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20 de Julho – Madalena

Mal piso o exterior das minhas instalações de trabalho, após o meu horário de saída, arrependo-me instantaneamente de ter escolhido vestir um macacão inteiramente preto hoje. O hotel tem ar condicionado, então só agora me apercebi do real calor que está cá fora e de que vou completamente assar no carro durante o percurso até casa. Dou mais um gole na minha água, ainda fresca, e depois inicio o trajeto até ao local onde deixei o carro estacionado. Mal entro, confirmo as minhas teorias, uma vez que o carro está super quente e eu mal consigo apoiar as mãos no volante. Abro imediatamente os vidros, para ajudar a refrescar, e relembro-me de que preciso de começar a poupar a sério para comprar um carro mais moderno, de preferência que tenha ar condicionado.

O único benefício de todo este calor é que as pessoas estão de férias e, portanto, apanho menos trânsito e demoro muito menos tempo a chegar a casa. Estaciono o carro na garagem subterrânea do prédio e subo pelas escadas até ao andar onde fica o apartamento que partilho com a Soraia. Por esta altura, a minha melhor amiga já deve estar em casa, uma vez que ela costuma sair uma hora antes de mim. Rodo a chave na fechadura, abrindo a porta e descobrindo um apartamento totalmente às escuras, o que é estranho, tendo em conta que eu deixei as persianas meio abertas esta manhã. Assim que dou um passo em frente, fechando a porta de casa atrás de mim, sou surpreendida por luzes que se acendem do nada e um coro de vozes a entoar a típica canção dos Parabéns.

Sou verdadeiramente apanhada desprevenida com esta surpresa, porque, com o divórcio dos meus pais, este ano não me sentia propriamente no mood certo para festejar o meu aniversário, então disse à Soraia que não ia fazer nenhum jantar nem nada de especial para celebrar a data e, apesar de ela ter insistido um pouco, depois acabou por deixar morrer o assunto. Aliás, hoje de manhã, cruzámo-nos ao pequeno-almoço, ela desejou-me um feliz aniversário e entregou-me o seu presente – um colar muito simples e bonito, em prata, com a inicial do meu nome – sem fazer grande alarido. Não esperava, de todo, que ela estivesse a preparar-me uma surpresa destas.

Além da Soraia e do Tiago, o Diogo é a primeira pessoa que os meus olhos identificam na sala do meu apartamento – o que me faz sentir um pouco mal comigo mesma, uma vez que eu nem se quer lhe disse que hoje era o meu aniversário. Além deles os três, estão presentes a Maria e a Beatriz, as minhas duas amigas do curso mais próximas, e também Edgar, um dos meus melhores amigos dos tempos de secundário, que atualmente está a viver em Aveiro e que, pelos vistos, veio de propósito para a minha festa.

Quando o coro termina, Soraia aproxima-se de mim com o bolo para que eu apague as velas e todas as atenções estão focadas em mim. Sei que deveria dizer algo, mas fui completamente surpreendida e nunca sou boa a falar sob pressão.

- Obrigada a todos! – é tudo o que consigo dizer, fazendo os meus amigos gargalharem.

As janelas da casa são abertas – foram fechadas apenas para o efeito surpresa e esta sala está um forno – e toda a gente se dispõe confortavelmente pela sala, petiscando a comida que certamente a Soraia preparou ou comprou para esta pequena festa. É à minha melhor amiga que me dirijo primeiro.

- Eu sei... eu sei que tu disseste que não querias festejar, que não estavas no mood, mas eu achei que era exatamente disto que tu precisavas. De te juntares com as pessoas que gostam de ti e se preocupam contigo! – a Soraia fala mesmo antes de eu ter oportunidade de abrir a boca – Por isso, apenas aproveita, está bem?

- Obrigada, Su. – digo, sorrindo-lhe e puxando-a para um abraço – Nem acredito que tiveste todo este trabalho...

- Não me deu assim tanto trabalho e o Diogo ajudou-me bastante. – ela responde – O rapaz nem sabia em que dia fazias anos, Mada'... Isso é cruel. – ela brinca, ao que eu reviro os olhos.

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