PILOT.

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“Quanto mais perfeito por fora,
mais demônios tem por dentro.”

– Sigmund Freud.

  

  
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O som do meu arfar aumentava gradativamente, conforme meus sentidos iam retornando.

Alguma vez na vida você já fez uma besteira tão grande na qual teve certeza de que não haveria mais volta? — Não, deixe-me reformular a pergunta: — Você já fez algo tão terrível, que poderá ser capaz de acabar com toda a sua vida em apenas um piscar de olhos? Que sabe que não há mais conserto, e que todas as direções apontam para um terrível fim? Foi assim que acabamos aqui.

Eu abri os olhos, e tudo que via se resume a um cenário fúnebre de um filme de Slash, ali mesmo, na própria cidade do cinema, no entanto, este filme em que me ladeia, não acabaria quando as câmeras parassem de filmar, ou voz de fundo gritasse: CORTA!. Encerrando o roteiro daquele dia, e para que no outro, tudo recomece novamente.

Os móveis fora do lugar, objetos e vidraças quebradas, sangue espalhado por todos os lados e a escuridão, indicavam que ali foi palco de um violento conflito, em que resultou não apenas em uma, como em duas mortes. Estas que renderiam assunto para aquele fim de ano, e para os próximos que estariam por vir, não apenas por todo o seu mistério, como também, pelo motivo que resultou naquela tragédia...

“Ah, meu bom Deus...” Eu me dispus a pensar, no que sentia como se até o próprio, tivesse nos virado as costas, e tal como Adão e Eva sendo expulsos do paraíso, nós estávamos condenados para sempre. Acabou, fim da linha, letreiro subindo, luzes se apagando, cortina se fechando. Fim... É assim que a história termina.

O que pode soar irônico do ponto em que estamos agora, e de como acabamos nessa situação, em meio a uma casa escura e fria; A vidraça encontrava-se estilhaçada em centenas de cacos, esses que se espalhavam pelo chão cimentoso que contrastava com a grama verde do jardim. Em meio a eles, uma figura robusta estava da exata forma que caiu, o sangue que vinha de seus ferimentos se misturavam aos detritos, os olhos abertos e petrificados, sem sinal algum de vida, frios e mortos, igualmente foram em vida.

E de dentro da mansão, ele observava quieto, os olhos avelanados, embora molhados pelas lágrimas, permaneciam estáticos e vazios, não emitia nenhuma expressão além de um alívio momentâneo, ou um sentimento que se aproximava de felicidade, talvez. Acabou, fim da linha. Era apenas nisso que conseguia pensar, e em nada mais. Em paralelo a isso, o barulho da minha respiração entrecortava os sentidos, eu também estava ferido, só que nenhum ferimento daquele poderia me machucar mais que a consciência plena de tudo aquilo que estava diante de mim.

— O-O que você fez?

Minha voz trêmula e o olhar aturdido chamaram sua atenção.

— Acabou, fiz o que me mandou... Pus um fim definitivo nisso, não está feliz?

Veio andando até mim, e segurou meu rosto, suas mãos geladas ainda estavam sujas pelo sangue que derramou, e os lábios carminados se curvaram em um sorriso doce de anjo.

— Estamos livres, agora.

Não houve uma resposta imediata, porque eu não conseguia pensar no que dizer exatamente, eram tantas coisas a se pensar, que estava difícil formular um raciocínio lógico perante a todo aquele panorama que nos levasse a uma solução. E mesmo que todas as evidências apontassem para um brutal assassinato causado por um (ou dois) delinquentes de mente doentia e que tinham a vida que todos sonhavam em ter; tal como todo espetáculo, ninguém sabe o que acontece nos bastidores, não fazem a menor ideia de como ou porquê.

THE LOVELY BOYSWhere stories live. Discover now