Capítulo 7: Um príncipe do inferno na Terra

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Sexta-feira, 19h23.

Como que despertado de um transe, Luís Roberto não consegue entender direito o que está acontecendo. Por que ele está no chão, ao lado de mais dois garotos, com uma faca nas mãos suja de sangue? Olhando mais atentamente ao seu redor, percebe que um dos garotos caído ao seu lado está com uma mancha enorme de sangue no abdômen, ao que tudo indica, foi produzida por um ferimento com a faca que está em suas mãos.

Ele se levanta. Não sabe o que fazer, nem o que pensar. "Meu Deus, o que foi que eu fiz?" Então, como uma criança que acabou de quebrar algo valioso dos seus pais, ele apenas foge. Dando as costas para todos que ali estavam, sai correndo.

Ele sai do campo do Brasileirinho pela rua Lídia, dobrando à esquerda, indo em direção à sua casa, único lugar onde ele imaginava ser seguro.

Ele corre em direção à praça dos Camarões, lugar em que a rua Lídia termina na bifurcação com a rua Adolfo de Albuquerque: rua onde seu pequeno barraco se situa logo no início dela, cerca de 500 metros da praça e a poucos metros do campo do Gericinó, pertencente ao Exército Brasileiro.

No seu caminho ele passou pela igreja católica São Francisco de Assis, e não pôde deixar de notar a luz vinda do interior da comunidade: uma luz divina e que não era produzida por qualquer lâmpada. Por um breve momento ele sentiu uma paz em seu coração. Então se lembrou da época em que sua mãe o levava para o curso da catequese, em sua paróquia no Complexo do Chapadão.

Luís Roberto vinha de uma família católica, e foi criado sob os dogmas da igreja. Porém, com a morte prematura de sua mãe por H1N1, perdeu toda sua referência familiar, já que o seu pai abandonou sua mãe quando ele ainda nem tinha nascido. Do dia para noite o seu mundo virou de cabeça para baixo completamente. Um tio seu o levou para viver com ele, mas com pouco tempo para lhe dar atenção devido ao seu trabalho, que consumia todo o seu tempo, ele acabou se vendo largado nas ruas em um dos maiores complexos de favelas do estado do Rio de Janeiro, se tornando assim presa fácil para a sedução do crime, que não tardou a vir.

Chegando no seu portão, apenas o empurrou para entrar numa vila com vários barracos inacabados, que para muitas famílias, eram os seus lares. Percorreu o extenso corredor até a última casa, a mais distante e mais sombria de todas, onde era normal ver as baratas andando pelas paredes e os ratos correndo pelo chão. Ele apenas se jogou em sua cama com lençóis sujos e rasgados. O que seria da sua vida de agora em diante?

Tudo isso aconteceu sem que ninguém percebesse a figura diabólica, que se encontrava no alto do poste da esquina durante os acontecimentos no campo, descer dele e seguir o jovem Luís Roberto pelas ruas da Chatuba. O demônio estava furioso pelo fato de seus planos não terem dado certo, e sua maior preocupação nesse momento era de proteger o seu humano influenciado. Percorreu com ele todo o trajeto até sua casa. Quando Luís Roberto entrou na vila em que mora, o demônio se prostrou como guarda no portão, pois temia que algo ruim pudesse vir atrás dele, o que não demorou a acontecer.

O demônio de pele vermelha e feições de bode percebeu dois outros demônios saindo do campo de Gericinó, e vindo em sua direção.

- O que você arrumou dessa vez, Girão? - perguntou um dos demônios.

- Nada que não esteja controlado, Nicoleus - respondeu Girão.

O segundo demônio, que chegou com Nicoleus, se colocou em prontidão no telhado da primeira casa da vila, o que deixou Girão ainda mais tenso. Seu nome: Bastião.

- Não foi isso que ficamos sabendo, seu demônio burro dos infernos - rebateu Nicoleus.

Girão partiu para cima de Nicoleus. Foi então que Bastião, como um raio, se colocou entre os dois demônios.

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