Isso era o quão fraco eu era por ela. Sentia, a essa altura, que eu poderia dizer a ela o que fosse e ela ainda seria capaz de me entender. E talvez no dia seguinte ainda me olhasse com tanta ternura quanto a de dias atrás.

Ou talvez eu estivesse me enganando e toda a verdade se resumia ao que sempre presumi que aconteceria - que vai acontecer.

Eu me joguei na cama e fechei meus olhos, sentindo as pálpebras ásperas e secas de cansaço, meu corpo inteiro parecendo me odiar por simplesmente não conseguir dormir como uma pessoa normal. Parecia que meus ossos estavam começando a doer. A estrutura do meu corpo precisava disso: estirar-se em uma cama macia por baixo de bons cobertores quentes e um travesseiro macio, com uma mente silenciosa e segura para poder sentir que não iria falhar completamente nos próximos segundos e...

Disse a Malorie que tinha planos, e para esses planos ela precisava partir, mas a verdade era que ainda nem havia recebido a resposta final da minha candidatura ao estágio do Centro de Pesquisas que meu orientador me ajudou a finalizar. Também não tinha encontrado apartamentos viáveis para nós - no plural, porque duvidava muito que minha irmã quisesse dividir por muito mais tempo uma casa comigo, tão pessoalmente como era agora. Meu plano era encontrar dois apartamentos disponíveis no mesmo prédio, com segurança e boa qualidade, mas nada exorbitante para que pudesse se encaixar em nosso orçamento. Seria limitado se não vendêssemos a casa, e por loucos e estúpidos momentos em minha vida, pensei que Malorie poderia ser diferente, que poderia merecer o sacrifício de manter a casa para ela.

De repente, nesses momentos em que pego minhas ilusões e vejo o quão patéticas e bobas elas sempre foram, sinto que tenho dez anos outra vez.

No entanto, o propósito sempre foi assegurar algo bom para Alyssa e Calum, e isso era o que eu faria. Duvidava que meu bom amigo Leon St. John fosse me negar dividir o apartamento com ele por algum tempo caso eu apenas tivesse condições de arrumar um para Alyssa e Calum terem mais privacidade, mais controle e independência em suas vidas. Deixar de morar em uma pequena casa nos fundos para ter nosso próprio espaço.

Eu encontraria uma maneira de fazer isso funcionar. Eu farei, custe o que custar.

Imaginando que provavelmente Gwen iria prestigiar meus amigos em seu jogo em casa, abri sua conversa e comecei a digitar; do contrário, ela poderia pensar que eu estava ignorando-a.

Ethan: Oi

Ethan: Você vem para o jogo?

A resposta demorou tempo o suficiente para eu me vestir e estender a toalha molhada em minha janela entreaberta. Estive nesse quarto por tanto tempo, tantas noites mal dormidas e solitárias, preenchidas por pesadelos que não costumavam ir embora. Procurando algum som de vida no resto da casa silenciosa - sons que era tão habituado a ouvir por vinte anos. E no dia seguinte, mesmo ao redor dos meus amigos e ocupando minha mente pelo tempo necessário e além, nada se comparava a essa solidão instalada em meus ossos. A frieza da cama e a profundidade de escuro que meus olhos eram capazes de absorver.

Eu nunca seria capaz de retribuir o que foi feito por mim, mas estava na hora de mudar.

Gwen: Oi! Como você tá?
Gwen: Jogo? Não. Estou ajudando meu pai em casa hoje
Gwen: Você poderia vir aqui quando acabar

Um encontro com Gabriel Evans era a última coisa que eu precisava, porque não tinha forças para me defender caso fosse necessário - seria -, e tampouco para argumentar se ele surgisse com mais um de seus gentis pedidos: dispensar sua filha e ter uma boa vida. Gabriel diria alguma merda e consequentemente, eu responderia outra, e toda essa gloriosa interação só acabaria machucando a única pessoa que não merece.

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