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— O que você fez com Ludville? — Harry perguntou a Robards naquele mesmo dia.

Robards estava tomando seu chá da tarde, como sempre, como se nada no mundo pudesse dar errado.

— Temo que você terá que ser mais específico.

Harry cerrou os dentes.

— Lorica Ludville. A pessoa que prendi ontem por posse de uma poção altamente ilegal. Por alguma razão, ela já foi retirada de Azkaban.

— Oh, ela, — disse Robards, tomando um gole de chá.

Harry resistiu à vontade de jogar algo nele.

— Sim, ela, ou havia outros suspeitos desfilando por aí dizendo que o Auror Vance faz parte de uma rede de poções ilegais e vem ganhando dinheiro com isso há anos?

— Isso foi refutado, — disse Robards calmamente, mexendo um pouco o chá. — Ela tinha aquele antídoto para Veritaserum.

— Bom. — Forçando seus ombros a relaxarem de propósito, Harry respirou fundo. Então ele fez isso mais uma vez. — Sinto que, começou ele, com sua voz mais séria, — alguém assim, alguém que acusaria um dos nossos, é alguém em quem deveríamos ficar de olho. Eu não gostaria que ela fizesse mais acusações falsas.

Os olhos de Robard se estreitaram.

Harry fez o possível para parecer inocente.

Colocando a xícara e o pires no chão com um estrondo, Robards disse:

— O Departamento de Mistérios vem trabalhando em um caso envolvendo Ludville há meses. Sua prisão interferiu. Enviei a transferência para os Inomináveis ​​como um gesto de nossa disposição de prosseguir a seu critério futuro. Não há mais nada que possa ser feito, Auror Potter. Os Inefáveis ​​têm isso daqui.

— Eu entendo, — disse Harry.

Ele realmente entendeu. O Departamento de Mistérios era um buraco negro onde as informações entravam e nunca mais saíam. Cada vez que os Inomináveis ​​se envolviam, o Gabinete dos Aurores tinha que largar tudo e deixá-los tomar as rédeas. Harry já havia reclamado disso antes, e Robards também, foi uma das poucas coisas em que eles concordaram. Se Robards quisesse fazer um caso desaparecer, tudo o que precisava fazer era alegar que ele havia sido entregue ao Departamento de Mistérios.

Hermione era indescritível, mas, embora fosse a melhor amiga de Harry, era dedicada ao trabalho. Ela nunca revelaria nada sobre um de seus casos, nem mesmo se o caso fosse realmente deles. Robards levou Harry direto para um beco sem saída. Não havia mais para onde ir.

No entanto, este caso foi maior que Ludville. De acordo com a declaração de Ludville, Vance esteve envolvido no comércio ilegal de poções durante anos, e a tinta azul-celeste na mesa de Savage não poderia ter aparecido ali de repente. Era possível que ele a tivesse usado antes, e ela e Vance estivessem ligados de alguma forma. Dirigindo-se a Kirkley Zidwidley na sala de Arquivos, Harry pediu (em voz alta) para ver todos os casos em que Savage havia administrado a solução do indicador.

— Não classificamos os arquivos dessa forma, — disse Zidwidley. — Você terá que encontrá-los sozinho.

Harry começou a levar arquivos para casa, apenas alguns no início, até encontrar um padrão. Os casos em que Savage administrou a solução indicadora envolviam poções, e cada poção continha um ingrediente de algum lugar da região do Golfo do México: lágrimas de crocodilo em Woodeye Bleach, saliva de jaguarundi em Potion of Fear, até mesmo pimenta malagueta em Siren's Tongue Powder.

Harry se lembrou de ter pesquisado os ingredientes daquela região antes. O Sleep Hit continha escopolamina, uma substância química extraída de uma árvore da América Central, mas Harry havia pesquisado o Sleep Hit muito antes de Malfoy desenvolver aquela solução traçadora. Harry teve que voltar ainda mais no tempo, obtendo mais casos antigos em Arquivos. Lentamente, o escritório do Largo Grimmauld foi se enchendo de caixas quando Harry finalmente encontrou outras conexões: o Veneno de Petrificação feito de coral chifre de alce, encontrado no Mar do Caribe, as escamas de tartaruga na Poção do Esquecimento, a Coca no Filtro do Sonhador. Até mesmo a essência dos Demônios do Pântano, que estava no Ragerade, também podia ser encontrada em alguns pântanos da Flórida.

O Golfo do México era uma área grande, mas algo ligava cada um dos casos; Harry só precisava descobrir o quê. Embora todas as poções tivessem sido preparadas por pocionistas diferentes, elas poderiam ter o mesmo fornecedor de ingredientes, alguém que viajasse frequentemente para a região do Golfo, por exemplo, ou tivesse conexões lá. Além disso, em alguns casos, havia indícios de algo que Ludville havia dito: que havia outro ingrediente que este fornecedor procurava, algo mais poderoso e precioso do que qualquer outro ingrediente ilegal combinado.

O problema era que Harry simplesmente não era inteligente o suficiente para juntar as peças do caso. Alguns anos atrás, ele teria levado o assunto a Malfoy. Malfoy era brilhante e tão inteligente que via todas as conexões instantaneamente, exceto que Malfoy só se encontrava com hora marcada. Harry não sabia o que escrever para ele para marcar um encontro. Talvez um "Conte-me sobre coisas de Auror"? Eles costumavam fazer isso, mais ou menos. "Basta falar comigo como você costumava fazer"  foi o motivo da frase que Harry realmente queria colocar, mas era patética demais até para ele. Ao mesmo tempo, Harry não queria ver Malfoy sem hora marcada; ele tinha feito isso com pó de língua de sereia. Aquele pó havia começado algo que parecia o fim, e Harry não se importava de repetir a experiência.

Savage e Vance estavam envolvidos; provavelmente Robards também. Era melhor deixar os Aurores fora disso, até mesmo Ron; Harry não queria colocar Rony no meio de todo aquele problema. Além disso, Hermione sempre foi quem resolveu tudo. Harry não esperava que ela resolvesse o caso, mas precisava de outra perspectiva. Ele veio até ela uma noite quando Harry sabia que Ron estava de tocaia e começou a explicar a situação.

Eles sentaram na cozinha de Hermione e Ron, as crianças estavam dormindo. Os desenhos das crianças estavam pendurados nos armários e nas paredes, e havia um quadro de notas pendurado perto da geladeira, no qual estavam coladas as notas coloridas de Hermione para Rony. Sobre a mesa estavam os restos do bolo de melaço de Molly.

— Oh, o caso Ludville, — disse Hermione. — Não se preocupe com isso. O Departamento de Mistérios tem tudo sob controle. Tenho certeza que tudo ficará claro no final.

— Hum, — Harry disse. Com cuidado, ele colocou o garfo sobre a mesa. — Tem certeza de que deveria me dizer isso?

As sobrancelhas de Hermione franziram em confusão.

— Dizer o quê?

— Nada, — disse Harry, porque finalmente percebeu o que o estava incomodando nos desenhos ao seu redor. — Rose fez isso? —Harry disse, apontando para uma das fotos.

— O quê? Oh, — Hermione se virou para olhar o desenho. — Sim, ela está se tornando uma pequena artista.

— Eu não sabia que ela pintava, — disse Harry. — É uma cor muito bonita.

Hermione riu, olhando para as linhas curvas azul-celeste da pintura de sua filha.

— Oh, Harry, que estranho que você perceba isso.

— Sim, — Harry concordou. — Onde você conseguiu esse quadro?

— Ron o trouxe do trabalho para casa, — disse Hermione.

AWAY CHILDISH THINGSWhere stories live. Discover now