14.Uma ferida aberta

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Os pássaros tomaram conta do céu naquele dia.

As penas caem sobre a floresta, enquanto os gritos desesperados ecoam em um som abafado pela vegetação.

Como uma memória vaga e confusa, os seus olhos estavam fixos no caminho à sua frente. Encarando o campo ao longe, vendo a grama já completamente tomada pelo tom alaranjado do final da tarde, sentindo o calor de antes já se esfriando graças a ausência do sol. E entre as árvores e o mato, colados consigo, passos apressados quebravam galhos e causavam pequenas ondas de poeira por onde passavam.

A respiração forte junto com os gritos de raiva e desespero eram ouvidos, à medida que entravam pelo vasto campo, já na propriedade dos Greene's. Ninguém fazia ideia de quanto tempo havia passado após o tiro, e o acidente que o envolvia, mas uma coisa eles sabiam, que quanto mais demorava, mais sangue o garoto perdia.

Jesse observava a situação com um aperto no peito, enquanto via ambos os homens que conheceu da pior forma possível, correr pelo mato em grande desespero. Olhava para o pai com o garoto ferido nos braços, o ajeitando no seu corpo em vários momentos, visto que ele deslizava. As roupas do menino estavam tão encharcadas pelo próprio sangue, que sujaram as mãos e a camisa de seu pai, manchando-a ao ponto de serem vistas a quilômetros de distância.

Tudo havia acontecido tão rápido, que Jesse ainda não parava de se culpar, afinal como não conseguiu enxergá-lo?

Enquanto o pai com a criança se distanciava cada vez mais, a coreana permaneceu ao lado de seu companheiro, junto do estranho, ignorando o mal estar e toda a falta de ar, na esperança de chegar na fazenda o quanto antes.

— Ei...! —Enquanto corria, o grito do homem chamou sua atenção, a fazendo olhar para trás no mesmo momento— Levanta logo seu imbecil! Nós leve até lá!

A cena que via atrás de si, era do Otis já sem ar, sendo arrastado pelo outro de forma bastante agressiva. Jesse entendia o porquê disso, podia imaginar a dor que ambos estavam passando, e possivelmente... Conseguia imaginar a forte vontade que eles seguravam de matar ambos, tendo a única coisa que os impedia sendo Hershel, e sua experiência médica.

— Já chega! Ele precisa de tempo!

Gritou o asiático, indo até eles. O desconhecido que puxava o caçador pelo braço, o forçando a levantar, logo olhou para ela, visivelmente sem paciência.

— A única coisa que não temos aqui, é tempo! É só olhar o que vocês fizeram!

— Estamos fazendo tudo que podemos! E você não precisa de nós dois, portanto deixe ele em paz! —Ela berra de volta, indo até o outro lado de Otis, o ajudando a andar— Deixe para acertar as contas mais tarde, agora não é a hora!

O homem por sua vez, riu de forma desacreditada ao ouvir suas palavras, ele parecia que estava se segurando muito para não surtar. Jesse então decidiu não falar nada, e ambos se calaram apesar da raiva, enquanto ao longe, o pai do garoto entrava na residência dos Greene's.

— Jesse, sobre o que eu disse a eles... —Sussurrou Otis, que logo foi interrompido pela coreana.

— Você não tinha esse direito...

A voz ríspida e grossa da jovem mãe assusta um pouco o caçador, que se calou por um segundo, mas não conseguia se sentir culpado. Respirando pesado pela falta de ar, a asiática mordia o lábio em ansiedade, visto que já não bastava estar nesta situação, Otis ainda teve a coragem de assumir como o responsável pelo tiro.

— Eu tinha, e é por isso que eu tomei essa decisão.

— Otis, eu posso assumir a responsabilidade pelas minhas ações, não preciso que me defenda... Cuide de si mesmo, ao menos desta vez.

Fighting for us - The Walking DeadWhere stories live. Discover now