Capítulo 14: O nefilim

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Sábado, 00h04.

Já passava da meia-noite quando um Honda Civic novinho atravessou a ponte que liga os municípios de Nilópolis e Mesquita, entrando no bairro da Chatuba pela rua Inácio Serra. No carro apenas o motorista e um homem que viajava no banco traseiro, logo atrás do banco do carona.

As ruas estavam desertas, um clima sombrio pairava no ar. O ocupante deu ordem para o motorista virar na primeira à direita, na rua Maria Braga. Poucos metros à frente, o motorista teve que parar, pois uma barricada o impedia de continuar. Agora eles estavam parados exatamente na entrada de um CIEP, à sua direita, e de frente a um terreno baldio, à sua esquerda. E olhando para o terreno baldio, a dupla no carro viu 5 bandidos com fuzis apontados para eles.

— Desce, desce, desce — disseram todos os bandidos para os ocupantes do carro.

O motorista, com a maior tranquilidade do mundo, baixou todos os vidros do carro.

— Podem relaxar, somos amigos.

— Amigos de cu é rola. Podem descer! — disse o mais exaltado do grupo e que parecia ser o líder.

— Calma amigo, não representamos ameaça alguma para vocês.

A essa altura o grupo já cercava o carro, nunca deixando de apontar suas armas para os dois integrantes. O motorista, de forma bem devagar, abriu sua porta e saiu do veículo. O segundo ocupante permaneceu quieto no mesmo lugar, como se nada estivesse acontecendo. A luz no lugar era precária, e os bandidos ainda não estavam tranquilos.

— Mano, o que vocês estão fazendo aqui? E por que o outro idiota não desceu ainda do carro?

O motorista levou sua mão direita ao rosto, deixando claro sua desaprovação com o que havia acabado de ouvir.

— Vocês por acaso tem alguma noção com quem estão falando?

O motorista começava a dar sinais de impaciência com o bando. Então, mais que de repente, a porta traseira do lado direito se abriu e o homem, que estava quieto até agora, desceu.

— Meninos ingênuos não servem para esse tipo de serviço — falou ele dando a volta no carro e indo em direção ao seu motorista.

O rapaz que estava mais perto dele, e que tinha o acompanhado de perto, esboçou um movimento de lhe dar uma coronhada com o fuzil, mas foi impedido por um dos rapazes.

— Para! Não faça isso irmão, pelo amor de Deus!

O pretenso agressor ficou confuso com a reação do comparsa, que demonstrava ter entendido alguma coisa diferente.

— Qual o teu problema, mano? Não se meta nos meus assuntos!

O outro apenas levantou as mãos e disse:

— De boa, que Deus te acompanhe.

Então, com a euforia renovada pela “vitória” em cima do comparsa, ele continuou.

— E então, ainda nos acha ingênuos? 

O rapaz levantou o fuzil para dar uma tremenda coronhada na nuca do homem. Mas como se tivesse olhos nas costas, ele levantou o braço esquerdo, colocou no peito do jovem e lhe deu um empurrão muito forte, fazendo-o bater as costas violentamente contra o carro. O rapaz nem havia assimilado ainda o que havia acontecido e o estranho já estava junto dele com uma enorme faca em seu pescoço. De onde havia saído aquela faca? Pensaram os outros quatro rapazes, que só não fizeram nada porque o amigo deles, que havia alertado o agressor, estava imóvel com as mãos para cima, numa clara demonstração de que não ia se meter. O movimento foi rápido, o corte profundo, e em poucos segundos o jovem traficante agonizava no chão, coberto de sangue.

O EncarnadoWhere stories live. Discover now