9 - Nasceu Uma Amizade

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Zoe:

Meus dias eram passados ali, naquela cela, na minha cela, depois de eu ter quase que exigido que me deixassem mudar para cima. Daryl me ajudou, me carregando até lá, já que ninguém me deixava andar.
Ainda não conhecera a Judith, apenas sabia que Daryl apelidara ela de bravinha e que escrevera isso mesmo no berço.
Loki passava metade dos seus dias comigo, a outra metade junto de Carl ou Daryl, já que o caipira descobrira as habilidades de caçador do cachorro e decidira que aquele era o seu novo melhor amigo.
Nesse dia, Beth surgiu na minha porta, segurando algo nos braços.
Me olhou, esperando, e um sorriso fraco nasceu nos seus lábios.
Fechei o livro que Daryl trouxera e sorri abertamente, colocando o mesmo em baixo do travesseiro.
- Não... Sério? É ela?
Beth assentiu e entrou, puxando a cadeira e sentando junto da minha cama.
- Daryl falou que você estava curiosa e meu pai disse que não havia problema.
Espreitei e depois Beth colocou aquele ser pequenininho nos meus braços.
Olhei ela, dormindo, como se nada abalasse ela. Era a coisa mais linda do mundo.
- Você sabe pegar.
Olhei Beth. - Eu tinha uma irmã mais nova. - Sorri. - Peguei nela bastante e dei banho, e comida, e mudei de roupa... Tudo. - Fiz carinho na mão fechada dela. - Como alimentam ela?
- Minha irmã e o Daryl pegaram fórmula e algumas outras coisas, mas temos de pensar em procurar mais. Judith come bastante.
Assenti e depois olhei Beth.
- Viu só? Eu não mordo.
Ela riu, nervosa. - Você sempre me pareceu assustadora. Foi mal, Z.
Sorri e assenti. - Está perdoada. - Depois olhei Judith, que abria os olhos. - Oi, Jude.
Beth riu. - Já está procurando a mamadeira. - Levantou e esticou os braços.
- Posso ficar com ela enquanto prepara?
Beth assentiu. - Vou ser rápida.
Assim que ela saiu, olhei a bebê. - Ela pode demorar, né? - Toquei na sua bochecha. - Você ia gostar da Di, ela era muito legal. Mais do que eu.
Ri, lembrando da minha irmãzinha.
- Com que então o Daryl já apelidou você? Da próxima vez, chora bastante quando ele te pegar.
- Acho que isso não vai acontecer.
Olhei a porta e vi Daryl, encostado na beira, nos olhando.
Sorri e revirei os olhos. - O chato chegou e vai perguntar como nós estamos, se estamos com dor e se estamos bem em relação ao T. - Respirei fundo. - Mas nós estamos trabalhando nessa última parte, né?
Daryl estreitou os olhos. - Sabe que fica estranho você falando de você mesma, na terceira pessoa.
Fiz careta. - Olha, o caipira percebe de português.
Ele revirou os olhos e tirou Judith dos meus braços.
- Hey! - Protestei.
Ele sorriu.
Beth surgiu e pegou na Jude, levando ela e dando um "Oi" muito rápido e muito sorridente para o Daryl, que nem ligou.
Cruzei os braços e ele me olhou.
- O que é?
Indiquei a porta. - A Beth. Gosta de você.
- Pffff, qual é? - Ele sentou na cadeira.
- Sério. Ela gosta.
Daryl me olhou e depois deu de ombros. - Tá, e daí, se gostar? Problema dela.
- Credo, que rude.
- E eu nasci para agradar alguém, por acaso? - Ele colocou a besta no chão.
Inclinei a cabeça para o lado. - Tá...
- Não enche. - Depois me indicou com a mão. - E você, como você está?
Eu ri e depois ri mais ainda da cara dele.
- Eu sabia. - Suspirei. - Estou bem.
Daryl ficou me olhando. - Hum.
- Sério, Daryl, dói saber que ele não vai aparecer, rindo e zuando, mas eu estou bem. Pelo menos ele não está mais lutando para sobreviver nesse mundo governado por mortos.
Daryl assentiu.
- Mas e o Rick? - Perguntei.
- Na mesma. Nós cuidamos da Jude, claro, mas ele se mantém afastado.
- Deve ter sido duro.
Daryl assentiu de novo. - É... Perder alguém, como ele perdeu a Lori, é difícil.
Franzi o cenho, observando ele. - Deve ser.
Daryl me olhou, pareceu perceber que falara aquilo em voz alta e se mexeu.
- Vou pegar algo para você comer. Fica aí. - Ele levantou.
Revirei os olhos. - Para onde mais eu iria? Se eu sair dessa cama, tenho um monte de armas mirando minha cabeça, em dois segundos.
- Exatamente, aprendeu rápido. - Daryl saiu, descendo as escadas.
Da primeira vez que eu tentara sair da cama, Hershel, Daryl, Maggie e o próprio Glenn, me ameaçaram. Eles iriam partir para cima de mim se eu tentasse sair de novo. Como se eu tivesse medo deles, mas cumpri a minha parte. Aliás, estava cumprindo e minha clausura estava quase no fim.
Peguei a faca que Daryl me dera, a que pertencia ao T-Dog, e fiquei olhando ela, rodando nas mãos.
Sentia saudades do T. De todos ali dentro, eu me aproximara demasiado dele e ele sempre respeitara nossa amizade, nunca tentando nada mais do que isso. Em parte, era uma das coisas que eu gostava nele: T sabia que éramos amigos, só amigos, e, tal como eu, ele estava bem com isso nunca tocando, sequer, na possibilidade de poder ser diferente.
Limpei uma lágrima traiçoeira que caía pelo meu rosto e sorri para a faca.
Loki entrou na cela, me fazendo pular de susto e poisei a faca do meu lado, na mesa de apoio.
- Loki!
Ele subiu para cima de mim, lambendo meu rosto e pedindo carinho, parecendo todo sorridente. Acariciei seu pêlo suave e sorri.
- Também tive saudades suas, seu idiota. Aliás, soube que andou me trocando pelo Carl e pelo Dixon. - Segurei a cabeça cabeça dele nas entre as mãos. - Seu traidor! O Daryl não estava nos planos de amizade. - Revirei os olhos. - Eu sei o que você está pensando.
Soltei ele e sorri.
Daryl entrou nesse momento, segurando uma lata aberta e um garfo. Olhou Loki e indicou ele com a mão.
- O Lok é um ótimo caçador. - Ele disse, me entregando a lata. Depois sentou na cadeira e o cachorro pulou no chão, indo para junto dele.
Franzi o cenho. - Lok?
Daryl me olhou e deu de ombros. - Eu chamo ele assim, ás vezes.
- Sei.
Olhei a lata e tirei um pedaço de comida, colocando na boca.
Percebi que Daryl notou a faca em cima da mesa, mas ele não comentou sobre isso, ficando ali, em silêncio, com o Loki pedindo atenção para ele.
Sorri e nesse momento, Maggie entrou e me sorriu.
- Hora de trocar o curativo. - Indicou a minha perna.
Para facilitar, eu usava um short, então Maggie pôde trabalhar enquanto eu comia.
- Como você consegue? - Daryl parecia chocado.
Olhei ele e ri. - Porque não? Nem tá doendo. - Maggie apertou. - Ah! Agora tá doendo.
Ela me olhou. - Desculpa.
- Mas me fala, quando vou poder sair daqui? - Perguntei. - Porque isso está sendo aborrecido e, por muito que eu goste da ideia do Daryl fazendo coisas para mim, já estou cansada.
Ele estreitou os olhos. - O quê?
Sorri e Maggie riu. - Ora, quem não iria querer um mordomo assim, que nem você? Até trata do meu cachorro.
Maggie riu alto e Daryl levantou.
- Mordomo? Pois a partir de agora se vira. - Saiu da cela. - Vem, Lok.
- Hey! - Gritei. - É o meu cachorro, seu idiota! Volta aqui! - Olhei Maggie. - Eu estava brincando. Ele pensou mesmo que aquilo do mordomo era sério?
Ela assentiu, sorrindo e mordendo o lábio. - Pensou, sim. Daryl é diferente, ele leva algumas coisas muito na letra.
Bufei de raiva. - Perdi meu melhor amigo, e agora afastei o Daryl... Ótimo. E ele ainda levou o Loki!
Maggie riu. - A parte do Daryl foi culpa sua.
Estreitei os olhos. - Sabe que esse anel que o Glenn te deu, era da minha mãe, não sabe?
Ela ergueu as mãos. - Tá, tá, desculpa. Você é um amor de pessoa.
Rimos e eu tirei mais um pedaço de comida e encostei no travesseiro. - Sou mesmo.

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