26. Um novo Reino

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A mulher, em sua sabedoria, arqueou uma sobrancelha, percorrendo-me com olhar perscrutador. Aproximou-se, tomou minha mão entre as suas, e assim falou: 

— Hmm! Eis a causa que busco! — ponderou, tocando o queixo, expressando confusão. — Mas como se entrelaçou com tua carne? E ainda, como aqui chegaste?

— Entrelaçou minha carne? — confusa, retirei minha mão das suas, fixei o olhar, buscando respostas onde antes não se via nem se sentia nada.

Naquele instante, notei que a pedra de teleporte não mais repousava em minha posse, talvez, perdida em algum lugar, ou desfeita no eco do seu uso.Assustada, meu olhar se tornou um caleidoscópio à procura.

— Que buscas, criança? — indagou a mulher, curiosa.

— Pela pedra rubra com Runas gravadas, eis minha busca. — murmurei, enquanto procurava entre meus pertences, o rastro do encanto eu perseguia.

— Ali está ela! — apontou a mulher na minha direção.

— Onde? — indaguei, vasculhando o espaço ao redor.

— Em tua mão! — respondeu, apontando para o invisível. 

Abri minhas mãos, olhei em desalento, mas não a vi.

— Não está em minhas mãos! — retruquei, frustrada.

 A mulher, mais uma vez, aproximou-se segurando a mão que abrigara a gema.

— Eis aqui! Ela repousa em tuas mãos! — apontou, decidida.

— Não me ludibrie, pois aqui não a vejo! 

A mulher, com um semblante sério, expressou descontentamento.

— Espíritos são verazes em suas palavras! — disse ela com firmeza.

 Então, uma luz lilás, reflexo dos seus olhos, surgiu delicada. Na palma da minha mão, um toque de calor e conforto emanou. As Runas, outrora na pedra, agora dançavam, entalhadas na minha pele.

— Eis, contempla! - ela sorriu com encanto.

— Mas como aqui se desvendou? Há pouco a segurava, tangível como eu e tu! - disse, incrédula, olhando para minha mão.

— Isso, confesso, me intriga. Tu és a pioneira, humana a atravessar os limiares. Nenhum humano antes de ti logrou ultrapassar os portais mágicos!

— Portais? Não vi nenhum! - meus olhos buscaram em vão, espreitando. — Era para eu ter ido para... - silenciei, recordando minha intenção. Ao segurar a pedra, na mente, esbocei o destino de um inexplorado.

— Para? — a mulher inquiriu, curiosa.

— Foi um breve instante, juro, apenas um sopro no tempo, mentalizei um recanto onde humano algum pisara.

A mulher, confusa, me lançou um olhar intrigado.

— Mas isso não esclarece nada, para este reino atravessar, seis portais e um labirinto místico, é a senda a percorrer. Nem os espíritos livremente por sua vontade podem entrar ou sair.

— Não é a Terra? — inquiri, com olhos que buscavam entendimento.

A mulher, incrédula, riu em uma sinfonia cristalina.

— Hahaha! Terra! Hahaha! Há tempos não sorria assim, Como sinto falta dos pactos humanos, e da diversão que em vocês habita."

— Então, que solo é este? — perguntei, sob o véu da incerteza. 

Numa dança de mistério, em busca da verdade oculta nos suspiros do reino.

— Hahaha! É o Reino Espiritual! Entre a terra e o espaço, ele repousa. Aqui, nunca é noite, nem abraça o frio, todos os Espíritos dançam na aurora eterna, mas tu, és a primeira não espirito a caminhar.

— E como regresso? — perguntei, na bruma da incerteza.

— Da mesma forma que vieste, acredito eu. Mentaliza o reino terrestre que anseias e desejas retornar.

— Mana me falta para tal feito, exauri-a, lamentavelmente.

— Hmm! Venha, concedo-te um pouco da minha, um segredo oculto. Espíritos, guardiões de poderes, somente a seus pactuantes podem ceder. Neste Reino Espiritual, uma exceção tecerei, um empréstimo no silêncio, será um eterno segredo entre nós!

A mulher, em mim traçou sua trajetória, abraçando-me das sombras. Uma torrente de energia, além da mana, fluiu, uma essência sublime. Concentrei-me em Faruk, fechei minha mão, as Runas resplandeceram. Meu ser imerso na sensação ardente, mas, agora, desprovida de desconforto.

A mulher com ternura, desfez o abraço. Abri meus olhos vagarosamente, e o Reino dos Espíritos ainda me acolhia, o espírito de cabelos brancos e olhos de ametista, estava diante de mim perplexo.

— Por que persisto aqui? — inquiri, buscando entender.

— Desconheço tal enigma. — respondeu, semblante intrigado.

— Imaginava que espíritos soubessem de tudo!

— Somos, por certo, mais sábios que os humanos, mas nossa existência permeia planos distintos. Raros são os contratos que tecemos com vossa espécie, daí nossas limitações no entendimento de vosso reino. — respondeu, com o semblante enrugado, claramente incomodada com minhas palavras.

— Não a quis ofender, perdão!

— Tudo bem! Mas, cautela ao falar com o Ancião, humanos não são bem vistos por todos em nosso reino. Fiques atenta em suas palavras, quando com ele falar.

— Por que conduzi-me a alguém assim? - disse, aflita, em tom de súplica.

— Ele é o Espírito mais antigo, cuja energia transcende a união de todos os reis espirituais. Na era dos portais abertos, ele respirava um tempo onde os espíritos, livres, deslizavam para além deste reino sem invocações.

— E por que nutre aversão aos humanos?

— Pois os veem como a raça mais traiçoeira, semelhante a demônios, seduzidos por um desejo insaciável de poder. Vossas tentativas de roubar nossa energia resultaram em vidas perdidas entre os espíritos.

— Não me alinho a tal índole!

— Sei disso, percebo a pureza que emana de tua energia. Mais pura do que a de um Elfo, o que, por si só, é um enigma. 


As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt