Eu abri meus olhos, agradecendo-lhe mentalmente por ter mantido as cortinas da sala fechadas para poupar a dor em minha cabeça que irradiava atrás dos meus olhos. Havia um longo tempo desde que bebi tanto, e não gostava de ser essa pessoa após tanto tempo. Melhor do que isso, pelo menos, eu sabia que era. Nunca precisei recorrer a bebida para encarar as consequências dos meus atos. Nunca precisei partir o coração de quem eu daria o meu  se fosse necessário. Qualquer coisa sobre a minha vida que envolvesse Malorie me tornava inclinado a ser desprezível.

Cortar o laço é difícil, no entanto. Especialmente quando o apoio que eu gostaria de não ter não existia, mas ela me alertou no passado, não alertou?

— Vamos, cara — Hunter cutucou meu peito, pairando em minha frente e estendendo, amistosamente, a xícara de café. — Já são oito da manhã. Te ver assim é depressivo pra caralho.

Forcei meu corpo para cima, me arrastando até ficar em uma posição sentada no confortável sofá da casa de Caden Burns. Não me surpreendia que Hunter estivesse aqui, considerando  que os dois passavam muito tempo juntos e apareceram juntos para resgatar minha bunda ontem. Não que me restasse muitas opções, também. Apesar da família de Caden ser tão rica quanto a de Hunter, ele era humilde. Humilde porque foi expulso de sua casa, expulso da família. Eu teria que pedir algumas dicas a ele caso tudo desse tão errado quanto eu esperava: como viver sua vida como se partes vitais não estivessem bem ao seu lado, mas tão longe do alcance?

Hunter me deu um olhar cheio de preocupação, sentando-se na mesa de centro. Eu bebi um pequeno gole do café, amargo como eu preferia, enchendo meu paladar com o gosto da cafeína e afastando o álcool do meu sistema. Malorie fez a jogada mais esperta de todas bem debaixo do meu nariz. Ela me permitiu esquecer do que “planejou” me entregar cinco anos atrás, quando eu era jovem e vulnerável e manteve para si por todo esse tempo, esperando sua oportunidade. Eu duvidava que ela teria entregue se eu tivesse ficado ao seu lado naquela noite, e não ao lado da minha irmã.

A carta do meu pai.

— Aquele envelope? — Hunter questionou, franzindo a testa ao examinar a expressão em meu rosto. — Nós não mexemos. Na verdade, só um pouco, mas quando vimos que era pessoal, deixamos no mesmo lugar em que ele estava.

Assentindo, me esquivei de ter que oferecer uma resposta ao selar meus lábios com outro gole de café.

— É por causa daquilo que você foi parar no fundo do poço?

Engoli em seco, sem saber como contar a verdade a ele sem precisar contar a verdade. Portanto, digo a primeira coisa que me vem a cabeça.

— Gwen e eu terminamos.

Hunter ri. Então ele para, percebendo que não estou nem perto de fazer uma piada.

— Você tá de brincadeira? — ele arregalou os olhos, gesticulando com suas mãos. — Por que você faria uma merda assim? Vocês dois são perfeitos juntos. Ela é perfeita. Você é estúpido por acaso?

— E é por isso que eu estava fingindo dormir…

— Ei, — ele me interrompeu, desconfinça enrugando sua testa — você tem uma tendência a ser dramático, mas brigar com Gwen não teria te feito tratar Alyssa como tratou ontem à noite.

Eu me encolhi. — Tão ruim assim, hein?

— Ruim assim — Hunter suspirou. — Mas ela também não é um docinho, é?

Ela costumava ser. Nos bons tempos, quando não éramos tão entorpecidos com a vida. Quando éramos jovens cheios de sonhos e esperanças, quando éramos cercados de amor e proteção. Quando a vida costumava ser boa conosco.

Our Way HomeWhere stories live. Discover now