Capítulo 9

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Hey, pessoinhas.. como estão? Espero q bem!!!

Bom capitulo!!
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Shawn

Apanhei um longo galho de madeira que estava jogado na margem do rio e quebrei em dois, entregando um para ela. Serviria como apoio e proteção, caso precisássemos. Eu duvidava que os caçadores cruzariam o rio atrás de nós. Para eles, éramos apenas mercadoria e lhes seria menos custoso, em termos de tempo e problemas, capturar novas vítimas. Mas também havia ameaças de quatro patas por aqui...

— Vamos afiá-los depois. — falei.

Andamos pela floresta, contornando o denso labirinto formado por árvores antigas de anéis amarelos.

Seus troncos eram grossos, nenhum muito mais largo do que o meu braço, mas cresciam muito próximos uns dos outros, transformando nosso caminho em um ziguezague constante. O chão da floresta era um tapete espesso de folhas apodrecidas, uma almofada macia sob nossos pés descalços. Outros trechos da jornada não seriam assim tão fáceis. Mais adiante, enfrentaríamos um rio de areias quentes como brasa, mas, caminhando no ritmo certo, conseguiríamos atravessá-lo no frescor da noite.

Revelar a direção do assentamento tinha sido um tiro no escuro. Eu não sabia ao certo quão bem ela conhecia o terreno. Mesmo que lhe fosse familiar, era fácil confundir florestas ou planaltos por aqui, e ela estivera o tempo todo inconsciente na carroça de feno. Meu tiro se provou certeiro. Ela não sabia onde estávamos realmente — a leste ou a oeste da Boca do Inferno.

Achei que ela aceitaria mais facilmente me acompanhar se pensasse que estava se dirigindo a um assentamento vendano. A alternativa seria carregá-la presa no meu ombro, o que delongaria ainda mais o caminho. E ele já era longo o bastante. O rio nos havia tirado do rumo, e não seríamos capazes de avançar com rapidez com essa corrente entre nós — especialmente sem sapatos.

Ela não iria gostar do lugar aonde estávamos indo, o que me trouxe alguma satisfação, visto que não havia muito mais com que estar satisfeito no momento. Eu precisava chegar em casa rápido. Mais do que nunca, esta era uma época em que a família precisava estar reunida, mostrando uma linha de frente unificada. Precisávamos fortalecer nossas posições.

Olheiros já tinham sido enviados para postos remotos, observando e detectando ameaças. Outras ligas estavam sempre em contenda, competindo por uma fatia do comércio lucrativo da Boca do Inferno, na esperança de substituir os Mendes.

Toda vez que vinha para a cidade, Zayn se comportava como um lobo farejando o ar em busca do cheiro de sangue. Se eu não estivesse por lá, ele nos perceberia vulneráveis e assoviaria para chamar o restante da alcateia. O mesmo se daria com os líderes das outras ligas. Eles saberiam que havia algo errado.

A cidade ficaria inquieta também, perguntando-se onde eu poderia estar. Cada dia, cada minuto em que eu estivesse fora, só faziam multiplicar os meus problemas. Os outros me dariam cobertura, esperando pelo melhor e orquestrando algo para fazer com que tudo parecesse bem. Os planos para o funeral teriam de seguir em frente. Curvei os dedos na palma da minha mão, desejando bater em alguma coisa.

Hoje haveria a preparação e o envolvimento do corpo do meu pai. Minha família estaria fazendo o ritual sem mim. Amanhã abririam e limpariam o túmulo, acenderiam uma lanterna e uma prece diária seria oferecida pela família na expectativa do enterro, daí, dentro de duas semanas, seu corpo seria colocado sobre a lápide para a despedida final e a cerimônia de fechamento. E então, uma vez que a tumba estivesse fechada e selada, a sacerdotisa recitaria uma prece para o novo Patrei. Mas eu não estaria lá.

Os visitantes ali reunidos para prestar homenagens se indagariam sobre o motivo da minha ausência, e os temores e sussurros correriam desenfreados. Assim como os lobos. Minha família corria riscos, e a cidade também — tudo por causa dela.

Eu me perguntava se ela era realmente uma Rahtan. Sim, ela era habilidosa, mas não tinha muito vigor nem músculos — mesmo que tenha conseguido me sobrepujar e me jogar contra a parede. Mas malabarismos? Charadas? A idade dela. Sua confiança e seu comportamento eram como os de um cínico soldado posto à prova, mas na aparência era jovem — mais jovem do que eu, disso eu tinha certeza. Seus cabelos castanhos caíam em espessas e longas ondas, e suas mãos eram delicadas, os dedos mais apropriados para um piano do que para uma espada.

Ou para tirar chaves de um cinto.

Minhas dúvidas duplicaram. Olhei-a de esguelha, e notei que suas bochechas estavam ruborizadas de calor. Ainda assim, ela continuava me acompanhando a passos rápidos.

Pensei na rainha que a enviara e também nas últimas palavras do meu pai.

Faça com que ela venha. Os outros haverão de notar. Isso validará nossa posição neste continente.

Os Reinos Menores e seus territórios não tinham participado da batalha, mas todo mundo tinha conhecimento da guerra travada entre os Reinos Maiores e sabiam quem era a rainha que conduzira um vasto exército a uma vitória surpreendente. Ela poderia ter escolhido qualquer soldado habilidoso ou um assassino de elite de três reinos diferentes para investigar violações no tratado. Por que essa garota?

— Você realmente conhece a rainha? — perguntei.

Ela me dirigiu um olhar cortante, mas sua resposta — uma única palavra — foi branda.

— Sim.

Até mesmo em uma simples palavra eu podia ouvir uma centena de nuances — em sua maioria arrogantes, condescendentes e superiores.

— Como foi que vocês se conheceram?

Ela fez uma pausa, ponderando a resposta.

— Eu a conheci quando jurei a minha lealdade como soldada. — Mentira.

— Você a conhece bem?

— Muito bem.

Mais perguntas levavam a mais respostas concisas, e eu não sabia ao certo se alguma delas era verdadeira. Parei abruptamente e me coloquei em seu caminho para bloqueá-la. A pergunta que prometi a mim mesmo que não faria acabou borbulhando e saindo mesmo assim.

— Por que você não gosta de mim? — Ela ficou me encarando, confusa.

— O quê?

— Lá no rio você disse que não gostava de mim. Eu quero saber por quê.

Ela revirou os olhos como se aquilo fosse óbvio e tentou se esquivar. Mais uma vez bloqueei seu caminho. Então ela olhou para mim, os olhos suaves e calmos feito o mar no verão, e disse sem piscar:

— Porque você é um oportunista. Você é uma fraude. Você é um ladrão. Devo continuar?

Minhas costas ficaram rígidas, mas eu me forcei a dar uma resposta tranquila.

— Isso tudo não quer dizer a mesma coisa?

— Há diferenças. Será que nós podemos conversar e andar ao mesmo tempo?

— Talvez você esteja certa. — respondi, e voltamos a andar lado a lado. — Só um ladrão de verdade para conhecer as sutilezas. Eu vi você roubando aquelas laranjas.

Ela deu risada.

— Você viu, foi? Eu paguei por aquelas laranjas. Você e seu bando de capangas estavam bêbados demais e muito cheios de si para ver qualquer coisa além de seus próprios narizes inebriados. Consigo enxergar gente da sua laia a um quilômetro de distância.

— Gente da minha laia? — Endireitei os ombros, lutando para permanecer calmo. Ela não tinha qualquer respeito nem temor pelos Mendes, e eu não estava acostumado com isso. — Você não sabe nada sobre mim.

— Sei o bastante. Li sua longa lista de infrações. Roubar dos mercadores. Ataques contra caravanas. Roubo de gado. Intimidação.

Dei um passo à frente e me coloquei em seu caminho, bloqueando-o outra vez.

— Ah, então é isso o que você tem — uma tendenciosa lista vendana. As pessoas da sua laia têm alguma ideia de quão difícil é sobreviver no meio de tudo e de todos? Cercado por reinos em todos os lados? Com todo mundo pensando que tem o direito de entrar no seu território e tomar o que quiser? Avançando ao menor sinal de fraqueza? Meu mundo não é o seu mundo. — Minhas têmporas ardiam e minha voz crescia. — Os vendanos ficam sentados atrás de suas muralhas altas e seguras, na extremidade mais afastada do continente, redigindo novos tratados e treinando suas belas e bocudas soldadas de elite que não fazem a mínima ideia do que é lutar para sobreviver!

Minha voz baixou, tornando-se um rosnado.

— E você, Camila de Brightmist, não tem qualquer entendimento do problema que me causou. Eu deveria estar em casa com a minha família, protegendo-os, mas estou aqui, acorrentado a você!

Meu peito subia e descia de raiva, e eu esperava por uma resposta cáustica, mas, em vez disso, ela piscou devagar e disse:

— Pode ser que eu saiba mais a respeito de sobrevivência do que você pensa.

Suas pupilas eram poços marrom e profundos flutuando em um círculo âmbar de calmaria, mas suas mãos a traíam, rígidas ao lado do corpo, preparadas para o ataque. Havia uma guerra sendo travada dentro dela, uma guerra que ela reprimia, abocanhando-a feito uma cobra venenosa dotada de um autocontrole perturbador.

— Vamos. — falei.

Um abismo intransponível separava os nossos mundos. Era inútil tentar fazer com que ela entendesse.

Caminhamos em silêncio, com o clangor da corrente entre nós repentinamente amplificado.

Ela mantinha o controle, fria como aço, o que me deixava com raiva de mim mesmo por ter perdido o meu. Isso não era típico de mim, por isso meu pai me nomeara Patrei. Eu não era o mais velho, mas o menos impulsivo, e essa era uma característica valorizada pelo meu pai. Eu pesava as vantagens e os custos de cada palavra e atitude antes de agir.

Alguns me consideravam distante e arredio. Brian falava, com admiração, que isso fazia de mim um cretino frio como pedra, mas essa garota havia me empurrado para o limite da impulsividade e da inconsequência, algo que eu nem mesmo conhecia. Sua resposta tranquila só me empurrou ainda mais.

A garota sabia alguma coisa de sobrevivência. Eu me perguntava se ela poderia saber mais do que eu.

-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-E então? Curiosos para saber pelo que a Mila passou?

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E então?
Curiosos para saber pelo que a Mila passou?

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SWEET ARROW         {SHAWMILA}Where stories live. Discover now