Our Way Home

45. julgamento

Descobrir a verdade dói. Especialmente porque são apenas letras em um papel desgastado; palavras que vão desaparecer com o tempo, deixando apenas a vaga ideia do que poderia ter sido e do que nunca mais será. Todos aqueles anos se distorcendo em minha mente, tudo sendo contaminado pela realidade de que não sou quem pensava ser; e pior, de quem eu sou parte. Contar a verdade a Gwen desenterrou o resto dela, e não foi descoberto por altruísmo ou amor; não foi por desespero, como quando meus pais morreram.

Foi maldade. Malorie não se importava mais, contanto que ela conseguisse me destruir. Eu finalmente direcionei seu ódio todo para mim.

— Não sei o que está acontecendo com você, irmão — Hunter murmurou. — Tudo está tão diferente. Acho que crescemos, de algum modo, e junto vieram mais responsabilidades. St. John está cheio de planos com Alyssa, como se eles fossem definitivos. Você tinha… tem Gwen, e há Calum. A faculdade, o futuro. Há uma energia estranha em torno de nós, e eu não sei se é bom ou ruim.

Fiquei quieto, porque eu também sentia. Era fácil associar a todas as pessoas sob minha responsabilidade, para quem eu devia algo.

— Mas você não é assim — ele continuou. — Você é um bom exemplo, um cara centrado demais para seu próprio bem. Você nos põe na linha na maioria das vezes, e não o contrário. Seja lá pelo que você está passando, nós estamos aqui para te ajudar, porque foi bom pra caralho ver você conquistar o que quis por tanto tempo. Seus irmãos de volta. E você conseguiu Gwen.

Eu deixei meu olhar cair para o café esfriando em minhas mãos.

— Não vamos deixar você jogar isso fora, irmão. Nem por cima do meu cadáver — ele disse, resoluto. — Eu sei que não é um problema mesquinho que você tem enfrentado, mas não importa. Há uma chance de criar a base para uma boa vida, Ethan. Uma merda de boa vida, apesar de tudo que você já passou. Seja o que for, pode ser resolvido.

— É muito difícil — eu confessei. — É a coisa mais difícil que já enfrentei na minha vida.

— Você ainda tem pelo que lutar — Hunter se inclinou, passando a língua no lábio inferior antes de prosseguir: — A vida ainda pode ser alguma coisa, irmão. Talvez seja difícil para quem está tão envolvido quanto vocês verem, mas qualquer um com um pouco de atenção consegue ver que você e Alyssa não conseguem funcionar direito um sem o outro. Como vai ser para Calum se vocês estiverem enterrados em tanto ressentimento que não poderão comemorar o aniversário dele no mesmo espaço?

Era o que mais me assombrava. Tinha vontade de chorar só em imaginar meu futuro sem que eles pudessem fazer parte - sem que eles quisessem fazer parte.

— Como vai ser quando você encontrar com Gwen na rua e ela estiver segurando a mão de outro homem? Quando você olhar para ela e ver tudo o que poderia ter sido e não será, porque você não arriscou um pouco mais? — ele largou sua xícara de café atrás de si, inclinando-se para frente. — Você se deve isso após tanto sofrimento. Você se deve, ao menos, a chance de poder dizer que fez tudo ao seu alcance para se agarrar às oportunidades boas da vida. Agora, nenhuma delas virá de mão beijada. Por que deveria?

Eu deixei minha cabeça cair para trás, minha nuca batendo contra a almofada do sofá e sacudindo meu cérebro. Eu sabia o que tinha que fazer, até que Malorie me tirou dos trilhos novamente, e ela continuaria fazendo isso até que me tornasse tão solitário e vazio quanto ela; somente aí ela estaria satisfeita. Depois de tudo que ela tirou de nós - tudo que tirou de mim. Meu peito ficou fisicamente contraído, mas eu respirei fundo na tentativa de conter minhas emoções. O momento de extravasar havia sido ontem, porque Hunter tinha razão.

Eu já sabia de tudo isso, no entanto. Com tudo acontecendo ao mesmo tempo em nossas vidas, era bom ouvir o que eu só mantinha em minha mente de um bom amigo, uma das poucas pessoas em quem eu confiava na minha vida. St. John e eu não éramos mais os mesmos, porque ele não precisava admitir que, inconscientemente, já havia escolhido um lado, e não era mais o meu. Ele amava minha irmã. Nós passamos dos limites.