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CAPÍTULO XXXIII - 33
"crises"

PABLO GAVI
Barcelona, Spain

Ignoro qualquer coisa que o casal tem a dizer, e apenas saio daquela casa. Olho para o céu cinzento, coberto de nuvens carregadas de gotas d'água. Hoje vai cair uma tempestade daquelas.

Abaixo a cabeça e adentro meu carro. Passo na minha casa para buscar uma mochila com roupas, cueca e produtos de higiene e logo vou para casa da Stella.

Ao chegar, procuro alguma bolsa grande e felizmente encontro a mochila que a Stella usou quando passou um final de semana na minha casa, no período em que estava brigada com o Eric.

Procuro algumas peças de roupas para levar para a minha ex no hospital, mas minha mente insiste em viajar. Não demora muito para eu me pegar pensando em tudo que o médico disse sobre a gravidez da Stella, a conversa que escutei dela com o Ansu e tudo que acabei de ver na casa da Sarah...

Se algo acontecer a minha Estrelinha e a minha Luna, eu nunca irei me perdoar.

Em meio a tantos pensamentos, resolvo ligar para Martina que logo me atende.

──── Gavi?

──── Oi ── respondo sentindo o choro entalado na garganta.

Posso dizer com tranquilidade que, pior do que chorar, é quando você tem motivos para isso, mas se recusa a derramar as lágrimas. Me sinto afogado em minhas próprias angústias guardadas dentro de mim.

──── Está tudo bem?

──── Eu... ── isso soa mais como um pedido de socorro disfarçado. Respiro fundo e tento reformular a frase em minha mente ── Eu não sei o que levar para o hospital.

──── Onde você está? ── Martina me questiona.

──── Na casa da Stella ── a primeira lágrima que tanto tentei segurar, agora escorre pelo meu rosto. Em seguida, as demais começam a molhar minhas bochechas, deixando-as rosadas.

❝Me perdi buscando esse lugar
tudo por tratar de demonstrar,
esqueci que sem teu amor sou inútil
e peguei o caminho errado❞

Fungo e tento me controlar, mas quando vejo que é praticamente impossível, desligo a ligação sem ao menos dizer um tchau. Tudo que está acontecendo é culpa minha, então ninguém precisa saber como me sinto por causa disso.

Em um ato impulsivo, jogo meu celular longe, fazendo-o bater na parede e ir de encontro com o chão.

❝Fiquei sem reação
sem saber como voltar,
cheio de remorso
te deixando para trás,
fingindo ser outra pessoa❞

Eu magoei a única mulher que provavelmente me amou de verdade e me valorizou, eu segui caminhos equivocados e a coloquei nessa situação em que está agora. Eu falhei como namorado e falhei como pai.

❝E chorar, e chorar
não serve de nada agora que te perdi
eu quero te recuperar
vem me salvar, me despertar,
me resgatar do sofrimento❞

Não sei por quanto tempo fiquei preso dentro da minha própria mente, mas me desperto ao ouvir alguém batendo freneticamente na porta.

──── Gavi, se você não abrir essa porta, eu juro que vou arrombar ela! ── ouço Pedri a gritar.

──── Se você arrombar ela, a Stella arromba nós dois juntos ── respondo, caminho até a porta e a abro, encontrando meu amigo e sua namorada.

──── O que está acontecendo? ── Pedri me questiona e é notório sua preocupação.

──── É tudo culpa minha... ── respondo virando de costas para o meu amigo.

──── Hey, conversa comigo ── Pedri diz ── O que é culpa sua?

──── Tudo! A Stella foi ameaçada pela Sarah e eu nem sei direito dessa história ── começo a explicar ── A Sarah me traiu esse tempo todo, eu machuquei a Stella e agora ela está no hospital correndo riscos junto com a Luna ── bastou dizer o nome da minha filha, para todo aquele choro tomar conta de mim novamente.

Tenho esperança de que a dor
mude e se transforme no seu perdão,
navegar em um mar sem fantasmas
e que a luz do seu amor seja
o meu mapa❞

Toda a angústia se faz mais forte que minha força para dizer alguma palavra. Já sentiram como se a dor te prendesse dentro de si mesmo e por mais que você tenha tanto a dizer, você não consegue, pois a única coisa capaz de sair de dentro de você são lágrimas e um desejo inexplicável de gritar? É exatamente assim que me sinto agora.

Juro que é verdade, não minto
que a minha vontade é mudar
mas sozinho eu não consigo
não sei como consertar a minha alma❞

─── Gavi, calma! ── Martina comenta, mas é impossível manter a tranquilidade. Estou perdendo o controle do meu próprio corpo.

Sinto minhas mãos ficarem trêmulas e minhas pernas perderem suas forças, e assim caio de joelhos ao lado do meu celular, que acabou quebrando a tela no momento em que o joguei.

──── Não se culpe tanto, você só tem dezenove anos e está sendo mais homem do que muitos por aí ── Pedri argumenta ao se ajoelhar na minha frente ── Tem tantos caras que no seu lugar teriam abandonado a Stella sozinha no mundo com a Luna, com a desculpa de ser jovem e querer focar na carreira.

Sinto um formigamento por todo corpo, como se eu estivesse perdendo os sentidos. Uma falta de ar se faz presente ali, e por mais que eu tente respirar, o ar não é suficiente para preencher meus pulmões, e de tanto fazer força meu peito começa a doer.

──── Você não está sozinho, ok? ── Pedri me abraça tão forte que posso sentir seus batimentos cardíacos e seu peito subir e descer devido sua respiração tranquila.

Eu não sei como, mas de forma inconsciente, comecei a seguir sua respiração, e assim a falta de ar foi desaparecendo juntamente com a dor no peito e o formigamento. E de repente eu já consegui controlar meu corpo novamente.

──── Vai ao banheiro, lava esse rosto e enquanto isso a Martina arruma as coisas da Stella ── Pedri comenta ── E se você quiser, eu te deixo no hospital.

──── Eu estou de carro ── respondo com a voz ainda baixa.

──── A Martina leva ele para você. Agora vai lá e se acalma, porque a Stella precisa de você e você precisa estar bem para ajudá-la e passar forças para ela.

𝗛𝗜𝗚𝗛 𝗜𝗡𝗙𝗜𝗗𝗘𝗟𝗜𝗧𝗬 ─ 𝘱𝘢𝘣𝘭𝘰 𝘨𝘢𝘷𝘪Where stories live. Discover now