Two ghosts with memories.

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(Parte IV)

 
Dois fantasmas com memórias.

  
  
・♥︎・

  

Los Angeles, California.

  

— Enfim em casa! Sãs e salvos.

Wentworth foi o primeiro a dizer alguma coisa, quebrando o gelo que se formou entre nós durante o trajeto inteiro.

Agora o carro estava parado em frente à mansão do qual ele morava há pelo menos uns trinta anos, e que eu passei toda a minha infância. Olhar para aquele lugar, me fazia sentir um grande aperto no peito, uma sensação ruim, totalmente diferente do que eu pensei que sentiria ao retornar. Eu estava calado, retraído, ele até tentou puxar algum assunto, só que foi em vão, eu não consegui manter nenhuma conversa com ele, nosso encontro foi de longe o mais estranho.

Cheguei na Flórida como antevisto quase oito da noite, eu estava só os frangalhos, sei que fiquei sentado a maior parte do meu tempo, no entanto, o estresse, tédio, e ansiedade, deixam você exaurido. Eu nem reconheci meu próprio pai, passei por ele no saguão pra pegar minhas malas sem nem ao menos me dar conta, somente quando ele disse: “santa mãe de Deus!, eu estou tão velho assim?” Que me virei em sua direção, abrindo os olhos mais ainda e o vi. Pior que não, ele não estava tão diferente desde a última vez que me lembro, sim, de fato estava mais velho, contudo, não era como se tivesse virado outra pessoa.

O problema era que eu realmente estava desligado de tudo, meu sono e cansaço só me faziam focar em chegar logo no hotel, e dormir até perder os olhos, estava igual a um zumbi, só faltando andar com o corpo tombado pro lado, e ficar gritando: woaah woaah! pra lá e pra cá.

Recapitulando, Wentworth Tozier era um homem de cinquenta e nove anos, os cabelos brancos e a barba mais cheia agora faziam parte do seu estilo, ele ainda era bem mais alto que eu, uma vez que media em torno de 2,1m de altura. Eu herdei sua genética do crescimento, mas “só” cheguei aos 1,83cm mesmo, e perto dele, eu media próximo à altura do seu queixo, se caso você tivesse menos que 1,70 pareceria uma criança perto dele. Na época da escola, ele era capitão do time de basquete e até pensou em seguir essa carreira, todavia, meu avô preferiu que ele herdasse suas empresas e se dedicasse aos negócios da família, só que ele nunca deixou de ser fã, principalmente de NBA, até me incentivou a jogar também, mas eu sempre gostei mais de vôlei.

Bom, como dito, nosso encontro não foi nada emocionante (por minha causa, claro) Wentworth tagarelava sem parar no carro a caminho do hotel, me contando o resumo de sua vida nos últimos anos, e eu não prestando atenção numa só vírgula, estava ocupado demais lutando contra o sono. Ao chegarmos, antes mesmo dele me perguntar o que eu queria jantar, só desabei na cama de roupa e tudo, acordando umas quatro ou cinco da manhã, já sem sapatos e embrulhado, ele estava na cama do lado, adormecido, só ali eu comecei a processar que realmente estava muito longe de casa.

Em contrapartida, o dia foi melhor, tomamos café juntos na recepção, e tivemos um “momento pai e filho” decente, pudemos trocar uma conversa em que os diálogos fossem bem mais que 'sim' ou 'não'. Era visível o quanto ele se esforçava para me fazer sentir bem e acolhido, meu pai ainda era o mesmo, e ele me amava, até cheguei a me sentir culpado por nunca ter me importado de ficar longe dele, mas dizem que a gente nunca sente falta daquilo que não estamos acostumados, e acredito nisso. Sempre me dei melhor com minha mãe, isso estava mais do que claro, e apesar de quando criança passar bastante tempo na casa dele, não era por ele em si, então, para se ter uma relação invejável de pai e filho, nós precisaríamos de bem mais que isso, talvez um reencarne.

THE LOVELY BOYSWhere stories live. Discover now