A vida por um fio

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Permanecendo mais de vinte minutos, em silêncio, sentindo suas lágrimas silenciosas rolarem pelo rosto, Sasuke, analisava com pesar o estado decadente que se encontrava o seu marido. Naruto, não havia parado de chorar por nenhum segundo, o soluço era engasgado, sôfrego aos olhos, tanto que agora o moreno se sentia mais triste pela situação em que se encontrava o homem da sua vida, do que, propriamente, a triste constatação que tiveram naquele dia que tinha tudo para encerrar de maneira linda, alegre... Irônico, como a vida nos passa uma rasteira quando menos esperamos, quando menos estamos preparados, o Uchiha achava de uma grande sacanagem essa merda toda que passaram. Seria o Karma? Talvez, Deus realmente quis os castigar, pois não havia motivos para tudo desmoronar bem no momento crucial e no instante em que conheceriam a moça que doaria seu útero para gerar o tão sonhado filho deles. A verdade é que passaram por tantos e tantos ataques homofóbicos, mas nenhum foi mais doloroso que aquele, as palavras daquela miserável cortaram fundo, tão fundo em seu coração quanto no de seu esposo, que ainda permanecia cabisbaixo, com o rosto inchado de tanto chorar.

Maldizeres da vida. Situações bem filhas da puta que simplesmente não estamos preparados e que, incrivelmente, nos pega em circunstâncias vulneráveis! Que situaçãozinha... Credo!, como iriam imaginar que teriam uma reação tão negativa?! Nem ao menos saíram de casa com essa possibilidade rondando em suas mentes. Sasuke mesmo sabia, mesmo sentia a alegria vinda de seu esposo, que radiante iluminou ainda mais aquele dia, o qual, ironicamente, se encerrava nublado, formando-se nuvens densas de água, fechando o tempo e dando o ar melancólico. Que droga!, brandou em pensamento, estalando a linda no céu da boca, ele odiava vê-lo assim, seu raio de sol, Naruto era sempre iluminado, poucas e poucas vezes o viu cair, chorar ou até mesmo fraquejar em meio a essas situações impertinentes. Foi ele que muitas das vezes o levantou, lhe dando forças para encarar o preconceito, lhe dando amor, esperança... Inferno, a realidade tende a ser bem filha da puta, ou melhor dizendo: as pessoas tendem a serem bem filhas da puta quando querem. E ele faria, com toda certeza, aquela mulherzinha miserável pagar pelo que fez com eles. Não deixaria impune, não a livraria do crime que ela cometeu, mesmo que isso levasse tempo, ou, mais dores de cabeça, não se importava com os contratempos que poderiam ter, Sasuke, naquele instante, tinha apenas uma certeza: ele a levaria ao tribunal, ganharia a causa, fazendo-a se arrepender pelo que fez. Assim, nunca mais ela faria outro casal homossexual passar o que os dois passaram. O moreno se recusava a deixá-la impune e não o faria, seria tudo cobrado dela; o choro de Naruto, o dele, a humilhação que passaram, o trauma... tudo, exatamente, tudo!

Portanto, com tal pensamento em mente, se permitiu respirar fundo, puxando todo ar que conseguiu para depois soltá-lo bem calmante. Repetiu várias vezes, até se sentir mais calmo, mais relaxado, ainda que dolorosa a sensação, agora, mais calmo, seus pensamentos eram postos em ordem. O Uchiha tinha total noção que precisavam desse momento de choro, sofrimento, lágrimas, lástimas, contudo, precisavam se reerguer, levantar a cabeça e seguir em frente. De fato, ele também sabia que seria completamente diferente para seu esposo, que sempre lidou de maneira muito intensa, em completamente tudo que faz na vida; seja no trabalho, ou no seu cotidiano em casa; como lidava com os amigos, ou com o problemas com os pais. Naruto sempre foi muito intenso e justamente por isso, sofreria mais, muito mais, sofregamente como estava agora. Numa expressão tão decadente, tão dolorida que Sasuke era capaz de sentir o gosto amargo na boca, odiava vê-lo assim. Odiava. Odiava. Doía tanto nele, que era capaz de sentir seu coração rasgando, como se estivesse compartilhando da mesma dor, o que de fato estavam.

- Amor... - engolia a seco, tentando conter as lágrimas. Durante esse tempo que divagou e divagou, amaldiçoando a miserável, o moreno conseguiu dirigir não sabia como, mas seguiu sem destino, parando próximo a uma praça, coincidentemente, a mesma em que visitavam com frequência - sei muito bem como tudo isso te abalou, mas preciso que seja forte. Por mais dolorido que seja, não podemos nos deixar cair assim tão facilmente... - obtendo uma resposta, mesmo que mínima, o Uchiha continuou assim que recebeu o olhar baixo, avermelhado devido às lágrimas; era lastimável. - Eu te amo. E esse meu amor por você, será capaz de passar por cima de todas objeções para chegarmos ao nosso sonho, você sabe disso - suspirou, desviando o olhar, sentia agora seus olhos arderem, era difícil admitir para si mesmo, mas talvez... só talvez...

A três Where stories live. Discover now