03.Os estranhos

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Os gritos que ecoaram naquele dia, foi a última coisa que ouviu antes de tudo mudar.

A fumaça densa cobria tudo ao seu redor, cegando e a impossibilitando de ver o que estava à sua frente. Entre a escuridão sufocante, Jesse não tinha e nem encontrava forças para empurrar o homem que estava em cima de sua irmã. Ela agonizava enquanto tentava manter Yuna ainda em seus braços, tossia forte visto a fumaça quente que entrava em sua garganta, se desesperando cada vez mais, à medida que ouvia os gritos de sua garotinha.

Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ouviu um som violento e alto surgir perto de seu ouvido, sendo o suficiente para deixá-la surda novamente, sentindo no mesmo segundo, um líquido frio ser espirrado em seu rosto.

Enquanto a tontura tomava conta de sua cabeça, e o zumbido forte em seus ouvidos se intensificava, sentiu seu corpo ser arrastado por uma mão firme logo em seguida. Ouvia barulhos de portas sendo fechadas, junto com o choro de crianças e gritos de alguns homens, à medida que a dor piorava e sua visão ficava escura.

Tentava analisar o que estava a sua volta, vendo as suas pernas sendo arrastadas por um momento, e depois elas estavam jogadas em um piso branco, coberto por sangue e restos de comida. Não conseguia dizer o que estava acontecendo, ou o que tinha acontecido, tudo que sentia era um frio ocupando todo seu corpo, tremia tanto que tentava se segurar.

Sua visão se tornava confusa aos poucos, a fazendo apoiar a sua cabeça na parede atrás de si, sentindo seu corpo relaxar por um segundo, e então, restou apenas o silêncio em sua mente.

Somente algum tempo depois, que parecia ter sido segundos após, ela sentiu seu corpo saltar novamente, os olhos abertos graças ao som de um disparo.

—Quantas vezes vou ter que dizer? Essas portas ficam fechadas!—Um homem gritava a meia distância de si, não conseguindo ouvi-lo completamente.

Outras vozes surgiam, todas abafadas, não sabia distinguir de onde ou quem estava falando. Jesse erguia a sua cabeça para o lado, lutando contra a dor de sua barriga, pernas e cabeça, sentindo um terrível formigamento em seus braços.

Sua visão estava retornando aos poucos, visto que conseguia visualizar um pouco de suas mãos, que tremiam tanto ao ponto de não conseguir fechá-las direito, mas ao olhar para elas, foi como se tudo se encaixasse. O sangue que escorria pelos seus dedos, não lhe pertencia, e Jesse sabia muito bem disso.

—Não, não...

Não conseguia mais gritar, queria chorar mas suas lágrimas não saiam. Jesse apenas esfregava as suas mãos enquanto pequenos gemidos de agonia saiam de sua boca. Sua mandíbula permanecia tensa, segurava com força toda a sua dor acumulada. Isso não era um pesadelo, é real.

—Olhe pra mim.—Uma voz calma a chama.

Ainda com os olhos fixos em suas mãos, a jovem tentava se esconder de si mesma, se afastando desesperadamente para trás. Mesmo que no fundo, ela sabia que não tinha como fugir, não disso.

—Olhe para mim...—A voz a chamou mais uma vez. No mesmo momento, sentiu uma mão em seu ombro, avistando um rosto à sua frente segundos depois. Era um homem que a chamava calmamente, tentando segurá-la para que o visse—Consegue me ouvir...?

A pessoa aparentava ter a mesma idade que a sua, porém ele tinha mais fios grisalhos em sua barba e em seus cabelos longos, que eram presos em um rabo de cavalo, similar ao dela. Seu rosto tinha algumas manchas e rugas, que destacavam os seus olhos verdes exaustos. O homem fazia gestos com a mão livre, na esperança que ela conseguisse o entender. Jesse apenas engolia saliva, enquanto tentava encontrar as palavras para aquele sujeito, mas ela não conseguia, sua garganta permanecia presa. Olhando para ele uma última vez, e depois para baixo, a coreana logo confirma com a cabeça.

Fighting for us - The Walking DeadDove le storie prendono vita. Scoprilo ora