As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!

23. A historia por trás da gratidão

Após dias de encontros, Yumi desvelou-me que possuía dois irmãos mais novos, ambos imersos no treinamento do primeiro esquadrão no reino de Ettore. Numa dança de lealdade comum entre os reinos, Ethel frequentemente enviava indivíduos para Ettore e vice-versa, tal qual Xion, que foi destinado a concluir seus estudos na academia de Ethel.

Os dois irmãos de Yumi foram convocados para a contenda em Libã, ambos ostentando a categoria D. O mais jovem, um mago de suporte chamado Estevan, enquanto o irmão do meio assumia o papel de cavaleiro, respondendo pelo nome de Julian.

Recordei-me do cavaleiro de cabelos azuis que se encontrava ao lado de Gian quando tomou das minhas mãos a pequena vasilha com extrato de Eiris, uma tristeza sutil se apossou de mim. Yumi compartilhou a dolorosa história de Estevan, envolvido em um embate contra um lobo de fogo chamado Balefire durante a última investida. Estes lobos, ágeis e poderosos, eram categorizados como Rank D, mas as três ondas consecutivas de ataques aos cavaleiros os haviam colocado perigosamente próximos do limite.

Julian, o irmão mais velho, desejando resguardar o mais novo, lançou-se na batalha, sendo, contudo, ferido na perna. Essa narrativa trágica ecoava em minha mente, um testemunho da coragem e sacrifício em meio às penosas consequências das investidas em Libã. 

Estevan, à beira da morte entre os feridos, e Julian enfrentando a possibilidade de perder a perna em poucos dias, lançaram uma sombra de tensão entre os dois reinos, potencialmente desencadeando um conflito iminente. A situação tornava-se ainda mais crítica, pois quase simultaneamente ocorreu um atentado à vida do Rei de Ethel.

Apenas a realeza e o Capitão Cleones estavam cientes de que, no meio dos soldados, encontrava-se o príncipe herdeiro de Ethel, em treinamento no primeiro esquadrão. Acreditava-se, erroneamente, que essa seria uma excelente oportunidade para que eles adquirissem sua primeira experiência em combate real, sendo, por isso, enviados para Libã. 

Somente posteriormente, um comunicado da Capitã Real de Ethel alertou sobre o atentado contra a vida do Rei, desencadeando uma trama intricada que ecoaria nos corações e destinos dos envolvidos.

Quando o Rei de Ettore tomou conhecimento do atentado em Ethel, convocou Yumi para auxiliar nas investigações. Surpreendentemente, no dia seguinte, recebeu a notícia da tragédia em Libã, onde o príncipe herdeiro e outros nobres de Ethel encontravam-se à beira da morte ou prestes a tornarem-se "incapacitados". O impacto foi avassalador na época, pois o reino deparava-se com a ausência de dois esquadrões. O que inicialmente o Rei imaginou ser uma simples missão de reconhecimento em Libã transformou-se em um doloroso massacre.

Diante da escassez de magos de suporte no reino de Ettore, tornou-se inviável enviar mais auxílio para o campo de batalha, uma perspectiva que poderia resultar em desastre ainda maior. O desespero dominava até que, surpreendentemente, a notícia ecoou: todos haviam sido salvos por uma única pessoa, e essa pessoa era uma criança. A esperança, que parecia escassa, floresceu novamente com a revelação de um salvador inesperado.

Mas, visando minha proteção contra nobres e aqueles que poderiam me utilizar como um experimento, o Rei optou por manter isso em segredo, proporcionando-me a chance de levar uma "vida normal". Embora fosse profundamente grato, ele não podia mostrar interesse direto devido às complexidades que envolviam ambos os reinos.

Yumi permanecia alheia aos boatos circulando em Ettore sobre a "menina amaldiçoada". Sabia apenas que eu havia sobrevivido a mais uma catástrofe, mas desconhecia o título atribuído a mim pelos cidadãos da capital.

— Se Vossa Majestade é tão grata, por que permite que me tratem assim? — indaguei a Yumi.

— Acredito que se ele demonstrar muito interesse em você, ficará mais visível. Nem deveria ter lhe contado tudo isso, mas ainda não descobrimos quem ordenou o assassinato do Rei de Ethel.

— Então, por que está me contando?

— Para que saiba que não está sozinha e que tudo isso passará um dia! Até que esse momento chegue, continue sendo forte! — Yumi expressou, com um brilho esperançoso nos olhos. 

No auge do inverno, Yumi foi remetida de volta a Ethel. Durante as semanas que ela compartilhou em Ettore, nunca experimentei solidão. Contudo, agora, sinto o frio tornando-se mais penetrante. Embora os olhares de desdém tenham diminuído um pouco, a maioria optou por me ignorar.

"Preciso encontrar uma solução para viver!" – refleti, observando a quantia restante no meu cartão mágico do banco. Teria um pouco mais de três meses para sobreviver com aquele montante. Devido aos rumores, as poucas pessoas dispostas a vender para mim cobravam o dobro ou triplo do valor. Isso fez com que o dinheiro dado pelo Capitão se dissipasse mais rapidamente. O inverno persistia, e eu precisava encontrar uma maneira de enfrentar os desafios que se apresentavam.