Capitulo1: A encarnada solitária

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Quarta-feira, 22h05.

"Demônios, como é rápido esse cão dos infernos!"

Sabrina perseguia pelas ruas do bairro do Maracanã o que todos viam ser um enorme cão. Mas o que ninguém sabia em outrora foi um inofensivo animal doméstico, agora era a carcaça de um ser sobrenatural, que para conseguir fazer o mal no plano físico, precisou possuir um corpo recém falecido. E nesse caso, foi o de um cachorro.

O cão era muito mais veloz que a jovem mulher, e já tinha grande vantagem quando saiu da Avenida Maracanã dobrando à esquerda na Rua Professor Eurico Rabelo. Mas para sua surpresa, tão logo ela virou a esquina, o cão estava parado aguardando por ela. Agora poucos metros os separavam. Mas havia um grande problema: ele estava na Praça Violoncelista Alfredo Gomes, nas intermediações do Estádio Mário Filho, o famoso Maracanã. E ali estavam muitas pessoas praticando exercícios, aproveitando a noite agradável que fazia.

Olhando fixamente para o animal, ela poderia jurar que ele sorria. "Maldito demônio!"

Ele parou no meio de todas essas pessoas para poder zombar com ela, pois sabia que a moça não iria invocar suas armas e confrontá-lo ali, mesmo que por uns instantes. As pessoas iriam ver e seria perigoso para todos eles.

Mesmo com toda situação adversa para Sabrina, ela caminhou lentamente em direção ao cão, que já incomodava a todos ali pelo seu mau cheiro. E foi nesse momento que ela teve a louca ideia de enfrentar a besta sem usar sua principal arma: o arco e flecha. Usaria apenas suas adagas.

O demônio não compreendeu o que ela queria fazer, pois, não tinha conhecimento de que Sabrina, além de possuir uma excelente mira com o arco, também era mestre usando adagas.

O cão ouriçou os seus pelos e rosnou para ela, um rosnado que assustou as já enojadas pessoas que estavam por perto.

Tudo aconteceu muito rápido. O cão correu em direção a ela e a atacou. Sabrina por sua vez invocou suas duas adagas, que surgiram junto com seus coldres em suas pernas, e pulou em direção ao cão demoníaco. Num movimento rápido ela puxou as duas adagas, e com uma perfurou debaixo para cima no focinho dele e a outra estocou fundo em sua barriga. Sem fazer nenhum tipo de barulho, a fera caiu no chão imóvel.

Mas do que depressa ela guardou suas armas e saiu em disparada pela Avenida Maracanã em direção à Avenida Radial Oeste, depois em direção à Praça da Bandeira, deixando para trás as pessoas confusas com o que haviam presenciado.

Tomou todos os cuidados para ter certeza que ninguém a tinha seguido ou reparado que foi ela que matou um enorme cão perto dali, e que poderia render alguma notícia em algum veículo de imprensa. Seguiu em frente.

Atravessou por dentro de um posto de gasolina, na Praça da Bandeira, bem em frente a entrada da rua Ceará, que leva a Vila Mimosa, famoso reduto de prostituição da cidade. Então viu olhos vermelhos em chamas a observando de longe: eram demônios e sabiam o que ela tinha acabado de fazer. Ela os encarou por um tempo e sem demonstrar um pingo de receio ou medo, continuou o seu caminho.

Atravessou o Viaduto dos Fuzileiros em direção a Avenida Presidente Vargas, vendo de longe a prefeitura da cidade, e passando em frente ao prédio administrativo dos Correios, sambódromo e Terreirão do Samba. Chegou na Praça da República, onde virou à direita. Andou mais um pouco, e passando pelo Hemorio, dobrou à direita novamente na rua Frei Caneca. Mais alguns metros e subiu por umas escadas velhas com pisos de madeira. Enfim, estava em casa.

Sabrina tinha uma vida dura: trabalhava como telefonista em uma empresa de telecomunicações perto de casa durante a tarde. Sua função só permitia uma jornada de seis horas de trabalho. E de noite ficava à disposição para, eventualmente, colocar sua vida em risco no plano físico, onde os anjos não podiam atuar.

O EncarnadoWhere stories live. Discover now