4. Decisão

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Os magos, portando equipamentos imponentes, ergueram uma grandiosa barreira ao redor daquilo que, um dia, fora minha vila. Os soldados permaneciam vigilantes, enquanto a magia de detecção de inimigos pulsava em atividade. Após três horas de preparativos, um grito ecoou:

– Capitão, detectei inimigos ao norte daqui.

– Quantos?

– São cerca de 500... Não, 800 ou mais..."

Uma onda de perplexidade tomou conta de todos; um exército colossal de monstros se aproximava.

– O que são? Qual é o ranqueamento deles? - indagou o Capitão.

– São goblins de rank F, orcs de rank F, lobos brancos de rank D, gatos com chifres de rank C, e outros menores. Uma horda dessa magnitude seria classificada como dificuldade A ou superior.

– Agora compreendo como aqueles três pereceram. - O Capitão refletiu em voz alta.

– Três? - questionei.

– Sim, Zion também. - ele respondeu.

– Como o tio Ri?

O capitão voltou seu olhar para mim e sorriu.

– Zion era um aventureiro de Rank A, mas sua equipe ostentava o prestigioso Rank S. Ele era tão renomado quanto seus pais. Apesar das desavenças, tornaram-se amigos após um incidente.

Fiquei surpresa. Sabia que o tio Ri era forte, mas não imaginava sua verdadeira magnitude. Um aperto no coração me atingiu ao recordar dele bagunçando meu cabelo e prometendo compartilhar suas histórias mais tarde. Em meio ao perigo iminente, divaguei por minhas memórias, incapaz de evitar o pensamento nas pessoas que perdi de uma só vez.

– Elena, preciso que te ocultes. Adentra aquela cabana montada e não saias até que eu te chame. Segura esta pedra contigo; em caso de perigo, usa-a.

O Capitão instruiu, retirando do bolso uma pequena pedra vermelha cravejada de runas.

– O que é isso? - indaguei enquanto segurava a pedra.

– Uma pedra de teleporte, ainda em desenvolvimento. Nunca foi usada em seres humanos. Entretanto, caso os monstros rompam nossa barreira, deves utilizá-la. Insere uma pequena quantidade de magia e mentaliza para onde desejas ir.

– Não posso aceitar, é valiosa demais.

– Quero que a uses se for necessário. Existem apenas dez delas por enquanto; por isso, não as usamos para chegar aqui mais rapidamente. Seria necessário uma para cada soldado ou uma de dimensões enormes.

– Mas se eu usar... O senhor... - meus olhos começavam a se encher de lágrimas.

– Eu já disse antes, não é? Um verdadeiro soldado se alegra em salvar uma vida. E serás nossa cobaia!

Ele sorriu.

Segurei aquela pequena pedra com firmeza e dirigi-me para dentro da cabana. Lá, conseguia ouvir o choque de armas dos soldados contra algo, os gritos dos monstros e o ecoar das magias. 

Meu corpo, ainda em recuperação do choque anterior, sentiu-se tomado pelo desespero. Inicialmente, permaneci encolhida em um canto, mas logo comecei a caminhar de um lado para o outro. Decidi espiar pela fresta da porta e deparei-me com uma cena surreal.

Diante da minha cabana, havia um pequeno garoto, com cerca de 5 anos. Ele observava atentamente o local.

"Seria um sobrevivente?" - cogitei.

Jamais havia visto aquele menino em minha vida. Percebendo que estava sendo observado, ele procurou ao redor até que seus olhos encontraram os meus. Nesse momento, um arrepio percorreu minha espinha, indicando que aquele ser não era humano.

Inúmeras dúvidas invadiram minha mente. Como ele passara despercebido pelos guardas? Como ninguém o notara antes? Apesar de sua aparência humana, algo internamente indicava o contrário. Ele fixou o olhar em mim por alguns minutos e murmurou:

– Perdoa-me, não consigo controlá-los, alguém está usando..."

Desfaleceu antes de concluir a frase.

Saí da cabana e peguei-o no colo; estava extremamente magro, com feridas e cicatrizes profundas por todo o corpo. Apesar do medo, decidi salvar aquele pequeno garoto.

A batalha lá fora continuava, com os soldados conseguindo suprimir os monstros após horas de combate. Houve muitas baixas, e o Capitão estava gravemente ferido, com um corte profundo no abdômen. Lembrei-me das pessoas que vi sendo mortas diante de meus olhos; meu corpo congelou novamente.

"Por que isso acontecia com tanta frequência? Por que, no dia do meu décimo aniversário, todos estavam morrendo?" - indaguei a mim mesma.

Quando começaram a fazer os primeiros socorros no Capitão, percebi a ausência de magos de suporte.

– Onde estão os magos curandeiros? - inquiri.

– Não há nenhum acordado no momento; todos entraram em colapso devido à falta de reserva de mana. Esgotaram todas as poções de recuperação possíveis, mas não foi suficiente. Foram ondas atrás de ondas, não tivemos tempo para nos recuperar. - o soldado de cabelos vermelhos, que depois descobri que se chamava Gian, respondeu.

– Nunca aconteceu algo assim antes. - o soldado, ainda enfaixado, falou.

– Entre os magos de batalha, não há nenhum que domine magia de cura? - perguntei.

– É extremamente raro um mago de batalha aprender ou ter afinidade com magia de cura. No passado, havia apenas um muito famoso, seu nome era Carlos. - uma voz se fez ouvir.

– Era meu pai... - murmurei, mas alguém ainda ouviu.

– Então ele está entre as vítimas? - indagou a pessoa.

– Júlio! - Gian repreendeu quem fizera a pergunta.

– Sim... - respondi com a voz embargada pelo choro.

– Realmente o que aconteceu aqui não foi normal. Nunca em toda a história houve um ataque dessa magnitude. Um monstro capaz de matar vários aventureiros de Rank A deve ser, no mínimo, Rank S. Mas considerando as ondas de ataques coordenados e consistentes que acabamos de enfrentar isso não se faz tão surpreendente. - Gian observou.

– É difícil de acreditar que não havia sinal de monstros há apenas 7 dias. Uma invasão dessa magnitude levaria no mínimo 3 meses e perceberíamos o acúmulo de energia nas proximidades. - Júlio ponderou em voz alta.

– Realmente foi obra dele! - uma maga que aplicava medicamentos no capitão respondeu.

– Você teve a sorte de estar viva. - Gian dirigiu o olhar para mim.

– Eu não diria sorte. - retruquei.

Todos mantiveram-se em silêncio e deixaram a tenda, permitindo que o capitão descansasse.

Passaram-se mais de duas horas, e não havia sinal de que o Capitão ou os magos de cura acordariam. Alguns afirmavam que a sobrevivência dele era improvável. Era impossível usar a pedra de teleporte em uma pessoa inconsciente; seria necessário uma pedra de teleporte dupla, mas essa ainda não existia.

Recordei-me dos ensinamentos do meu pai sobre ervas medicinais que temporariamente melhoravam a mana, juntamente com uma magia de cura.

Saí da tenda rapidamente, mas antes, verifiquei o menino que havia salvo. Ele dormia debaixo de uma mesa, coberto com um tecido que eu havia encontrado. Ninguém o havia percebido, tão exaustos e feridos estavam todos.

Dirigi-me para o lado norte da vila, de onde as bestas haviam surgido. O amanhecer se aproximava, mas a escuridão ainda reinava. Meu aniversário, junto com aquele pesadelo, havia finalmente acabado fazendo meu corpo tremer com as lembranças, mas eu estava decidida a salvar aquele homem.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Where stories live. Discover now