Capítulo 23: O anticristo

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Sábado, 23h54.

Nos corredores do Palácio do Planalto, uma figura aguarda pacientemente nas sombras a oportunidade de falar com o presidente. Para ele, ter que ir tão longe para falar pessoalmente com uma das peças chaves do apocalipse era muito ruim, além de perigoso, mas precisava ser feito assim. Não havia outra forma do anjo caído Azazel falar com o anticristo a não ser indo até ele. No início ele duvidou que o plano de tentar usar, nesse momento, a figura do anticristo pudesse dar certo, mas diante dos últimos acontecimentos, ele está bastante confiante que pudessem obter êxito, e enfim, subjugar a raça humana.

Barulho de passos chegam até ele, e pela forma de andar, não havia dúvidas: o homem que poderia impor o reino das trevas e dominar a criação mais amada de Deus, estava vindo. Em questão de segundos o presidente chega até ele.

— Venha até o gabinete presidencial para podermos conversar mais tranquilamente — disse o presidente ao passar por Azazel.

O anjo caído o seguiu até o gabinete, onde já estava acostumado a se reunir com ele. Raras foram às vezes em que conversaram em outro local. Inaugurado em 21 de abril de 1960, pelo presidente Juscelino Kubitschek, o Palácio do Planalto foi um dos primeiros edifícios inaugurados na nova capital, Brasília.

Ao entrarem, o presidente não quis saber de enrolação e foi logo ao assunto.

— E então, será hoje o início do nosso reinado na Terra?

— Sim. No momento em que o presidente russo, sob influência de Leviatã, apertar o botão de lançamento da bomba atômica contra a Ucrânia, que está sob a influência de Belphegor, certamente o apocalipse se iniciará — respondeu Azazel.

O presidente então caminhou até a vidraça para contemplar o jardim e as luzes da esplanada dos ministérios, que ficam bem perto do Palácio da Alvorada.

— Esses tolos, nem imaginaram o que estava acontecendo. Enquanto brigavam por ideologias, foram feitos de meros peões no nosso tabuleiro de xadrez. Mas admito, vou sentir falta disso tudo.

Azazel não gostou muito do que ouviu.

— Jamais se esqueça da sua missão e de quem você é, Mamon: príncipe da ganância, o anticristo devorador de almas. Seu papel foi fundamental até agora, fazendo muitos acreditarem num falso Deus e criando intrigas, mas ainda não acabou.

A preocupação do anjo caído era porque ali estava a encarnação do príncipe das trevas Mamon, com sua alma no corpo do homem que hoje ocupa o posto de presidente do Brasil. Mas ele não nasceu sabendo quem era, por isso Azazel teve que cuidar dele desde pequeno, preparando-o para esse momento. De repente o céu ficou negro e as estrelas desapareceram, para logo depois se tornar vermelho, acompanhado pelo som de uma ensurdecedora corneta

— Enfim começou — alegrou-se o presidente.

— Nunca duvidei que Leviatã e Belphegor conseguiriam levar esse conflito a uma guerra nuclear. Com certeza nesse momento o líder dos EUA, influenciado por Lúcifer; o líder da China, influenciado por Belzebu e o líder do Reino Unido, influenciado por Asmodeus, estão colocando os seus arsenais nucleares a disposição da guerra, e com isso o hemisfério norte será praticamente destruído.

Então o presidente, encarnação de Mamon, se vira para olhar Azazel cara a cara.

— O que eu faço agora?

O anjo caído sabia que deveria ter paciência com ele, pois inteligência nunca foi o forte da encarnação de Mamon, mas havia cumprido o seu papel muito bem até agora.

— Você manterá o papel de líder dessa nação, se colocando ainda mais como um servo dela. Dirá que tudo isso é bíblico e que o mundo deve se ajoelhar e orar por misericórdia. E eu irei me certificar que essa garota já tenha sido morta.

O presidente agora estava surpreso.

— Como assim? Se o apocalipse está acontecendo é porque ela não se encontra mais entre nós.

— Você tem razão, mas isso não significa necessariamente que ela tenha morrido. Seu espírito está preso numa outra dimensão, controlada por um djinn, por isso a impressão de que tenha morrido. Eu tenho que me certificar que ela nunca mais saia dessa dimensão. Até lá, continue com o plano.

Azazel abriu suas enormes asas ali mesmo, na frente do presidente, que por ser quem é, sempre pôde vê-lo, e voou rápido de volta ao Rio de Janeiro, mais precisamente à cidade de Nova Iguaçu.

O EncarnadoWhere stories live. Discover now