61 - Reencontro

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Não dormi nada nesses dias que passara no Reino. Minha cabeça estava cheia de pensamentos que ficavam tirando meu sono e minha paz.

Ezekiel tentou me fazer ter uma estadia o mais normal possível, assegurando que tudo iria ficar bem, mas nem ele sabia disso. Ele não podia garantir que tudo iria ficar bem.

Um dia, vi ele falando pelo rádio e me olhar de forma intensa, isso chamou minha atenção. Tentei descobrir o que era, mas Ezekiel era um túmulo, de onde não saía informação alguma.

Nesse dia, com o sol queimando a minha pele exposta dos braços, eu enfrentava Morgan, num treino amigável, a pedido do pequeno Henry. Tinha de confessar que Morgan era muito bom, e eu não estava acostumada com aquele tipo de arma.

Morgan sorriu, rodando aquela vara enorme. - Quer desistir, Barnes?

Rodei, imitando o gesto dele. - Nunca. - E avancei.

- Lamento dizer, Morgan, mas acho que a Zoe vai derrotar você.

Daniel, sentado no chão, junto de Henry, riu, assentindo.

Morgan os olhou, franzindo o cenho, e foi o suficiente para que eu abaixasse, batendo nos seus tornozelos e fazendo ele cair no chão, fechando os olhos por conta do embate e coloquei a ponta da vara sob o seu queixo. Sorri.

- Perdeu, Morgan.

Ele sorriu. - Tá, você é boa. Me ajuda a levantar. - Ele esticou a mão.

Segurei a mão dele e fiz força, mas Morgan me puxou e acabei caíndo, e ele encostou a sua vara no meu pescoço.

- Nunca confie no inimigo.

Revirei os olhos. - Nunca abaixe a guarda. - Ergui a vara e bati na parte de trás dos seus joelhos, fazendo ele ajoelhar.

- Você nunca desiste mesmo. - Morgan me olhou, agora de pé na sua frente, e foi quando meu corpo gelou.

Ali, vendo Morgan ajoelhado, me olhando, eu vi Abraham e Glenn. O taco do Negan abrindo as suas cabeças. Meus amigos morrendo por culpa minha, culpa da minha burrice de enfrentar tudo e todos.

- Zoe?

Larguei a vara e me afastei, escutando Daniel vindo atrás de mim. Ele havia se tornado um amigo, coisa que nunca esperei que acontecesse no Reino.

As lágrimas ameaçavam cair pelo meu rosto enquanto me afastava. Glenn não iria conhecer o filho, aliás, talvez ele conhecesse... Duvidava que Maggie tivesse conseguido segurar depois de tudo. E Negan falara que ela estava morta... Já nem sabia em quem acreditar.

Parei e ergui a cabeça, olhando o céu azul.

- Zo. O que aconteceu?

Senti um arrepio, ninguém me chamava daquele jeito. Não depois da morte do meu padrasto.

Girei e encarei ele. - É Zoe, ou Z. Nunca Zo.

Daniel assentiu. - Desculpa. - Se aproximou. - O que aconteceu? Porque você ficou estranha? Nem o Morgan entendeu.

Balancei a cabeça e foi aí que não consegui mais segurar as lágrimas.

- Meus amigos, os que o Negan matou, morreram assim, ajoelhados. - Fechei os olhos. - Negan abriu as cabeças deles. Eles... Foi culpa minha. Eu enfrentei o homem, eu tentei impedir, eu... Eu tentei.

Senti os braços dele me rodeando, me puxando para si, e deixei. Naquele momento nada importava, exceto o Daryl, mas nada mais importava. Eu estava um farrapo, minha mente estava um caos e aquele abraço veio na hora certa.

- Tenho certeza de que a culpa não foi sua.

Respirei fundo. - Foi sim. Foi minha, sim.

Daniel me afastou e me fez olhá-lo.

- Negan iria matar qualquer um, com ou sem o seu ataque.

Fiquei olhando ele e depois suspirei. - Eu nem sei se a mulher de um deles sobreviveu. Mas... Se ela estiver viva, como eu vou olhar na sua cara? E a Sasha? Como eu...

- Tenho certeza de que não foi culpa sua. - Daniel me sorriu. - E vamos achar um jeito de consertar tudo. - Ergueu a mão, fechada, como a Tara fazia. - Certo?

Sorri e bati na sua mão com a minha. - Certo.

Dias depois, eu ainda me culpava por tudo, e duvidava que isso alguma vez fosse mudar. Ainda não conseguia dormir, mas Daniel foi incansável comigo, me apoiando sempre e aparecendo de cada vez que meus gritos acordavam a comunidade inteira durante a noite, por conta dos pesadelos.

Ensinei ele a caçar nos poucos dias que passara no Reino, ensinando a ele coisas que Daryl me ensinara. Daniel parecia satisfetito por aprender algo novo e parecia que tinha como tarefa, me manter ocupada durante o dia, para impedir minha mente de pensar, e fazia questão de me cansar, para que eu adormecesse assim que caísse na cama, tentando me impedir de sonhar.

Nunca seria capaz de agradecer a ele pelo seu esforço de titã. Eu não era fácil e Negan me destruira um pouco mais.

Nesse dia, tirei uma maçã das mãos do Daniel, fazendo com que ele tentasse roubar ela de mim novamente, com Henry junto de nós, rindo e torcendo por mim, enquanto me abaixava e via os braços de Daniel á minha volta, tentando recuperar a maçã.

- Zoe!

Parámos e me endireitei, vendo Jerry um pouco afastado, mas com um sorriso enorme.

- Vem cá, tem uma coisa para você ver.

Troquei um olhar com Daniel.

- Eu fujo se você fugir. - Disse ele.

Eu ri e bati no seu peito, passando por ele e lançando a maçã para Henry, que me seguiu, enquanto Daniel, que se convertera no meu anjo da guarda, ajustava o seu passo com o meu.

Fomos na direção do portão e foi quando parei de andar, sentindo meu coração parar de bater.

Ali, na frente do portão, estava a minha família. Meu grupo estava todo ali, incluindo Jesus, que segurava um taco bastante familiar, apoiado no ombro.

Tara, Rick, Michonne, Carl... Todos eles.

- Z!

Carl correu na minha direção e abri os braços, apertando ele.

Todos ficaram confusos por me verem ali, mas eu fechei os olhos, apertando Carl nos meus braços. Eles estavam vivos.

Depois ele se afastou. - Como? Como escapou?

Sorri. - Longa história, depois te conto.

Jesus se aproximou e me abraçou, se afastando depois e entregando o bastão para mim.

- Acho que isso é seu. - Indicou o bastão com a mão. - Agradece para o Daryl, foi ele quem tirou ele do Santuário.

Franzi o cenho e Jesus se afastou um pouco e foi quando eu vi ele.

Daryl estava parado do lado de Rick, me olhando como se não acreditasse no que estava vendo.

Soltei o bastão no chão antes de correr para ele.

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