06.Culpa

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O primeiro dia do apocalipse havia terminado.

A noite estava chegando ao fim, a escuridão total no céu aos poucos começava a se tornar um azul mais claro, enquanto a cor alaranjada e vermelha do fogo, ainda permanecia firme por toda a cidade desde a tarde anterior.

Na casa dos Rhee's, o silêncio reinava. As crianças dormiam nos quartos, tentando recuperar alguma força após o ocorrido, Jesse que havia sumido desde o encontro com sua mãe, havia se isolado também em seu quarto. Enquanto isso, John terminava de tirar boa parte do sangue do corredor, ainda escutando os gemidos abafados da Sra.Rhee, que viam de dentro do cômodo.

Ele esfregava o piso, juntando todo o sangue grosso num balde, tentando ao máximo tirar o maior dele para de algum jeito, tornar a situação atual um pouco mais suportável para as crianças. Logo atrás do homem, bem em frente da porta, ignorando todo o sangue e som do ranger de dentes, Yuna dormia abraçada de suas pernas, com o rosto molhado e os olhos inchados. O médico após espremer mais uma vez o pano, olhou com pena ao ouvi-la chamar por sua mãe, provavelmente em algum sonho ou pesadelo. Ele suspira cansado, se levantando enquanto pegava o balde e o rodo, indo em direção contrária a garota.

Já em uma das portas da casa, deitada em sua cama dentro desse cômodo frio e escuro, a gestante fungava mais uma vez, limpando as lágrimas lentamente.

Jesse abraçava a sua barriga à medida que a acariciava, escondendo o seu rosto em seu travesseiro, se questionando se tudo isso era real, se isso tudo não passava de apenas um grande pesadelo...Que fosse estranhamente realista. Gemendo de dor, ela contrai as suas pernas em direção ao corpo, enquanto o sentia sofrer graças a tanta ansiedade que havia passado.

Suspirando em choro, ela não sabia o que fazer diante a situação atual, e nem como lidar com o que estava acontecendo. Se lembrava dos berros das pessoas nas ruas, do rosto ensanguentado de seu pai, os gritos de Yuna e Jina na lanchonete. Se lembrava do que teve que fazer com a Amber para salvá-las, e da forma cruel que decidiu o destino de Patrick. Sem falar que Glenn estava desaparecido, só de o imaginar sozinho por aí, com medo e em perigo, lhe causava uma enorme dor e angústia no seu peito. Acariciando mais uma vez a sua barriga, Jesse mordia o lábio, sentindo as lágrimas em seus olhos, desejando firmemente que seu bebê ficasse bem, se sentindo culpada por não ter feito mais por ele.

Tudo que tinha certeza agora, era que em poucas horas ela e seus irmãos haviam se tornado órfãos, e ela uma assassina...

Presa em seus pensamentos sombrios, ela se assusta com o som de alguém batendo à porta. Era John, que a chamava do outro lado.

—Pode entrar...—Jesse afirma, enquanto limpava o rosto rapidamente, se sentando na cama. O sujeito entra em seu quarto, com o olhar cansado—Aconteceu alguma coisa?

—Não...—Respondeu ele, enquanto se aproximava—Só queria avisar que eu tirei o corpo de seu vizinho do corredor, não consegui o enterrar mas, está lá no quintal.

Jesse apenas afirma com a cabeça, fungando mais uma vez.

—Terminei de limpar o corredor também, sei que não era algo que você havia pedido mas, achei que seria melhor para as duas garotas... E para você também.

Ela concordou novamente em silêncio, enquanto mexia em seus dedos.

—Quer que eu faça mais alguma coisa para ajudar...?

Jesse não o responde. O médico podia vê-la quieta em seu canto, como se estivesse em transe e completamente perdida em seus pensamentos. Suspirando, ele se aproxima mais um pouco dela.

—Yuna passou a noite naquela porta...

Ele quebra o silêncio, chamando a atenção de Jesse no mesmo momento. John que esperava alguma reação vindo da coreana, algum tipo de ato para que ela tirasse aquela pobre criança ao lado do corpo "morto" de sua mãe, apenas a vê paralisar diante as suas palavras. Os lábios dela tremiam, enquanto a exaustão parecia consumi-la de repente, junto com o esforço que Jesse fazia para não chorar ali mesmo. Vendo o estado dela, o médico lhe estendeu uma mão de conforto, porém ele parou o ato na metade do caminho, desistindo dele.

Fighting for us - The Walking DeadWhere stories live. Discover now