22.O grupo de Rick Grimes

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Às vezes, Jesse esquecia que eles estavam mortos.

Muitas vezes quando não tinha pesadelos do tipo que revia seus corpos destroçados, a sua mente criava um cenário menos aterrorizante, mas com a mesma intensidade de tortura. Era sempre a mesma coisa: as ações, o local, as falas. No entanto, toda vez que sonhava com isso, ela não percebia que era apenas um sonho.

Sob o aconchego das cobertas, o seu rosto afundava duas vezes no travesseiro macio. Ela se espreguiçava com gosto, sem perceber que o cansaço do dia anterior não existia mais; seus ferimentos, bolhas nos pés e músculos tensionados simplesmente sumiram, como se nunca tivesse submetido seu corpo ao limite. Não havia dor neste momento, apenas a calmaria e conforto.

Suspirando, a coreana sempre puxava as suas cobertas, tirando-as de cima de seu corpo, para assim se sentar na cama. E neste cômodo escuro como breu, ele lhe dava um sentimento único no qual, ela nunca mais conseguiria sentir de novo. Jesse estava em sua casa, deitada em sua cama, e ao pôr os seus pés no chão, ela podia sentir a maciez do seu tapete. Mas o que tornava mais estranho nisso tudo, era a sua porta entreaberta, que sempre deixava entrar as risadas e as vozes doces de quem mais amava. E ao dar uma espiada, podia vê-las andando pela sala, de costas para si.

A primeira coisa que pensava, era em gritar por elas, correr e abraçá-las como nunca jamais pode fazer. No entanto, sempre que tocava na maçaneta, sentindo o seu coração na boca, o corpo se esquentando e a tremedeira tomando conta dela, tudo desaparecia, e ela se encontrava abrindo os olhos. Jesse não estava mais na sua cama, não estava mais com as suas cobertas, não via mais os seus desenhos na parede, os seus trabalhos, fotos de família, livros de espanhol e francês. Agora, tudo que via era apenas a parede branca, lisa e vazia, pequenos quadros antigos, os armários pesados de madeira pura, roupas de bebês e toda a simplicidade que a família Greene possuía, na moda chique dos tempos antigos.

Respirando forte, sentindo o seu peito subir e descer, a asiática se sentava na cama, mas desta vez, ela podia sentir o seu corpo pesado, as dores na panturrilha e nos braços, a sua vista escureceu enquanto a sua cabeça pulsava em dor. E ao pôr os pés no chão, tudo que sentia era apenas o frio do piso de madeira, e nada mais. Engolindo seco, Jesse encara o seu reflexo no espelho, vendo as olheiras escuras um tanto melhores do que no dia anterior, mas ainda estavam ali.

E no final, ainda estava neste pesadelo, um no qual Jesse nunca poderia acordar.

[...]

O silêncio e a tranquilidade eram algo bem normal na família Greene. A paisagem em si da fazenda provava isso de uma forma bonita, expondo a sua beleza na calmaria e simplicidade, algo que te fazia ouvir até além de seus pensamentos, o que era difícil de se ter em uma cidade.

Com o vento fraco e fresco, o som abafado de conversas no meio do acampamento era algo que quebrava a rotina silenciosa. O grupo que já havia se acomodado, tinha as suas barracas todas montadas e feitas, enquanto os veículos foram colocados em pontos estratégicos, longe de atrapalhar qualquer um em seus dias de serviço na fazenda. Observando os seus movimentos pela janela, era visível que eles já estavam estabilizados na propriedade, marcando um começo mais lento para ambos os grupos, após toda a tempestade. Diante a isso, Jesse que apoiava a testa contra o vidro, suspira com um pequeno sorriso nos lábios.

— Você está se sentindo bem?

Ao ouvir a voz rouca, a coreana se virou para trás, encarando Hershel que colocava um copo de vitamina sobre a mesa, de frente para o seu prato do "café da manhã".

— Melhor do que ontem...

Em um tic-tac pesado, o relógio da cozinha marcava quase quatro da tarde, um horário bastante vergonhoso de acordar, na opinião do asiático. Se acomodando na mesa de jantar, Jesse se encosta na cadeira, quieta enquanto tentava se manter acordada, o que não era difícil, visto que precisou amamentar o seu filho mesmo com o bico do seio rachado. Apesar da dor momentânea, ela havia tido a sua primeira noite bem dormida desde que tudo começou, com a pequena exceção de sempre, precisando ser acordada algumas vezes durante a noite para amamentar Joel. Mesmo assim, ela mal se lembrava disso, e seu corpo parecia bem mais descansado do que ontem.

Fighting for us - The Walking DeadWhere stories live. Discover now