12. Bosque dos Aprendizes

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Antes mesmo de o primeiro raio de sol acariciar o horizonte, eu emergia do sono, pronta para abraçar as aventuras que aguardavam desdobrar-se diante de mim.

— Acho que está muito cedo para ir para o Bosque! — pensei enquanto tomava uma tigela de cereais com leite morno.

Minha recém-adquirida morada situava-se nas imediações do campo de treinamento e da entrada do Bosque Encantado. O caminho até o Bosque era curto, uma tentação palpável. Decidi, assim, revisitar os escassos objetos que resguardava, vestígios preciosos das lembranças de meus pais. Ao empunhar a espada encantada que um dia pertencera à minha mãe, cheguei a retirá-la da bainha, porém me contive, recordando os sussurros de advertência acerca dos perigos que aquele artefato encantado representava.

Ao passar uma hora, a percepção de que logo me reuniria com os outros dois aprendizes tomou conta de mim. Sob os primeiros raios do sol matinal, excitada, organizei apressadamente meus pertences e me dirigi apressadamente em direção ao pequeno bosque.

Como era de se esperar, fui a primeira a chegar, considerando minha proximidade. Pouco depois, surgiu Alice, descendo de uma esplêndida carruagem apenas alguns minutos após a minha chegada. Era evidente que ela pertencia à nobreza, emanando uma presença distinta.

— Aquele irritante está atrasado! — resmunguei, observando os outros aprendizes adentrarem o bosque.

— Talvez ele esteja ocupado cuidando dos irmãos mais novos. Ontem, mencionou que é o irmão mais velho de sete e ajuda a mãe todas as manhãs. — explicou Alice.

— Quando ele disse isso? — perguntei incrédula.

— Logo depois de termos deixado você em casa.

— Tenho pena dessas crianças!

— Nós também somos crianças! — Alice sorriu ao responder, desfazendo a tensão com sua leveza.

Rayon surgiu à distância, correndo. Seus cabelos estavam desalinhados como sempre, e, logo pela manhã, exibia um semblante fatigado, como se já tivesse enfrentado desafios antes mesmo do sol se erguer por completo.

— Você está atrasado! — resmunguei.

— A ponto de sentir minha falta? — provocou Rayon.

Revirei os olhos, e juntos, adentramos o pequeno Bosque ao sul da Capital. Era um lugar repleto de vegetação variada, árvores majestosas, plantas exóticas e ervas mágicas. Apesar de ser denominado como "pequeno bosque", servia como portal para uma vasta floresta, atravessada por um rio serpenteante. A atmosfera parecia serena, com pequenas criaturas mágicas saudando-nos à entrada.

Naquele dia, ao contrário do anterior, ao penetrarmos na floresta, senti um calafrio percorrer minha espinha, causando arrepios e tremores.

— Você está bem? — perguntou Alice.

— Sim, só uma sensação ruim. Deve ser porque estou perto dele! — apontei para Rayon, provocando-o.

— Sente borboletas no estômago? Não é cedo demais para estar apaixonada? — retrucou ele, com um sorriso malicioso.

Fingi não ouvir e continuamos nossa jornada.

— Demoramos demais, os monstros mais fracos já foram caçados. Olhem a quantidade de cristais deixados para trás! — Rayon expressou desapontamento.

— Se você não fosse tão teimoso, teríamos começado há muito tempo — reclamei.

— Me ame menos, por favor! — provocou-me novamente.

Mesmo não gostando das provocações, percebia que isso me distraía do fato de que, em breve, enfrentaria monstros novamente.

— Ei, coroa de abacaxi, por quanto vende os cristais de Slime e de Besouro Ladrão? — perguntei enquanto recolhia cristais pelo caminho.

— Hmm! São necessários cerca de 15 cristais desse tipo para conseguir 1 de bronze.

— São muito baratos!

— Por isso foram deixados para trás. Não valem muito e são fáceis de conseguir. Além disso, a natureza os absorve rapidamente. Eles não geram muita energia ou miasma.

Mesmo sabendo o quão baratos eram, decidi recolhê-los, pois seriam minha única fonte de renda após um ano. Demoraria um tempo até conseguir matar um monstro forte e me matricular no Grêmio de Aventureiros. Isso só aconteceria após a graduação na Academia de Batalha.

Estávamos nos aproximando da área delimitada como segura para aprendizes, e até o momento, não tínhamos encontrado nenhum monstro vivo. Confesso que senti um certo alívio por não tê-los avistado.

Caminhamos por mais alguns minutos e encontramos mais cristais no chão. Desta vez, os rastros se estendiam além da área demarcada como segura.

— Isso é estranho! — Rayon abaixou-se para pegar um cristal de monstro e começou a examiná-lo. — Este é um cristal de monstro Rank F, não é algo que alguém deixaria para trás facilmente. Custa no mínimo 1 de bronze. — continuou analisando a pequena pedra.

— Algum aprendiz já atingiu o nível 5 ou mais? — Alice perguntou admirada.

— Não acredito que seja o caso! E mesmo que fosse, há uns 20 cristais pelo caminho. Quem em sã consciência deixaria tantos para trás? Fora o fato mais estranho... — Rayon ficou sério, interrompendo-se subitamente.

Alice e eu nos olhamos. Nesse curto espaço de tempo que nos conhecemos, uma coisa era certa, Rayon não era do tipo que ficava calado, ele sempre tinha alguma coisa para falar.

— Por que estás tão sério? — indaguei.

— Não há corpos!

Até aquele momento, essa possibilidade não me ocorrera; realmente, não encontramos cadáveres de monstros, apenas seus cristais.

— Esses cristais devem ser antigos, os monstros já se desfizeram! - afirmou Alice, em um tom observador.

— Se assim fosse, onde estariam os ossos? — questionou Rayon.

Rayon e Alice começaram a divagar sobre possibilidades, enquanto eu os observava. Meu entendimento sobre monstros limitava-se a seus pontos fracos, poder de ataque e ranks; nunca havia aprofundado meu conhecimento sobre seus comportamentos. Percebi, naquele instante, que minha compreensão era superficial e que os monstros eram muito mais complexos.

— Não necessariamente. Slimes ou besouros ladrões poderiam ter consumido os restos mortais! — explicou Alice.

— Se eles tivessem alcançado esses monstros, não haveria sequer os cristais. Não sabes que eles devoram tudo, desde os ossos até os cristais? — indagou Rayon.

— Tens razão! — concordou Alice com ele.

À medida que o tempo avançava, as respostas se tornavam sombras inconstantes, dançando na penumbra da incerteza. A permanência naquele recanto outrora familiar agora adquiria contornos de um enigma sutilmente perigoso, onde o desconhecido se entrelaçava com a fragilidade do momento. Uma hesitação sutil pairava no ar, tecendo dúvidas que se multiplicavam como folhas ao vento, desafiando a coragem de permanecer em um cenário que se metamorfoseava em um labirinto de possibilidades desconhecidas.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora