36. Acusações

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Após a indagação, as expressões de Alev e Lucian transformaram-se, todos ali passaram a acusar Yuri de algo. 

— O QUÊ? – ela questionou, incrédula.

— Isto não foi uma pergunta retórica, quero que me responda corretamente. 

— Quem o senhor acha que eu sou? Acha que eu usaria uma criança para tentar enganá-los? Eu nunca iria tão longe! Perdi a fé em vocês, isso é muito decepcionante! 

Com a cabeça baixa, Yuri chorava em silêncio. Aquilo partiu meu coração; ela estava sendo acusada falsamente. Isso me causou indignação, por algum motivo uma fúria surgiu dentro de mim, fazendo-me vencer o medo.

Desviei-me do colo do Ancião, desafiando o protocolo estabelecido. Corri em direção a Yuri, abraçando-a com firmeza. Encarei, sem temor, o imponente Ancião, e minhas palavras brotaram com confiança. 

— Velho tolo! Como se atreve a falar com minha Yuri dessa forma? Nem mesmo em pensamento desejo que seja meu avô!

O Ancião e todos os presentes ficaram atônitos com minha atitude. Ninguém imaginaria tal comportamento vindo de mim, que até então demonstrava ser como um cordeiro dócil, aceitando tudo sem questionar. Contudo, naquele momento, mesmo ciente de que ele poderia extinguir minha existência, assim como qualquer outro ali, não consegui permanecer em silêncio. Algo ardente pulsava dentro de mim, concedendo-me a coragem de encarar quaisquer consequências, sem temor pelo que poderia ocorrer. Não sabia ao certo quando me enchi de tanta ira, mas ao ver Yuri naquele estado novamente, uma tremenda indignação se apossou de mim.

Continuei a proferir verdades para aqueles espíritos repugnantes que haviam causado tristeza em Yuri. No fundo, eu sabia que ela estava apenas tentando ser forte, mas cada uma daquelas palavras maldosas a feriam profundamente. 

— Vocês são todos tolos! – apontei para a "plateia" que estava estarrecida com minha ousadia. — Eu nunca ouvi falar da tal Agnis, não sei quem é ou quem foi, desconheço suas características físicas ou psicológicas. Todos aqui conseguem sentir se estou mentindo ou não, então por que duvidam da Rainha Yuri?

Alguns cochichos começaram, Ayra levantou-se de seu trono e veio em minha direção. 

— Inseto repugnante, como ousa falar assim conosco? Eu estava quieta até agora porque o Ancião havia demonstrado interesse em você! Mas já chega de nos amaldiçoar com essa pequena boca imunda.

Diante de Ayra, ergui um olhar destemido, repleto de ira. A expressão que se formava em meu rosto era um mistério até para mim, e, mesmo sem certeza de que a imponente Rainha do vento recuaria diante de um semblante severo, ela deu um passo para trás e manteve-se em silêncio.

 Voltei-me para Yuri, limpando suas lágrimas com ternura.

— Sozinha não estarás! — murmurei, buscando consolá-la. 

Inspirei profundamente e encarei os espíritos mais uma vez.

— Eu nunca me detive a pensar se sou uma "reencarnação", pois isso é irrelevante! O que importa é o presente, se já "morri" uma vez, isso já é passado. Aqui e agora são o que realmente importam. Vejo todos vocês apegados ao passado, talvez porque, como seres quase imortais, não conseguem esquecer facilmente o que aconteceu. Nessas horas, agradeço por ser humana, pois se temos "várias reencarnações", temos a bênção de viver uma vida nova a cada uma delas, esquecendo tudo que passou, começando do zero e aprendendo coisas novas constantemente.

O silêncio ecoava pelo vasto salão, nenhum murmúrio ousava desafiar a quietude, apenas minha voz se dispersava pelos quatro cantos daquele recinto majestoso.

Desvendei minha pequena bolsa, um relicário de possibilidades, onde repousava uma maçã e uma fruta desconhecida de aparência singular colhida nos pomares, destinada a ser saboreada em um momento posterior.

Com delicadeza, extraí a maçã da bolsa, expondo-a à visão de todos, proferindo:

— Na verdade, provei uma dessas maçãs, Yuri não mentiu. — Dei uma ousada mordida na fruta, mastiguei com destemor, engolindo-a com graciosidade e como previsto, nada ocorreu após consumi-la.

Olhares estupefatos testemunhavam minha coragem, desafiando as alegações de que os humanos não podiam deleitar-se com tais iguarias.

— Esta moça é tão audaciosa quanto você, Yuri! E isso me faz recordar alguém! – Lucian declarou, aproximando-se da Rainha com um sorriso peculiar.

— Isso é intrigante. No entanto, mesmo sendo a única humana a degustar esta maçã e sobreviver, isso não constitui uma prova concludente! — ponderou Ayra.

— Pobre alma, tão ávida por auxiliar Yuri que resolveu arriscar-se. Ao menos, distingue-se do restante dos humanos. — expressou Gaya, a Rainha dos Espíritos da Terra.

— Chega com tudo isso! — exclamou o grande Espírito Ancião. — Já tivemos o bastante por hoje! Apesar de algumas semelhanças e uma aura que evoca Agnis, nada foi comprovado e parece que continuará assim. Portanto, mesmo que isso me cause tristeza, eu, como líder de todos os Espíritos, retiro definitivamente o título de Rainha de Yuri. Será rebaixada a um espírito intermediário, e nunca mais convocará esta assembleia!

Palmas ressoaram pelo salão, mas Gaia, Lucian e Alev expressavam tristeza diante da decisão do Ancião. Yuri, visivelmente abalada, perdeu o brilho nos olhos, enfrentando uma derrota avassaladora. 

Incapaz de aceitar passivamente aquela situação, decidi levar minha ousadia ao extremo. Tirei da minha bolsa a fruta de aparência singular. Ao apresentá-la ao salão, o alvoroço transformou-se em silêncio, e a expectativa pairou no ar por alguns preciosos instantes.

— Aquela era uma Duriar? A fruta rara do reino dos Espíritos? Onde a encontrou? — indagavam alguns espíritos, repletos de curiosidade. 

— DE ONDE TIROU ESSA DURIAR, CRIANÇA? — Alev exclamou em voz alta.

Eu permaneci em silêncio. A verdade é que eu não sabia o que era aquilo. A fruta chamou minha atenção pela sua beleza singular, surgindo de repente na mesma árvore onde eu havia colhido a maçã. Pensei que poderia ser uma variedade diferente, algo exclusivo do reino espiritual, algo que Yuri sequer havia notado.

Ao perceber a surpresa de todos diante da Duriar dourada, decidi ousar e prová-la, mesmo sentindo uma voz interna me advertindo para não fazê-lo. No entanto, ignorei a cautela e dei uma mordida na fruta proibida.

Minha consciência começou a se esvair, a imagem de Yuri chorando e aflita correndo em minha direção foi a última coisa que eu vi.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora