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Abril de 2007
Harry Potter: 26 anos
Draco Malfoy: 26 anos

Nos anos desde que Harry começou a ir ao apartamento de Malfoy para consultas de poções, eles desenvolveram uma espécie de ritmo. A princípio, Harry viu o uso da experiência de Malfoy como uma solução provisória até que o Departamento de Aurores pudesse investir em um laboratório de pesquisa adequado, ou até que Harry encontrasse um verdadeiro mestre de poções que pudesse oficialmente fazer o trabalho. Finalmente, Harry abandonou essa ideia. Robards não gostou da maneira como Savage usava atalhos, mas Harry aprendeu ao longo de quatro anos trabalhando para o Departamento que era a única maneira de fazer as coisas e, além disso, Malfoy não era um verdadeiro agressor. Na verdade, ele era muito mais respeitável do que a maioria dos informantes de Savage, que podem ou não estar cometendo crimes ativamente, e nenhuma outra pessoa conseguia identificar os ingredientes das poções ou as assinaturas ocultas dos pocionistas como Malfoy.

— Assinaturas ocultas? — Harry perguntou, na primeira vez que Malfoy mencionou isso.

— Sim, assinaturas ocultas, — Malfoy respondeu impacientemente, despejando o conteúdo de um prato em um recipiente, selando o recipiente e colocando-o na geladeira. — O que você acha que estive fazendo esse tempo todo?

Harry ficou momentaneamente distraído com a geladeira, já que os bruxos geralmente não as tinham. Malfoy precisava de uma, ele supôs, já que não tinha magia para manter a comida fria e conservada.

Malfoy estalou os dedos na cara de Harry.

— Sinto muito, — disse Malfoy, sem parecer arrependido, — estou entediando você?

— Hum, — Harry observou enquanto Malfoy limpava seu prato. — Eu interrompi seu jantar.

— Isso nunca te incomodou antes.

— Eu nunca fiz isso antes.

Malfoy apenas olhou para ele.

— Bem, se eu tivesse, você teria me contado, — disse Harry, sentindo-se insatisfeito.

— Eu teria impedido você? Desculpe, Auror Potter, você terá que esperar para salvar o mundo, já que estou ocupado comendo.

— E os cachorrinhos, — disse Harry.

— O quê? — Malfoy retrucou.

— Salvando o mundo e os cachorrinhos, — disse Harry, mas Malfoy apenas parecia confuso, e Harry percebeu que Malfoy não se lembrava daquela conversa no beco em frente ao Boticário do Sr. Mulpepper. É claro que não. Não foi uma conversa especial, e Harry só se lembrou dela porque... — Desculpe, de qualquer maneira, — disse Harry, só para esquecer isso. — Você deve comer mais.

— Devo o quê?

Harry sentiu um rubor começar a crescer em seu peito, ameaçando subir até seu pescoço. O peso e a cor de Malfoy continuaram a melhorar durante o último ano. Harry tentou não notar, mas isso ainda o incomodava. Incomodava-o que isso o incomodasse. Incomodava-o que isso o lembrasse de coisas nas quais não gostava de pensar.

— O que importa para você o quanto eu como? — A voz de Malfoy era baixa e irritada.

— Nada. — Harry não tinha ideia de por que pensava tanto nisso. Ele se sentiu estranhamente vazio por dentro.

— Você não tem ideia de como é não ter o suficiente, — Malfoy disse, — não é?

Malfoy não estava realmente fazendo uma pergunta, e Harry não interpretou isso como uma pergunta. Ele não pensava em si mesmo, porque isso não tinha nada a ver com ele. Afinal, Malfoy era um adulto.

— Por que você não cobra pela consulta?

— Desculpe? — Malfoy parecia horrorizado.

— Se o problema é dinheiro, — disse Harry, — Alby conseguiu o que queria.

— Você quer que eu solicite subornos? Eu sou um Comensal da Morte, Potter!

— Não subornos, — disse Harry. — Quero dizer, tenho certeza de que o Departamento de Aurores pagaria um investigador para fazer isso, se Robards não tivesse um pau na bunda.

— Eu não quero o seu maldito dinheiro, — Malfoy retrucou. — Quero me virar sozinho, sem que ninguém me diga que não mereço mais. Quero fazer magia sem correr o risco de me meter em problemas por isso. Eu quero ... — com o peito arfante, ele se interrompeu. Seu rosto estava manchado de cor.

Harry apenas assistiu, sentindo-se estranhamente vazio por dentro, uma sensação de distanciamento, porque isso ainda não tinha nada a ver com ele. Ele deveria sentir pena dele, Harry supôs. Hermione sentiria pena dele. Harry não era uma pessoa tão boa quanto Hermione, ele supôs.

Malfoy respirou fundo, mas quando falou, sua voz estava diferente, mais suave, de alguma forma.

— Você nunca teve...? Na guerra, quando ninguém acreditou em você. Você não queria provar o seu valor?

— Acho que provei meu valor, — Harry encolheu os ombros. — Todos acreditaram em mim no final.

O rosto de Malfoy se contorceu de impaciência.

— Eu quis dizer... sobre como você se sentiu. E quando você estava fugindo, sem lugar para dormir, quase nada para comer, e eles estavam te perseguindo? Como era naquela época?

As sobrancelhas de Harry se ergueram.

— Você se tornou psicólogo, Malfoy?

Malfoy fez uma careta.

— Estou tentando falar com você.

— Você está fugindo? — Harry persistiu. — Você está sendo perseguido?

Malfoy fez uma careta para ele.

— Não é a mesma coisa, Malfoy.

— Eu nunca disse que era, — disse Malfoy.

— Então por que você está tentando me fazer falar sobre isso? Está no passado.

— Correto. — Os ombros de Malfoy baixaram um pouco, e Harry não tinha percebido que eles estavam tensos até então. Mas Malfoy não parecia estar relaxando, parecia derrotado e Harry não pensou no porquê.

Harry era uma pessoa diferente quando criança: um órfão, trancado em um armário. Ele também tinha sido uma pessoa diferente em Hogwarts: um estudante, lutando numa guerra. Ele agora era um Auror. Eu tinha um emprego, amigos e uma paz mundial mágica. Tudo estava muito melhor. Harry não pensou nessas outras coisas.

Você nunca fala sobre seus sentimentos, Gina costumava dizer.

Talvez eu não tenha nenhum, ele respondeu quando terminaram.

— Então, — Harry disse, porque não queria mais falar sobre isso, — você ainda pode identificar aquela poção para mim?

— Dê para mim, — Malfoy estendeu o braço, a mão aberta em direção a Harry, mesmo que seu corpo ainda estivesse longe.

— O quê? —Harry disse surpreso.

— Qualquer poção estúpida que você deseja identificar, — disse Malfoy, — basta me dar.

— Oh. — Ainda se sentindo estranhamente vazio, Harry remexeu em suas vestes em busca da pequena garrafa.

Malfoy encontrou a assinatura oculta em questão, que era a de que a Poção do Esquecimento tinha escamas gigantes de tartaruga. Harry estava prestes a sugerir que Malfoy tomasse um pouco da poção, antes de lembrar que a substância era ilegal e causava todo tipo de problemas na mente das pessoas. Só que Malfoy parecia precisar de um pouco de esquecimento. Algumas coisas eram muito melhores quando você nunca pensava nelas.

AWAY CHILDISH THINGSHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin