Foi surpreendente notar a rapidez com que novos hábitos podiam surgir, e eu me perguntava quanto tempo demoraria para que desaparecessem. Então uma voz fraca dentro de mim sussurrou: Ele é um hábito que você realmente quer que desapareça?

"Sim", foi minha resposta sussurrada. Era a única resposta à qual eu poderia me dar ao luxo.

A cama dele tinha cortinas escuras e pesadas que poderiam ser puxadas — como uma tenda, só que melhor —, uma caverna fechada e perfeita para dormir. Acho que amei a cama ainda mais do que a banheira. Cortinas pesadas também cobriam as janelas, e três das paredes eram recobertas por painéis de madeira polida. A outra parede estava cheia de livros. Tudo em relação ao quarto era misterioso e sedutor.

Oleez retornou com roupas emprestadas que julgou ser mais adequadas ao meu tamanho do que o vestido de Madson, e disse que meus outros aposentos estavam prontos.

— Obrigada, mas vou ficar aqui. Este quarto está bom para mim.

Ela parou por um instante, mexendo um pouco a cabeça, como se eu não tivesse entendido muito bem.

— Mas este é o quarto do Patrei.

— Sei disso. Tenho certeza de que ele ficará tão confortável nos aposentos de hóspedes quanto eu ficaria.

Ela franziu o cenho, dando uma oportunidade para que eu mudasse de ideia. Permaneci firme.

— Vou informá-lo disso. — ela falou e saiu. Ela ia passar essa batalha adiante, para Shawn.

Os guardas que ele havia postado no fim do corredor eram um toque divertido, mas eu não iria ser colocada em um quarto que certamente seria mais restritivo do que este aqui.

Este quarto tinha quatro janelas, isso sem falar que Shawn tinha todo tipo de item a ser surrupiado. Eu já havia encontrado um kit de barbear nos fundos do armário dele, com uma ferramenta longa e fina que poderia ser útil para muitas coisas além de fazer a barba. Uma bolsinha de cetim preto, que provavelmente já guardara um presente, tornou-se um bolso discreto e macio, amarrado sob as minhas roupas.

Eu tinha certeza de que aqueles cantos e recantos tinham mais a oferecer, mas, acima de tudo, eu simplesmente gostava da cama dele, obscura, que mais parecia uma caverna. Eu queria rastejar para dento dela agora mesmo e puxar firmemente as cortinas.

Fui até a estante e peguei um livro grosso. Tinha sido cuidadosamente escrito à mão, a caligrafia fascinante cavalgando a página com graça, em traçados grossos como se fossem cavalos alados. Coloquei o livro de volta no lugar e passei a mão pelas lombadas dos outros volumes enquanto pensava nas histórias que Shawn havia me contado — a das lágrimas de Breda, a dos Cavalos Perdidos de Hetisha, a história de Miandre e dos primeiros Mendes —, perguntando-me se ele as lera nesses livros.

O som de alguém batendo à porta me alarmou, desviando-me de meus pensamentos.

— Sim?

— É o Shawn.

Minha pulsação deu um salto, como um coelho preso em uma armadilha, e dei vários passos de um lado para o outro, tentando me desvencilhar dessa sensação. Puxei o robe, ajustando-o em torno de mim.

— Não estou vestida. — falei.

— Preciso conversar com você.

Penteei rapidamente meus cabelos molhados com os dedos.

— Entre.

Shawn abriu a porta, hesitante. Ele estava devidamente banhado, tinha trocado de roupa e feito a barba, e uma camisa branca engomada acentuava sua pele lustrosa, bronzeada pelos dias passados ao sol. Seus cabelos castanhos estavam bem cortados e penteados.

SWEET ARROW         {SHAWMILA}Where stories live. Discover now