21. Um dia em Outono

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O ano estava prestes a chegar ao seu fim, e eu ainda era apenas uma aprendiz, sem uma profissão e incapaz de encontrar emprego em qualquer lugar.

"Parece que estou verdadeiramente amaldiçoada!" - refleti enquanto percorria as ruas da cidade, envolta por uma capa que ocultava todo o meu corpo e rosto.

Minhas esperanças estavam quase se extinguindo. O capitão não havia retornado à cidade, eu não conseguia contatar Gian, e Xion estava distante demais.

"Até quando viverei dessa maneira?" - indaguei, soltando um longo suspiro. Continuei vagando pela cidade em busca de trabalho, pois o outono se encaminhava para o fim e um longo inverno se aproximava.

Meu coração estava apertado, incapaz de vislumbrar uma solução.

— Ei, criança! — alguém chamou.

Girei minha cabeça em busca da origem daquela voz feminina.

— Estou aqui atrás! — ela disse novamente.

Ao olhar para trás, deparei-me com uma bela mulher de pele bronzeada e longos cabelos azul-escuros, seus olhos tão azuis quanto a tonalidade mais profunda do oceano.

— Eu? — perguntei, surpresa e apreensiva.

— Vê mais alguma criança por aqui? — ela respondeu com um leve sorriso.

Balancei a cabeça negativamente.

— Está com fome? — ela indagou.

Novamente, balancei a cabeça negativamente, o que fez com que a expressão da mulher se tornasse séria e desconfiada diante de mim.

— Não precisa ficar com medo. Olha só! — a mulher inseriu a mão no bolso de seu sobretudo, revelando um brasão do Império concedido exclusivamente a cavaleiros. — Viu? Não sou uma pessoa má; sou uma cavaleira do 6º esquadrão. Meu nome é Yumi Berton.

Surpresa e ainda apreensiva, questionei:

— O que você quer comigo? Eu devo retornar ao Palácio?

— Não vim para te levar de volta. Vim apenas para te agradecer! — Yumi falou com ternura.

— Agradecer por quê? Não fiz nada que mereça agradecimento. — inquiri desconfiada.

Yumi ficou incrédula diante do que eu disse, soltando um breve suspiro em resposta.

— E os soldados que você salvou?

— Como você sabe disso? – fiquei perplexa; como aquela mulher diante de mim tinha conhecimento dessa informação? Aquele brasão não era o mesmo que os soldados que participaram da incursão para a vila Libã.

Após o ataque à minha vila, o Rei manteve em sigilo qualquer notícia sobre mim e os ataques subsequentes às tropas. Ficou acordado que qualquer soldado que testemunhasse meu estado como estatua de Eiris não deveria mencionar nada. Então, como ela estava ciente disso?

— Venha, vamos comer algo! – Yumi disse, segurando minha mão.

Pude perceber sinceridade em suas palavras e ações; o medo estava se dissipando, e uma sensação de alívio crescia dentro de mim. Pela primeira vez em muito tempo, alguém não me ignorava ou lançava algo contra mim.

Entramos em um pequeno estabelecimento. Quadros decoravam as paredes, detalhes em dourado adornavam os portais e portas, e vasos sugeriam serem de grande valor.

— Ei moça, este lugar parece ser caro! – sussurrei para Yumi.

— Não se preocupe com isso, você é minha convidada especial! – Yumi sorriu amplamente.

Sentamo-nos perto de uma ampla janela, que proporcionava uma vista para um exuberante jardim, com um grande lago. Mesmo sob a chuva, a paisagem era deslumbrante.

— Por que não tira a capa? – Yumi perguntou, percebendo meu desconforto.

— Se eu tirar... bem, não poderemos ter uma refeição tranquila. Eu não sou uma nobre!

Yumi arqueou uma de suas sobrancelhas e resmungou.

— Deixe de bobagem. Por que não teríamos uma refeição tranquila? Estou com você, e apesar de ser da nobreza, detesto esses títulos. Prefiro a simplicidade. Além disso, este é o melhor restaurante na cidade. Poucas pessoas vêm aqui, e esta é uma pequena maneira de eu expressar minha gratidão.

Após muita insistência e, mesmo relutante, decidi remover a capa. Imediatamente, alguns sussurros começaram a circular pelo local, resultando em olhares hostis sendo direcionados a mim. Senti-me completamente constrangida e recuperei minha compostura cobrindo-me novamente com a capa.

Um homem alto, ostentando um fino bigode e vestindo um terno que exalava luxo, aproximou-se de nossa mesa.

— Preciso pedir que se retirem; os demais clientes estão incomodados. – disse ele, com uma voz áspera e séria.

— Quem essas pessoas pensam que são? Como ousam nos tratar assim. – Yumi falou em voz alta.

— Senhora, por favor, não piore a situação!

— Como assim, piorar? Estava tudo bem até agora. Só porque trouxe alguém que não faz parte da nobreza comigo, vocês a estão discriminando? – Yumi estava indignada com a situação.

— O problema não é por ela ser plebeia, mas pelo fato de SER ELA! – o homem apontou para mim.

— O que tem ela? É apenas uma garota...

— Por favor, senhorita Yumi, vamos sair daqui! – a interrompi, segurando a manga de seu sobretudo.

Sentia-me completamente envergonhada. A situação era humilhante. A senhorita Yumi parecia sincera e inocente em relação aos boatos.

— Mas, Elena, não posso permitir que nos humilhem dessa forma!

— Está tudo bem! Já me acostumei com isso.

— O que quer dizer exatamente com "isso"? Não entendo por que as pessoas estão te tratando assim.

— Parece que a senhorita está fora da cidade há muito tempo! Permita-me informar que está associada a uma pessoa considerada amaldiçoada. A senhorita deveria escolher melhor com quem se envolve...

Yumi estava ruborizada, seus olhos faiscavam com intensidade, e a raiva em sua expressão era evidente. Ela virou-se abruptamente e interrompeu as palavras daquele homem com um soco em sua face, fazendo-o tombar no chão. A surpresa tomou conta de todos no local diante daquela ação inesperada.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Où les histoires vivent. Découvrez maintenant