tarde, sobre a sombra de uma linda cerejeira, Xion começou a relatar uma história, que revelaria o motivo por trás da sua recepção tão áspera a Elena.

— Sabe, quando eu tinha seis anos, meus pais resgataram uma garota... na época, ela tinha mais ou menos a sua idade. Aparentemente, a família dela foi atacada por bandidos na estrada. Ela era a única sobrevivente, estava desacordada quando chegou à mansão... - Xion começou a relatar uma de suas experiências. 

Elena observava atentamente, sabendo que aquilo era um desabafo, apenas o ouviu sem pronunciar nenhuma palavra. Apesar da tenra idade, havia sabedoria em suas ações e palavras.

"— Elena, quando você encontrar alguém assim, apenas a ouça; às vezes, elas só querem desabafar, mas há muitos pedidos de socorro silenciosos, eles estão entre as entrelinhas. Precisamos escutá-las e tentar confortá-las sempre que possível."— Elena recordou-se do que Zion havia dito certa vez.

Em meio a algumas pausas, Xion continuava a compartilhar sua história.

— ... alguns dias após a chegada dessa moça à mansão, eu... eu... criei um forte vínculo com ela. Fazíamos tudo juntos. Era como se ela fosse minha irmã mais velha. Doce, brincalhona, contava-me histórias; seu nome era Sophia... Meus pais a apreciaram muito e ficaram felizes por ter uma criança por perto para eu brincar. Então, a convidaram para viver conosco.

Xion faz uma pausa prolongada, e Elena dá leves tapinhas em suas costas. Ele olha para ela, sentindo-se encorajado a prosseguir com a história.

— Eu tinha uma babá também... chamava-se Ana. Eu a considerava uma segunda mãe..., mas depois da chegada de Sophia, começamos a nos distanciar... Ana nunca apreciou Sophia, naquela época eu não conseguia entender o porquê. Um dia, encontrei Ana repreendendo Sophia; ao me aproximar, Sophia começou a chorar, dizendo que Ana havia sido muito cruel com ela. Fiquei com raiva e acreditei nela. Por que eu acreditei nela? Por quê? - Xion se questiona aflito, dando pequenos tapas em sua cabeça.

— O que aconteceu? - interrompe Elena, segurando a mão do rapaz, interrompendo o autoflagelo.

— Minha babá nunca nos deixava a sós, mas após aquele dia, eu a expulsava de perto de mim. Mesmo assim, ela nos seguia de longe. Um dia, Sophia me chamou, disse que queria me mostrar um lugar secreto fora da mansão, mas eu não podia contar para ninguém. Saímos no meio da noite quando todos estavam dormindo. Eu a segui, estava curioso. Andamos por alguns minutos, percebi que estávamos ficando longe de casa e pedi para voltarmos. No entanto, ela começou a me arrastar... gritei por socorro, mas ninguém podia ouvir; estávamos muito distantes de casa...

Xion faz uma breve pausa e retoma.

— ... adentramos o bosque. Foi quando lembrei que havia uma onda de sequestros com pedidos de resgate acontecendo. No entanto, a maioria das pessoas sequestradas era morta... eu estava tão assustado, Elena... - ele começa a chorar.

Elena o abraça, oferecendo palavras acolhedoras:

— Calma, calma! É normal sentir medo; deve ter sido uma experiência aterrorizante!

Xion abraça Elena e desaba em choro, e os dois permanecem abraçados por alguns minutos. Finalmente quando ele alcançou um estado mais sereno, retomou seu relato:

— Meus gritos por socorro ecoavam, mas Sophia não desistia. Quando comecei a perceber murmúrios e conversas ao longe... entendi que estava verdadeiramente sendo sequestrado. Mordi a mão de Sophia e corri na direção de onde viemos.

"— Ele está escapando!" — gritou Sofia para os bandidos.

— Corri como se não houvesse amanhã, mas um deles usou magia para me fazer tropeçar. Era meu fim! Fechei os olhos, então ouvi um estrondo. Os bandidos caíram diante de mim... ao olhar para trás, vi minha babá. Corri chorando até seus braços...

"— Você está bem? Vamos para casa! Seu pai vai te dar uma bronca quando chegarmos lá. Pedi para a Vivian acordá-los." - disse Ana com um sorriso no rosto.

— ... eu pensei que tudo estava bem, apoiei-me em seu colo. Então, mais bandidos surgiram. Flechas e feitiços voavam. Ana nos defendia com sua débil magia. Estávamos próximos da saída do bosque, já podia ver meu pai ao longe. Contudo..., caímos. Ana tombou sobre mim, empurrei-a para o lado e vi Sophia com uma adaga suja de sangue. Olhei para Ana, ela sangrava. Meus pais já se aproximavam, e eu só podia vislumbrar as sombras de Sophia sumindo na densidade da floresta. Ana, por outro lado, não conseguiu sobreviver; o punhal estava envenenado.

Ouvir essa narrativa permitiu a Elena compreender um pouco mais os sentimentos iniciais de Xion em relação a ela.

— Eu a encontrarei, não importa o custo. Ela pagará pelo que fez! - Xion proferiu, carregado de mágoa e rancor.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora