Um sol para duas luas

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No quarto de hóspedes, sentada na beira da cama, com os ombros e cabeça caídos, as lágrimas inundavam os olhos perolados da morena, tanto que sua visão estava embaçada. Hinata jurou para si inúmeras vezes que não choraria mais com as coisas que saísse da boca do seu pai, entretanto, novamente havia falhava. Por mais que quisesse gritar aos quatro cantos do mundo que o odiava, não era verdade. Amava o senhor Hiashi, o respeitava e admirava, portanto, independente de tudo, ele ainda era o seu pai. Porém, certamente esse tipo de relacionamento é abusivo, vindo do homem que é o primeiro príncipe de uma garotinha. Hiashi sempre teve esse poder de quebrá-la de dentro para fora, o Hyuga nunca mediu esforços para maltratar e diminuir Hinata, ele sempre se pôs a prol da loucura e do sadismo, afinal, ele parecia gostar de vê-la sofrendo constantemente, se afastando de tudo e de todos para o estudo. Hiashi aparentava amar ver a filha lutando e lutando pela sua aprovação, tão cruel...

No entanto, essa forma de "educar", mesmo a quebrando diversas vezes, isso também foi o que a fez juntar todos os cacos e ser quem era agora. Os xingamentos, reprovação, desaforos, todas as vezes que ele repetiu que ela não seria capaz, que não daria conta, tudo isso foi a maior motivação para que ela continuasse e se formasse como a melhor da sua turma. Mas, infelizmente, por mais que se esforçasse, por mais que alcançasse todos seus objetivos, no fundo, bem lá no fundo, só queria que seu pai repousasse os seus olhos com orgulho sobre ela, da mesma forma que era com Neji. E tem mais, se parar para pensar que abriu mão do seu primeiro e único amor, Naruto Uzumaki, pelo seu sonho profissional e agora não poder ter nenhum dos dois... Isso não era bem um pouco justo. Nem um pouco.

...

Em seu quarto o Uchiha refletia sobre a cena acompanhada alguns minutos antes. Independente do seu ciúme que, às vezes julgava como bobo e outras vezes realmente plausível, já que sua "rival" era a única mulher que Naruto sempre falava na época que eles eram héteros e amigos. Praticamente, não dava para odiá-la, pelo simples motivo que ao lembrar dos olhos azuis como o céu do meio dia do Uzumaki brilhando ao falar da Hyūga, o moreno compreendia que sim, ela era especial para o seu esposo. A lembrança dela sempre o deixou feliz e Naruto feliz, significa o sol brilhando em toda sua majestade. No final das contas, o amor é sobre amar e ver outro bem. E Hinata era uma boa mulher, uma verdade irrefutável, linda também, outra verdade; era uma combinação perigosa, ainda mais que existia esse respeito, carinho, apreço entre ambos. Contudo, mesmo assim, como todo perigo que a azulada representava ao seu casamento, ele não conseguia odiá-la, porém odiava a situação que se encontrava. Principalmente o medo de estar sobrando igual aquele último bombom que ninguém quer e fica largado dentro da caixa.

Reflexivo, se permitia pensar de pé, diante a enorme janela do seu quarto que ficava a três andares do jardim. Ele se perdia olhando para o horizonte tentando assimilar o porque estava sentindo a dor daquela mulher, a dor da sua rival. A empatia é a capacidade que temos de se pôr no lugar do próximo, e sim, Sasuke conseguia se enxergar com clareza nela. Realmente não era só amor que ambos tinham pelo Naruto em comum, não era somente seus jeitos metódicos, organizados, perfeccionistas; também eram pais, ou melhor, um pai cuzão. E Sasuke que sempre viveu à sombra do filho primogênito, o mais talentoso, o mais educado, o mais inteligente, o hétero e atualmente o filho capaz de dar um herdeiro para os Uchihas, Itachi, o preferido, sempre amou seu irmão, mas por um bom tempo traçou uma competição apenas para ter o mesmo olhar que Fugaku tinha com o mais velho sobre si. No final das contas, Sasuke e Hinata buscavam a mesma coisa, apesar de não declarem em palavras, eles buscavam por aceitação e aprovação. Merda, por qual motivo pensava tanto nisso? O homem balançou a cabeça em negação tentando limpar a sua mente cheia e preocupada. Esse negócio de se importar com ela, não, não mesmo. Ela que resolva seus problemas.

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