23 | Macieira

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Mãe... Minha mãe? Não.

Como eu não percebi isso o tempo todo? Não podia ser, mas os sinais... Merda, os sinais estavam nítidos na minha cara e eu não percebi, inferno! Não, não, não. Eu não podia ser tão burra e lerda a esse ponto.

No mais, meu pai sempre foi muito mais carinhoso comigo desde que me entendo por gente, ele me apoiou em tudo que escolhi e foi ele também que me ofereceu o emprego na clínica quando não quis continuar com a faculdade, diferente da minha... Madrasta? Não, não, não. Márcia era a minha única mãe, disso eu tinha certeza. Minha infância toda eu vivi com ela, mesmo aparentando não me tolerar em certas vezes, eu ainda era sua filha.

Minha tia não podia ser minha mãe, ela não podia. Que mãe esconderia algo assim da sua própria filha como se não fosse importante para ela? Jhina não podia ser tão má-pessoa e mau-caráter desse jeito. Eu a conhecia bem para confirmar isso, mas agora, não sabia se era apenas uma memória afetiva rolando pela minha cabeça de quando eu era uma criança e confiava nela.

E como bônus ainda tem aquela loira aguada de quinta. Ela também não poderia ser a minha irmã, não mesmo. Ter uma irmã que já namorou e traiu o meu namorado?! Só podia ser uma ironia desgraçada na minha vida.

― Raposinha, não fuja. Vamos voltar e resolver tudo. Você não pode sair assim sem saber para onde está indo. ― Victor tentava segurar meu braço, porém, eu sempre dava um jeito de me soltar.

― Agora não. Não quero conversar com ninguém.

― Sabe que não vou te deixar ir sozinha para onde quer que esteja indo, não é?

― Tanto faz, só me deixa em paz.

― Amor... ― seu sussurro melancólico me fez andar ainda mais com pressa.

― Não, Victor. AGORA NÃO! ― conti o choro e senti meu coração pulsar fortemente a cada passo longo que meus pés davam em direção ao nada.

Ele não podia me ver tão horrível desse jeito. Minhas fragilidades são apenas minhas, e achei que ele fosse me entender porque também foi quebrado do mesmo jeito que eu, mesmo de uma forma diferente.

Por mais que tenha ele escondido isso de mim para me proteger, meu cérebro gritava que ele não tinha culpa, mas ainda assim, Victor não tinha o direito de encobrir algo tão importante como os outros fizeram. Eu entreguei minha confiança a ele e não queria acreditar que havia se quebrado em tão pouco tempo.

Fechei meu casaco, absorvendo o frio gelado tocando meu corpo como várias notas de música. O céu continuava nublado, e o caminho à minha frente ficava ainda mais sinistro. Não havia muitas casas e pessoas, parecia literalmente o meio do nada, se não fosse por alguns carros que passavam um pouco distante na estrada a poucos metros de onde eu estava. Não me lembrava que o tempo ruim aqui deixava as coisas tão melancólicas, já que no verão tudo sempre foi mais bonito e caloroso.

MEU DESEJO TENTADOR - livro 2 da série: Os AvellarWhere stories live. Discover now