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Diogo

Às 7h15 da manhã, o meu despertador toca, dando sinal que é hora de me levantar e de me despachar para o treino da manhã. Embora estremunhado e com bastante preguiça, lá acabo por me levantar e arrasto-me até à cozinha para preparar o pequeno-almoço: torradas com ovos mexidos e um batido. É só quando me sento ao balcão da cozinha, para começar a comer a mais importante refeição do dia, que pego pela primeira vez, desde ontem à noite, no telemóvel. Reparo então numa mensagem, recebida perto da meia-noite e meia, que foi enviada por um número que não consta nos meus contactos.

Sorrio ao ler a mensagem e descobrir quem é o seu remetente, neste caso, a sua remetente. Fico feliz ao receber a mensagem da Madalena. Primeiro, porque passei o dia de ontem a pensar no sucedido, preocupado com ela e com toda aquela situação complicada. Depois, porque achei-a genuinamente boa pessoa e acho que podemos vir a ser bons amigos.

Apresso-me a adicionar o seu contacto à minha lista e decido responder-lhe logo de seguida.

Para: Madalena

Mensagem: Bom dia! Ontem, de facto, já estava a dormir quando enviaste a mensagem, por isso é que só estou a responder agora. Como te disse, não tens nada que agradecer, porque eu não fiz mais do que devia. Aliás, eu fiz o que qualquer pessoa deve fazer quando testemunha uma situação daquelas. Sentir-me-ia mal se não tivesse feito nada. Além disso, nunca te poderia ter deixado sozinha quando estavas claramente frágil e vulnerável. Só fiz o que a minha consciência me mandou, assim como aquilo que a educação dos meus pais me ensinou. Se precisares de mais alguma coisa, estou aqui. Acho que podemos dizer que somos, oficialmente, amigos. Ahahah! Beijinhos e boa semana.

Como homem e alguém que já teve relações que correram mal, não consigo imaginar o que vai na cabeça de alguém que simplesmente não é capaz de aceitar o fim de uma relação e que acha que a violência é a solução. É claro que um fim de relação nunca é uma coisa boa, mas temos mais é que aceitar e seguir em frente, em vez de continuar a infernizar a vida da outra pessoa. Isso é só ridículo. Aquele homem que agrediu a Madalena é um cobarde de toda a espécie, que acha que tem de ter tudo o que quer, a qualquer custo. Espero bem que a polícia consiga fazer algo para proteger a Madalena daquela escumalha.

Sou obrigado a prender os meus pensamentos no fundo da minha cabeça, porque tenho de me despachar para não chegar tarde ao treino. Depois do pequeno-almoço tomado e de arrumar a louça na máquina, vou até ao quarto para me vestir e preparar o saco do treino, acabando por sair de casa perto das 8h. Como de costume, apanho algum trânsito até chegar ao Olival, mas consigo chegar às 8h30, deslocando-me imediatamente até ao balneário para me equipar.

- Bom dia! - cumprimento os meus colegas, ocupando o meu lugar e trocando rapidamente a roupa que trago vestida pelo equipamento de treino.

- Bom dia, puto. Tudo bem? - pergunta-me o Sérgio, que ocupa o lugar ao meu lado.

- Sim, tudo tranquilo. Tirando o raio do trânsito que me põe de cabelos em pé logo de manhã. - comento - E tu?

- Tudo bem. - ele responde - Olha, puto, ontem não consegui não pensar naquela miúda do hotel, a tua amiga. Sabes se ela ficou bem?

- Por acaso, ontem ela mandou-me mensagem a dizer que estava bem e a agradecer-nos por termos aparecido. - respondo - Acho que agora tem de esperar até a polícia concluir algo.

- Espero que a consigam proteger. Aquele gajo é um animal. - o Sérgio comenta e eu assinto - De onde é que a conheces? Quero dizer, isto sou eu a assumir que não a conheceste naquele dia...

- Não, não a conheci naquele dia. - gargalho - Um dia destes, estava a correr na praia de Matosinhos e vi uma miúda sozinha, a chorar, parecia mesmo mal. E como sou um gajo decente, aproximei-me e perguntei se estava tudo bem, se eu podia ajudar. Pronto, não começámos propriamente com o pé direito, porque ela obviamente estava a passar por um mau bocado e não estava com vontade de falar com um estranho, mas no dia da gala conversámos e ficou tudo mais que esclarecido. Claramente, ela estava a passar por uma fase má por causa daquele otário. - explico - E continua.

- Que cena... Juro que nunca achei que ia testemunhar uma cena assim. - o Sérgio diz - Só espero que a polícia faça alguma coisa.

- Também eu. Já lhe pedi para me dizer assim que soubesse de mais alguma coisa. Não consigo não ficar preocupado. - desabafo.

- És um coração mole. - o meu amigo goza - E ficaste embeiçado, foi?

- Epá, menos. Eu nem a conheço bem. Sei o nome dela, onde trabalha e que tem um ex-namorado otário. É tudo o que sei. Somos recém-amigos, digamos assim. - respondo.

- Isso não quer dizer nada. - ele continua, ao que eu reviro os olhos.

- Deixa-te lá dessas coisas. Eu estou muito bem sozinho. - respondo - Vá, vamos é treinar antes que o mister nos ponha a dar voltas extra ao campo por chegarmos atrasados.

O treino decorre dentro da normalidade, embora com alguma exigência extra, visto que dentro de 3 dias teremos um jogo importante contra o Vitória de Guimarães. Por volta das 12h30, a sessão da manhã é encerrada e nós saímos para almoçar.

- Estava aqui a pensar na conversa que tivémos antes do treino... - o Sérgio começa e e logo eu o interrompo.

- Foda-se, eu já te disse que não estou embeiçado pela Madalena! - corto.

- Nem era isso que eu ia dizer, mas se te afetou assim tanto é porque tem um fundo de verdade! - ele contra argumenta, ao que eu grunho em frustração - Posso falar ou vais interromper outra vez?

- Vá, diz lá. - respondo, como uma criança contrariada.

- Podias dar-lhe bilhetes para ela vir ver o nosso jogo. Acho que a podia animar e distrair dos problemas dela. - o meu amigo e companheiro de equipa sugere - Além disso, vocês são amigos, certo?

- Por acaso nem é má ideia. Ainda por cima, acho que a amiga dela gosta de futebol. - comento.

- Então, pronto, vinham as duas. Acho que ia fazer bem à miúda. - ele opina.

- Vou pensar sobre o assunto. - respondo, tentando não lhe mostrar que vou obviamente seguir a sua sugestão.

De facto, acho que sair um pouco da sua rotina pode ajudar a Madalena a espairecer um pouco e a esquecer os eventos mais recentes. Não sei se ela é propriamente grande adepta de futebol, mas um bom jogo anima qualquer um. É isso. Vou mesmo arranjar dois bilhetes e tentar arranjar forma de lhos entregar. 

Lucky Strike | Diogo Costa ✔️Where stories live. Discover now