34. Uma pequena sensação

12 3 1
                                    


Diante do olhar tenso de Yuri, eu percebi que estava imersa em um enredo além da minha compreensão. O salão espiritual pulsava com uma energia que ultrapassava as barreiras do meu entendimento humano. Cercada por seres extraordinários, sentia-me como um peão em um tabuleiro mágico.

Os murmúrios entre os espíritos ecoavam, formando uma sinfonia de vozes curiosas e desconfiadas. Yuri, ainda segurando-me com um abraço, parecia enfrentar não apenas a descrença de seus pares, mas também suas próprias batalhas internas.

Em meu âmago, a incerteza dançava com a curiosidade, enquanto Yuri e os espíritos discutiam em um dialeto de mistério e desconfiança. O quadro de status reluzia com números que agora pareciam dançar ao ritmo da conversa, uma partitura de eventos sobrenaturais que eu mal começava a decifrar.

— Yuri, minha irmã, essas afirmações são extraordinárias demais para serem aceitas de imediato. A reunião do Ancião é um momento sério, não deveria ser palco para histórias mirabolantes. — Lucian, o Rei dos espíritos de luz, pronunciou-se com cautela, seu semblante refletindo a ponderação diante das palavras da irmã.

O salão espiritual parecia congelado, os murmúrios cessaram momentaneamente, enquanto a atenção de todos estava voltada para a delicada dança verbal entre Yuri e Lucian. Eu, envolvida nesse universo desconhecido, observava atentamente, com a curiosidade intensificada pelo ambiente de incredulidade ao meu redor.

— Meu irmão, conheces bem a verdade em minha voz, pois nunca a torci em farsas. Sei o quão árduo é aceitar, confiar apenas em minhas palavras. Contudo, vos suplico, confiem em minha sinceridade, pois jamais mancharia a verdade com mentiras sobre tal questão... - Yuri implorava com toda sua alma para que Lucian, Rei dos Espíritos de Luz, depositasse sua crença nela.

O silêncio pairava no salão, interrompido apenas pelas palavras de Yuri, que ecoavam com uma serenidade sincera. A tensão era palpável, e eu podia sentir a urgência nas palavras da rainha dos espíritos.

Lucian, o Rei dos espíritos de luz, manteve-se inabalável, seus olhos refletindo dúvida, mas também a ligação profunda de irmãos que compartilharam inúmeras experiências ao longo de milênios. O salão espiritual tornou-se uma encruzilhada de emoções, onde o ceticismo rivalizava com a lealdade fraternal.

— Lucian, não se permita ceder diante dessas palavras! Ao que parece, com o decorrer dos anos, ela foi tida como mais "insana"! - ecoou um esplêndido espírito de cabelos azuis-marinhos e olhos verde-água, assentado no trono enfeitado com o símbolo da água. 

— Por que, Ariel, você nunca confia em mim? — indagou Yuri, com melancolia em sua voz.

— Por que? Indagas o porquê, mesmo após essas afirmações que desafiam a razão! 

— Todos nesta sala conseguem sentir a pureza da mana dessa garota, percebem que se ela tivesse mais mana, seria capaz de firmar um contrato com qualquer um aqui, inclusive o Ancião! —Yuri exclamou, exaltada, desejando que todos naquela sala depositassem fé em suas palavras.

— Ela está a cada dia mais desequilibrada! — os espíritos começaram a murmurar novamente.

— Como ousa a fazer tal especulação? Imaginem só o Ancião tocando um ser tão indigno? Blasfêmia! — os espíritos indagaram irritados.

Yuri permanecia firme, inabalável, revelando nenhuma fraqueza. Sua postura erguida e digna de uma rainha não permitia que as ofensas dirigidas a ela a abalassem. Em silêncio, ela mantinha seu olhar na direção do Ancião, ciente de que a única maneira de todos aceitarem a possibilidade de um humano ser a reencarnação de um espírito era se o Ancião assim o aceitasse.

— Tragam a criança até mim! — ordenou o Ancião. 

Uma surpresa tomou conta de todos diante daquela atitude. Ninguém imaginava que ele consentiria com tal pedido. O Ancião, que nutria profundo desprezo pelos humanos, agora estava prestes a tocar em um deles.

— Senhor! Não permita que seus sentimentos por Yuri o dominem, lembre-se de que o Senhor mesmo a baniu! — protestou Ayra, expressando sua insatisfação com a decisão do Ancião. 

— Rainha Ayra, saiba qual é o seu lugar! Todos reconhecem minha imparcialidade nessas questões. Apesar de Yuri ser minha filha, jamais serei condescendente com tais alegações. Contudo, preciso ser justo, estou concedendo uma última chance a Yuri! — proclamou o Ancião, impondo-se com autoridade.

Ayra silenciou, incapaz de contestar o Ancião. Naquele momento, todos compreenderam que desafiar sua decisão era inútil. Aceitação era a única escolha diante da firmeza do Ancião.

Yuri, com sua voz suave, interrompeu meus devaneios. 

— Vamos, Elena. 

— Para onde? — questionei, surpresa ao emergir das teorias que fervilhavam em minha mente sobre meus atributos.

— Ao Ancião!

No instante em que ouvi suas palavras, minhas pernas tremeram, relutei silenciosamente, cerrando meus pés ao chão.

— Não temas, te acompanharei!

Yuri estendeu sua mão, e eu prontamente a segurei. Juntas, percorremos aquele vasto salão, onde os espíritos presentes observavam-nos em silêncio, seguindo-nos apenas com os olhares.

Cada passo que eu dava, emanava a mana hostil dos reis e rainhas espirituais. Uma energia desconcertante envolvia-me, meu corpo suava frio, como se estivesse prestes a ceder sob a imensa pressão.

Apertei com firmeza a mão de Yuri, meu peito comprimido, o coração pulsando acelerado, e o ar que respirava parecia insuficiente. Percebendo meu desconforto, Yuri ergueu-me delicadamente em seus braços, envolvendo-me com seu abraço gentil. Naquele momento, senti meu corpo encontrar serenidade e a pressão amenizar.

Desbravamos os degraus que nos levariam ao grandioso trono do Ancião, mas antes precisávamos passar entre os tronos de Alev e Lucian. Os olhares assassinos que lançavam sobre mim atingiram-me como punhais. Fechei os olhos, um aperto no coração, e abracei Yuri com firmeza.

— Você está segura comigo, minha pequena! — sussurrou Yuri, sua voz envolvente acalmando meus ânimos. Ali, em seus braços, eu encontrava segurança.

Transpassamos suavemente entre os tronos de Alev e Lucian.

"Que sensação é essa? Essa mana... não pode ser! Agni..." — Alev pensou enquanto Yuri passava na frente de seu trono com Elena nos braços.

"Agnis?" — Lucian pensou, percebendo uma mana conhecida passar por ele.

Ambos os reis questionaram sua própria sanidade ao sentirem tal presença.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Where stories live. Discover now