03 | Mentir é feio

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Tirei a bolsa de gelo do seu rosto, observando uma última vez sua respiração calma e seu sono sereno

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Tirei a bolsa de gelo do seu rosto, observando uma última vez sua respiração calma e seu sono sereno. Seus hematomas ainda estavam um pouco inchados e bem vermelhos, porém, melhores.

Era muito estranho ficar no mesmo ambiente que Victor, porque nós nunca nos demos muito bem desde o primeiro dia que nos vimos, exceto que às vezes, contra a minha vontade, tínhamos que nos encontrar, já que éramos os padrinhos dos filhos dos nossos amigos em comuns que eu amava mais do que tudo. Ainda assim, não era fácil manter a convivência com ele me tirando do sério sempre que podia.

Ajustei o lençol sobre suas pernas, notando uma leve cicatriz grande em forma de linha na sua barriga, ao lado de uma tatuagem de cobra. Essa era a primeira vez que eu o via sem camisa, e só de presenciar a cena, sentia o meu corpo queimando de um jeito latente que me fez praguejar baixinho. Cobri metade do seu corpo, mesmo que ele tenha reclamado do calor.

Finalmente me levantei da cama, pegando minhas coisas e saindo do quarto de fininho. Cheguei à sala de Théo, onde o encontrei debruçado sobre o sofá e com um olhar distante enquanto comia um pedaço de pizza que parecia já estar fria. A bagunça havia sido arrumada, os vidros quebrados e o sangue úmido no chão já não estavam mais lá.

Suspirei ao me aproximar, ele me ofereceu um pedaço da pizza que estava na caixa, aceitei e dei uma mordida fazendo uma careta ao confirmar que estava mesmo fria e murcha.

― Como foi? Ele teve alguma coisa grave? Estou fodido se tiver que levá-lo ao hospital.

― Não notei nada de estranho, então creio que ele vai ficar bem, mas é bom que ele vá ao médico de qualquer jeito.

― Porra, eu me sinto péssimo, Elizabeth. — mordeu um pedaço da massa pegajosa. ― Vi minha amiga quase ser estuprada na minha própria casa e eu nem sequer fiz nada por ela.

Devorei em silêncio mais uma quantidade generosa da fatia, que agora estava até ficando gostosa, tentando encontrar as palavras certas para lhe responder. A situação era delicada, e eu era péssima em dar conselhos bons.

― Tente apoiá-la, talvez isso ajude um pouco, e não toque mais nesse assunto perto dela também.

― Nem sei se consigo falar sobre algo assim, nunca presenciei isso na minha vida, Beth. ― bebeu o ponche de frutas que estava no porta-copos.

― Você a levou para casa? ― perguntei, antes de ouvir um zumbido baixo vindo de outro cômodo.

― Não estou conseguindo dormir, Théo.

A voz que veio do corredor me fez virar a cabeça meio assustada. O rosto choroso da mulher, que agora estava mais branca que papel, declarava que ela não estava bem e talvez tenha sido essa a razão da sua falta de sono. Preocupado, Théo foi até a garota.

― Te levarei para casa, Yumi. ― segurou o rosto molhado dela. ― Você precisa usar uma roupa menos rasgada e também a gente pode...

― Não! Não quero ir para casa desse jeito, minha mãe e minha madrasta vão me interrogar a noite inteira se eu aparecer assim. Não posso ir para lá. ― ofegou com lágrimas cobrindo seu rosto.

MEU DESEJO TENTADOR - livro 2 da série: Os AvellarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora