14. Alguém conhecido?

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Tudo ocorreu tão rapidamente. A visão dos dois amigos caindo fez com que a paisagem ao meu redor se tingisse de tons cinza e vermelho. Os dois homens encapuzados, responsáveis pelo ataque, avançavam em minha direção.

"Passei por cima da morte uma vez, e agora ela volta para me buscar!" — pensei durante aqueles fugazes milésimos de segundo, antes que os desconhecidos desferissem seus golpes contra mim.

Meu corpo estava completamente imobilizado, desejando mover-me ou gritar, mas incapaz de fazê-lo. Resignei-me à ideia de que esse seria meu fim, fechei os olhos. Uma força impactou meu corpo, mas, surpreendentemente, não senti dor.

Ao abrir os olhos, percebi que estava nos braços de um jovem alto, sua pele tão clara quanto uma nuvem branca, cabelos dourados como o ouro mais puro, olhos rubros como rubis, e orelhas pontiagudas. Sua semelhança com os Elfos, que habitavam a Floresta, era evidente, mas Elfos não possuíam olhos vermelhos.

Tentei me mover para escapar de seus braços, mas foi em vão. Aquele jovem, aparentemente da idade de Xion, era extraordinariamente forte.

— Não se mexa, não vou te fazer mal! — ele afirmou, mantendo os olhos fixos nos dois estranhos.

— Quem é você? — questionaram os dois homens, antecipando minha própria pergunta.

— Eu quem deveria perguntar isso! Quem são vocês e o que querem com essas crianças? — o jovem de olhos vermelhos inquiriu furiosamente.

— Eles estavam apenas atrapalhando nossos planos, apenas demos uma lição neles! — afirmou um dos homens encapuzados.

— Mentira! Não fizemos nada! — gritei.

— Claro que fizeram! Tiraram os cristais do lugar! Se vocês tivessem ficado quietinhos... — o outro homem encapuzado falou.

Meus olhos se arregalaram, a culpa daquilo tudo era minha; se eu não tivesse pegado os cristais... muitos pensamentos invadiram minha mente.

"Rayon estava certo, todos aqueles cristais foram deixados propositalmente para trás." — Pensei angustiada.  

— Pretendiam replicar os eventos de Libã? — inquiriu o jovem loiro.

A simples menção ao nome de minha antiga vila fez meu coração apertar. Indaguei a mim mesma sobre as intenções do jovem. Estaria ele insinuando a possibilidade de planejarem algo semelhante ao que ocorreu em Libã? Ou haveria alguém por trás daquela tragédia? A mera sugestão provocou uma reviravolta de pensamentos sombrios em meu estômago.

Os dois homens encapuzados trocaram olhares de significado obscuro.

— Parece que você sabe demais; também terá que morrer! — proclamou um dos homens, avançando em nossa direção com sua imponente espada ainda manchada pelo sangue de Rayon.

— Segure firme! Não me solte! — ordenou o rapaz loiro, antes de saltar habilmente para uma árvore. 

— Não os deixem escapar!

O jovem loiro, além de possuir força, exibiu agilidade ao me carregar em seus braços como se eu fosse leve como uma pluma. Entre as árvores, ele desviava de magias lançadas contra nós.

— Foi minha culpa! — sussurrei, angustiada. 

— Não se culpe, você estava apenas no lugar errado, na hora errada! — ele falou tentando me consolar. Abracei-o fortemente e chorei.

De repente, nossa corrida foi abruptamente interrompida.

Diante de nós erguia-se uma imensa parede de terra. Dela, espinhos afiados emergiam, vindo em nossa direção. O rapaz, que me carregava, conseguiu desviar dos ataques letais, mas não escapou ileso, sofrendo cortes superficiais nos braços e pernas.

Eu já tinha ouvido lendas sobre aquela forma de magia, ágil como flechas cortando o céu. Além disso, o homem que manipulava tal magia conseguia ser tão veloz quanto nós, revelando-se um verdadeiro mestre das artes mágicas. Certamente, era um mago de habilidade excepcional, seus ataques eram impregnados de uma magia avançada.

— Maldição! Escapar deles será uma tarefa árdua! — lamentou o jovem ao meu lado.

Ao ouvir suas palavras, recordei-me da pedra de socorro que o guia havia me confiado. Busquei por ela em um dos bolsos da minha saia, mas não a encontrei.

— A pedra! Eu a perdi... precisamos voltar; talvez tenhamos uma chance.

O jovem lançou-me um olhar, assentindo positivamente com a cabeça.

Viramo-nos, e como um clarão, algo passou por nós, deixando um arranhão leve no pescoço do jovem. Sua reação, por meros milésimos de segundo, evitou que fosse decapitado.

Não pude acompanhar detalhadamente o que se desenrolou; virei meu rosto na direção da luz fugaz e deparei-me com o homem encapuzado, empunhando uma espada.

— Parece que esses dois são formidáveis. Um é um guerreiro de habilidade exímia, enquanto o outro é um mago versado em magias avançadas. Certamente, têm, no mínimo, a classificação de Rank B. — afirmou o jovem, pousando-me delicadamente no chão.

— Tenho de lhe parabenizar pela destreza em desviar de minha lâmina. Você é habilidoso, demasiado bom para ser apenas um jovem. — O guerreiro elogiou o rapaz que se esforçava para me proteger.

— Vamos fazer um trato. Eu acabo com essa garota, e concedo a você a oportunidade de se unir a nós. O que acha? Uma proposta tentadora, não é mesmo? — Prosseguiu, apontando a espada em minha direção.

Num gesto ágil, o rapaz colocou-me atrás dele, adotando uma posição defensiva.

— E o que eu ganharia com isso? — Questionou o jovem loiro.

Nesse momento, senti um arrepio de medo diante de sua pergunta.

"Não o culpo por considerar trocar minha vida pela dele!" — Pensei com tristeza, tentando me afastar do rapaz.

— Ainda não consigo protegê-la e lutar ao mesmo tempo. Vou criar uma distração; você corre na direção de onde viemos. Encontre o cristal e salve-se. — O rapaz sussurrou, segurando meu braço com firmeza.

Meus olhos se fixaram na figura do rapaz, mas quem seria ele? E por que estava tão disposto a arriscar a própria vida? Uma sensação de nostalgia misturada a uma inquietação permeava minha percepção, como se ele fosse ao mesmo tempo um fragmento do passado e um enigma do presente.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Where stories live. Discover now